O papuã (Brachiaria plantaginea), também conhecido como capim-marmelada é uma espécie anual, pertencente à família Poaceae, considerada uma importante gramínea invasoras da cultura da soja. Sua reprodução ocorre principalmente por meio de sementes, podendo se manter viável no solo por vários anos. Trata-se de uma planta daninha dependente de umidade no solo para que ocorra seu desenvolvimento, apresentando maior fluxo de germinação durante o período de verão e, desenvolvendo-se pouco nos meses de inverno (Gazziero et al., 2015). Conforme destacam Brighenti & Oliveira (2011), o capim-marmelada é uma espécie daninha frequentemente encontradas em culturas anuais e perenes no Brasil.
O capim-marmelada é uma espécie originária da África tropical e da América tropical, possui colmos decumbentes que enraízam facilmente e folhas glabras que produzem uma forragem suculenta. Essa planta daninha apresenta ampla adaptabilidade a diferentes tipos de solo que possuem umidade mínima para seu desenvolvimento, embora prefiram solos férteis. Seu florescimento ocorre no final do verão e sua frutificação no início do outono e, de maneira geral, produz uma quantidade considerável de sementes (Esalq – USP).
Figura 1. Capim-marmelada (Brachiaria plantaginea).
Conforme Gazziero et al. (2015), a B. plantaginea é uma planta semi-ereta, que possui grande perfilhamento e formação de touceiras, as folhas possuem nervuras paralelas, com margens levemente serradas ou onduladas, de coloração verde intensa, brilhante, e superfície lisa. As inflorescências apresentam diversas espiguetas inseridas de forma alternada, ovalada e sem pelos com coloração verde-amarelada. Os autores destacam que durante as décadas de 1970 e 1980, essa planta daninha foi intensamente selecionada pelas opções de controle existentes na época, atualmente, infestações não controladas dessa espécie podem inviabilizar a colheita da soja.
Além disso, de acordo com Heap (2024), o papuã possui resistência aos herbicidas inibidores da ACCase, do grupo 1 – Legado A (HRAC), com biótipos resistentes a butroxidim, diclofop-metil, fenaxaprop-etil, fluazifop-butil, haloxifop-metil, propaquizafop, quizalofop-etil e setoxidim, o caso de resistência foi registrado em 1997 na cultura da soja. Ao avaliar a infestação de dicotiledôneas e papuã na cultura da soja, Cunha et al. (1997), observaram que a infestação dessas espécies provocara a redução entre 57% e 60% na produtividade da cultura.
De acordo com estudos realizados por Konzen et al., (2021), avaliando a habilidade competitiva, períodos de interferência e nível de dano econômico de plantas daninhas na cultura da soja, constatou-se que o controle de papuã deve ser realizado até os 41 dias após a emergência (DAE), sendo o período anterior a interferência (PAI) de 26 dias após a emergência da cultura e, o intervalo entre 26 e 41 DAE correspondente ao período crítico de prevenção à interferência (PCPI).
O período total de prevenção a interferência é de 41 dias, nesse sentido, as plantas daninhas emergidas após esse período não têm potencial em interferir de forma significativa na produtividade da soja. Foi observada uma redução na produtividade de grãos na cultura da soja de 35,71%, equivalente a 2.250 Kg ha-1 durante o ciclo de desenvolvimento da cultura em que permaneceu infestada pelo capim-marmelada.
Figura 2. Produtividade de grãos da soja (Kg ha-1) cultivar Brasmax Elite, em função dos períodos de convivência (●) e de controle (○) de papuã (Urochloa plantaginea). PAI: período anterior a interferência; PTPI: período total de prevenção a interferência e PCPI: período crítico de prevenção a interferência. Barras verticais correspondem ao desvio padrão da amostra. * Significativo a p≤0,05.
Pesquisas realizadas por Fleck et al. (2008), avaliando o controle de papuã em soja em função da dose (96 e 60 g ha-1) e da época de aplicação do herbicida clethodim, verificaram que o controle do papuã realizado 35 DAE, apresentou baixa eficiência, fato atribuído ao estádio avançado de desenvolvimento das plantas daninhas, que apresentavam cerca de 4 ou mais afilhos.
Observou-se ainda, que uma única aplicação do herbicida na dose recomendada ou em dose reduzida, realizada entre os estádios vegetativos V1 e V6 da soja, proporcionou o controle completo de papuã, até mesmo de plantas que possuíam 9 afilhos, não interferindo na produtividade da cultura. A época de controle do papuã na cultura soja influenciou nas perdas de produtividade, sendo que as maiores produtividades foram obtidas quando o controle foi realizado entre 16 (3-4 folhas trifolioladas) e 22 DAE (4-6 folhas trifolioladas) (Fleck et al., 2008).
