Além de ocasionar perdas de produtividade nas culturas agrícolas, as plantas daninhas podem provocar o aumento no percentual de umidade e impureza dos grãos. Nos últimos anos, houve um aumento significativo na infestação de buva nas regiões de produção de grãos no Brasil, especialmente nos sistemas de soja-milho segunda safra e soja-pousio invernal. Recentemente, observou-se um aumento na incidência dessa planta daninha na região central do país. Três espécies de buva se destacam como infestantes nas áreas de produção de soja, todas compartilhando características morfológicas semelhantes: Conyza canadensis, Conyza bonariensis e Conyza sumatrensis (Gazziero et al., 2020).

De acordo com Rizzardi, as características distintas das inflorescências podem auxiliar na identificação das diferentes espécies do gênero. Na C. bonariensis, os ramos laterais da inflorescência se estendem a partir do ramo terminal, com as flores concentradas nas pontas dos ramos. Já na C. sumatrensis, a inflorescência assume uma forma piramidal, com uma alta densidade de pelos na haste principal. Quanto à C. canadensis, sua inflorescência também é piramidal, porém com uma densidade menor ou até mesmo ausência de pelos na haste principal.

Na C. bonariensis, o autor destaca que os ramos superiores da planta se elevam acima do topo do caule, com folhas geralmente de margens inteiras, embora possam apresentar pequenos dentes. Já na C. canadensis, a parte superior do caule forma uma grande panícula, sem que os ramos ultrapassem o topo, e as folhas têm margens finamente dentadas.

Característica gerais

De acordo com o Comitê de Ação à Resistência aos Herbicidas (HRAC-BR, 2021), a buva é uma das plantas daninhas mais encontradas no mundo, trata-se de um gênero com espécies amplamente adaptáveis, que apresentam elevada diversidade genética e a diferenciação entre as espécies é complexa. A dispersão da buva ocorre exclusivamente por meio das sementes, uma única planta pode produzir uma grande quantidade de sementes, podendo variar entre 100 e 200 mil por planta, podendo, em alguns casos, atingir mais de 300 mil sementes. Essas sementes podem ser dispersas através do vento e pelo tráfego de máquinas na lavoura.

As sementes de buva são fotoblásticas positivas, ou seja, necessitam de luz para germinar. Por isso, sua presença é mais restrita em áreas ocupadas por culturas que proporcionam boa formação de palhada, como trigo, aveia e braquiária ruziziensis. Nas áreas de pousio, as sementes de buva encontram condições favoráveis para germinação e desenvolvimento (Gazziero et al., 2015).

As sementes são pequenas, Gazziero et al. (2015) afirmam que elas pesam aproximadamente 2000 vezes menos que o peso de um grão de soja, não são dormentes e se disseminam com muita facilidade pelo vento. A buva apresenta elevada germinação no período de entressafra, momento considerado ideal para seu controle, uma vez que plantas acima de 5 a 10 cm costumam rebrotar e recuperar o desenvolvimento.  O pico de germinação dessa espécie pode variar de acordo com o regime hídrico e a temperatura. Apesar de que, tem-se observado a germinação de buva em diversas épocas do ano, mostrando estar havendo a adaptação a diferentes condições climáticas (Gazziero et al., 2020).

Danos

Conforme observado por Rizzardi, o dano causado pelas espécies de buva nas culturas é significativo. A presença de apenas uma planta por metro quadrado pode reduzir a produtividade da soja entre 240 e 720 Kg por hectare.

A presença de apenas 2,7 plantas por metro quadrado de Conyza bonariensis pode resultar em uma redução de 50% na produtividade da soja. Algumas pesquisas mostram que a presença de apenas uma planta por metro quadrado de buva pode causar uma redução de 12 a 14,6% na produtividade. No caso da cultura do milho, a ausência de controle da buva pode levar a uma redução drástica na produtividade, chegando a até 92% (HRAC-BR, 2021).

Figura 1. Interferência de buva na cultura da soja em experimentos do grupo Supra Pesquisa. Assis Chateaubriand, PR – safra 2017/2018.

