O bicudo é a principal praga na cultura do algodão no Brasil. Mesmo assim, estamos em primeiro lugar no ranking de produtividade em sequeiro (ABRAPA, 2020). Entretanto, o manejo desta praga se torna oneroso e há necessidade de grandes esforços para reduzir a utilização de inseticidas, que ocorrem em torno de 15-20 aplicações.safra-1.

No Brasil, o controle de bicudo e outras pragas na cultura do algodão, representam 31% do custo de produção. Esta situação se agrava, especialmente no Cerrado, onde o plantio do algodoeiro representa 90% do algodão brasileiro (IMAMT, 2015).

Comparando-se com outras pragas primárias, como percevejos e lagartas, as aplicações se mantém entre 2-5 por safra, conforme visto na Figura 1:

Figura 1. Número de pulverizações das principais pragas do algodão

Fonte: EMBRAPA (2018).

Causas de sobrevivência: Alimento e abrigo todo o ano.

  • Plantas de algodoeiro resistentes a herbicidas;
  • 2 cultivos.ano-1;
  • Dificuldade de o inseticida atingir o alvo;
  • Refúgio + vegetação nativa.

Causa de inúmeras aplicações

O principal gargalo deste manejo é que o controle químico só atinge o adulto. É a única fase de vida do inseto na qual ele fica exposto a ação do inseticida. As demais fases de desenvolvimento da praga estão protegidas dentro do botão floral, onde a tecnologia de aplicação não é capaz de atingir.

Figura 2. Larvas e adultos do bicudo.

Mesmo que ocorra eficiência no controle dos adultos, as fêmeas depositam entre 10-15 ovos.dia-1 (EMBRAPA, 2016). Uma nova geração da praga se desenvolverá dentro das estruturas reprodutivas da planta de algodão, alimentando-se e se preparando para se tornar adulto. Esta nova geração causará surtos na lavoura em menos de 15 dias. A necessidade da entrada de um novo inseticida é fundamental para controle da praga, que pode atingir 70% de perdas de produção em apenas 1 safra (EMBRAPA, 2018).

Custos

As aplicações podem ser superiores a 20 em situações mais graves, tornando-se inviáveis economicamente. Os custos podem ultrapassar US$200.ha-1. Considerando uma produção de US$2.300.ha-1, as somas de prejuízos correspondem por cerca de 10% da produção (EMBRAPA, 2018). Como mostra a Figura 3, os custos das aplicações são altamente elevados para que as perdas sejam reduzidas.

Figura 3. Demonstração dos custos e perdas por hectare.

Fonte: EMBRAPA (2018).

Custo médio da última safra – IMEA e CONAB, 2020.

O custo com inseticidas (especialmente bicudo) é cerca de 21% do custo variável da lavoura de algodão no MT (IMEA, 2020). As medidas complementares para controle de bicuda são: destruição de restos culturais e plantas voluntárias de algodoeiro, instalação de TMB (tubo mata bicudo) e uso de inseticidas na desfolha. São ferramentas fundamentais para reduzir a população desta praga.

A perda ocasionada por cada bicudo é de 3-15 arrobas.ha-1 (há perdas mesmo com controle pelo fato da larva ocorrer no botão floral). Contabilizando os custos com o controle + as perdas, soma-se um valor médio de R$ 3.108,6 ha.ano-1(dados do IMEA, 2020). Referindo ao estado de Mato Grosso, maior produtor nacional de algodão, com uma área estimada em 1.170.000 hectares (safra 2019/2020) (CONAB, 2020), os prejuízos são superiores a R$ 3,6 bilhões.ano-1.

Agora mencionando todo o país, com uma área de 1.671.000 hectares (safra 2019/2020) (CONAB, 2020), os prejuízos com o bicudo são superiores a R$ 5 bilhões.ano-1. As perdas do bicudo são calculadas através do valor da pluma R$ 95,00 para Mato Grosso (21/05/2020). Considerando perdas de 7 arrobas.ha-1, os danos causados pela praga são de R$ 665,00 ha-1.

Tabela 1. Custos de produção e custos com controle da praga.

Adaptado: IMEA (2020).

Produção de pluma

A produção de pluma no estado do Mato Grosso, desde a safra de 1995-2020, oscila de forma acentuada, porém crescente entre os anos citados.

Figura 4. Oscilação na produção de pluma no estado do Mato Grosso – RS.

Fonte: CONAB (2020).

Um dos motivos para esta instabilidade na produção, além da menor quantidade de chuvas em algumas safras, é a infestação do bicudo. As maçãs servem de abrigo para todas as fases de desenvolvimento da praga, que vão sendo liberados conforme tornam-se em adultos. Quando há a presença de larva, as pétalas não se abrem e apresentam aspecto de balão.

Figura 5. Maçã com fibra e sementes destruídas e flores com aspecto de “balão”.

Fotos: EMBRAPA (2007).

Para ratificarmos ainda mais que a produção da pluma está relacionada com a infestação de bicudo, na Figura 6, observamos a redução das infestações da praga, a partir da safra 14/15, de maneira que se comparamos com a Figura 4, vimos que há uma crescente de produção no maior Estado produtor, MT. Esse fato se justifica através de um manejo mais consolidado e integrado para controle do bicudo.

Figura 6. Incidência da praga nos principais estados produtores de algodão.

Fonte: EMBRAPA (2018).


Considerações finais

O bicudo é a praga com maior potencial de danos na cultura do algodão, atingindo perdas de 70% em uma única safra. Os custos giram em torno de US$200.ha-1 para que as perdas não atinjam valores elevados.

Comparando com as outras pragas, o bicudo passa a maior parte do seu ciclo no interior do botão floral, dificultando seu controle e acarretando em prejuízos. Somente na sua fase adulta que é liberado e pode ser atingido pelo inseticida.

As medidas de controle do bicudo são de ordem coletiva e devem ser realizadas durante todo o ano. Para reduzir o número de aplicações, somente o conjunto de medidas como uso de armadilhas, eliminação de tigueras (plantas voluntárias de algodão), vazio sanitário de 60 dias e o monitoramento, poderão reduzir os custos dessa praga devastadora na cultura do algodão.

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Referências

ABRAPA. Associação Brasileira dos Produtores de Algodão. Algodão no Brasil. Dados do Conab, 2020

IMEA. Custo de produção do algodão, safra 2020/2021.

MIRANDA, J. E.; RODRIGUES, SMM. Manejo do bicudo-do-algodoeiro em áreas de agricultura intensiva. Embrapa Algodão-Circular Técnica (INFOTECA-E), 2016.

RODRIGUES, Sandra Maria Morais; MIRANDA, José Ednilson. Métodos usados no Manejo Integrado do bicudo-do-algodoeiro. O bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis BOH., 1843) nos cerrados brasileiros: Biologia e medidas, p. 92, 2015.

RODRIGUES, Sandra Maria Morais; MIRANDA, José Ednilson. O tamanho do prejuízo do bicudo e a necessidade do monitoramento. Embrapa. 2018

Redação: Equipe Mais Soja.