Figura 3. Redução de legumes produtivos por planta e produtividade de grãos de soja em relação à testemunha sem papuã (Brachiaria plantaginea), em função de épocas de controle de papuã, na média de duas doses de herbicida clethodim. EEA/UFRGS, Eldorado do Sul-RS, 2005/06. Os pontos representam os valores médios e as barras, os respectivos desvios-padrão da média.
Além disso, ao avaliar a interferência e o nível de dano econômico de papuã em soja, um estudo conduzido por Rossetto et al. (2019), observou que o nível de dano econômico em diferentes cultivares e níveis de infestações variou entre 0,96 e 2,16 plantas m2. Os autores destacam que o aumento na produtividade de grãos de soja, no preço da saca de soja, na eficiência do herbicida e a redução no custo de controle, causa a redução dos valores do nível de dano econômico (NDE), justificando a realização da implementação de estratégias de controle da espécie, mesmo quando em baixas densidades na lavoura.
Conforme destacam Gazziero et al. (2015), a adoção do sistema de semeadura direta é considerada uma das principais ferramentas que contribuem para a redução de infestações de papuã na lavoura. O emprego de herbicidas alternativos que possuem ação total, durante o período invernal no sistema de plantio direto em áreas infestadas com papuã/capim-marmelada resistente aos herbicidas inibidores da ACCase, constitui uma estratégia de manejo. Além disso, o uso do herbicida glifosato em pós-emergência é uma ferramenta indispensável no controle de espécies como o papuã (Carvalho et al., 2016).
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Referências:
BRIGHENTI, A. M.; OLIVEIRA, M. F. BIOLOGIA DE PLANTAS DANINHAS. Biologia e Manejo de Plantas Daninhas, Omnipax, cap. 1, p. 348. Curitiba – PR, 2011. Disponível em: < https://www2.ufpel.edu.br/prg/sisbi/bibct/acervo/biologia_e_manejo_de_plantas_daninhas.pdf >, acesso em: 03/01/2024.
CARVALHO, J. C. et al. ASPECTOS DE RESISTÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS A HERBICIDAS. Ação Brasileira de Ação à Resistência de Plantas daninhas aos Herbicidas (HRAC-BR), ed. 4. Piracicaba – ESALQ, 2016. Disponível em: < https://upherb.com.br/ebook/livro_Hrac.pdf >, acesso em: 03/01/2024.
CUNHA, M. M. et al. INTERFERÊNCIA DE PAPUÃ (Brachiaria plantaginea (Linck) Hitchc.) E DE ESPÉCIES DANINHAS DICOTILEDÔNEAS EM SOJA. Pesquisa Agropecuária Gaúcha, v. 3, n. 2, 1997. Disponível em: < http://revistapag.agricultura.rs.gov.br/ojs/index.php/revistapag/article/view/536 >, acesso em: 03/01/2024.
ESALQ-USP. DICIONÁRIO TERMINOLÓGICO BILINGUE – PLANTAS. Esalq-USP. Disponível em: < https://www.esalq.usp.br/d-plant/node/624 >, acesso em: 03/01/2024.
FLECK, N. G. et al. CONTROLE DE PAPUÃ (Brachiaria plantaginea) EM SOJA EM FUNÇÃO DA DOSE E DA ÉPOCA DE APLICAÇÃO DO HERBICIDA CLETHODIM. Planta Daninha, v. 26, n. 3, p. 375-383. Viçosa – MG, 2008. Disponível em: < https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/77871/000643602.pdf?sequence=1&isAllowed=y >, acesso em: 03/01/2024.
GAZZIERO, D. L. P. et al. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE PLANTAS DANINHAS DA CULTURA DA SOJA. Embrapa, documentos, 274. Londrina – PR, 2015. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/126196/1/manual-de-identificacao-de-plantas-daninhas.pdf >, acesso em: 03/01/2024.
HEAP, I. The INTERNATIONAL HERBICIDE-RESISTANT WEED DATABASE. Online, 2024. Disponível em: < https://weedscience.org/Pages/Species.aspx >, acesso em: 03/01/2024.
KONZEN, A. et al. HABILIDADE COMPETITIVA, PERÍODOS DE INTERFERÊNCIA E NÍVEL DE DANO ECONÔMICO DE PLANTAS DANINHAS NA CULTURA DA SOJA. Universidade Federal da Fronteira Sul, Programa de pós-graduação em ciência e tecnologia ambiental, Dissertação de Mestrado. Erechim – RS, 2021. Disponível em: < https://rd.uffs.edu.br/bitstream/prefix/5220/1/KONZEN.pdf >, acesso em: 03/01/2024.
ROSSETO, E. R. O. et al. INTERFERÊNCIA E NÍVEL DE DANO ECONÔMICO DE PAPUÃ EM SOJA EM FUNÇÃO DE DIFERENTES CULTIVARES. Universidade Federal da Fronteira Sul, trabalho de conclusão de curso. Erechim – RS, 2019. Disponível em: < https://rd.uffs.edu.br/bitstream/prefix/4995/1/ROSSETTO.pdf >, acesso em: 03/01/2024.
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