Fonte: Supra Pesquisas.


Principais estratégias de manejo e controle

Devido ao aumento da incidência dessa planta daninha nas lavouras nos últimos anos, Albrecht et al. (2018) ressaltam a importância de adotar estratégias de controle voltadas para o sistema de produção como um todo. Nas regiões mais frias, ao sul do país, é recomendado um manejo eficiente das culturas de inverno para garantir que sejam colhidas “limpas”. Por outro lado, nas regiões onde o milho safrinha é cultivado, tona-se fundamental o uso de herbicidas pré-emergentes na cultura.

Nesse sentido, o emprego de herbicidas em pré-emergência das plantas daninhas desempenha um papel fundamental, especialmente na preparação para o plantio da soja. Essa prática pode ser executada por meio de diferentes estratégias de manejo, como o tratamento outonal ou antecipado, além do método conhecido como “aplique-plante” ou “plante-aplique”, visando um controle eficiente de espécies como a buva e outras plantas daninhas de folhas largas (Albrecht et al., 2020).

O Manejo Integrado de Plantas Daninhas (MIPD) surge como uma ferramenta essencial no controle efetivo dessas espécies. Danilussi et al. (2023) destacam a implementação de diversas práticas, como a rotação de culturas, o cultivo consorciado para a formação de palhada, a adoção de cultivos transgênicos e o uso consciente de herbicidas. Além disso, ressaltam a importância de evitar a disseminação das plantas daninhas por meio do tráfego de máquinas agrícolas.


Veja mais: Quais as principais diferenças entre as espécies de buva?



Referências:

ALBRECHT, A. J. P. et al. BUVA RESISTENTE A PARAQUAT: SITUAÇÃO ATUAL E PERSPECTIVAS. Revista Plantio Direto & Tecnologia Agrícola, 2018. Disponível em: < https://plantiodireto.com.br/artigos/136 >, acesso em: 05/04/2024.

ALBRECHT, L. P. et al. MANEJO DE BUVA (Conyza spp.). Comitê de Ação a Resistência aos Herbicidas, 2020. Disponível em: < https://drive.google.com/file/d/152RgIqQ95R-3QweVrh_lJVMjmjIdElxc/view?usp=sharing >, acesso em: 05/04/2024.

DANILUSSI, M. T. Y. et al. MONITORAMENTO DA BUVA RESISTENTE A PARAQUAT NO OESTE PARANAENSE. Revista Agronomia Brasileira, v. 7, 2023. Disponível em: < https://www.fcav.unesp.br/Home/ensino/departamentos/cienciasdaproducaoagricola/laboratoriodematologia-labmato/revistaagronomiabrasileira/rab2023051.pdf >,acesso em: 05/04/2024.

GAZZIERO, D. L. P. et al. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE PLANTAS DANINHAS DA CULTURA DA SOJA. Embrapa Soja, documentos, 274. Londrina – PR, 2015. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/126196/1/manual-de-identificacao-de-plantas-daninhas.pdf >, acesso em: 05/04/2024.

GAZZIERO, D. L. P. et al. PLANTAS DANINHAS E SEU CONTROLE. Tecnologias de Produção de Soja, sistema de produção, 17, cap. 11. Embrapa Soja, Londrina – PR, 2020. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/223209/1/SP-17-2020-online-1.pdf >, acesso em: 05/04/2024.

HRAC-BR. Conyza spp. (BUVA): CONHEÇA AS CARACTERÍSTICAS DA PLANTA DANINHA. Comitê de Ação à Resistência aos Herbicidas, HRAC-BR, 2021. Disponível em: < https://www.hrac-br.org/post/conyza-spp-buva-conhe%C3%A7a-as-caracter%C3%ADsticas-da-planta-daninha >, acesso em: 05/04/2024.

RIZZARDI, M. A. PLANTAS DANINHAS: BUVA. Up. Herb, Academia das Plantas Daninhas. Disponível em: < https://upherb.com.br/int/buva >, acesso em: 05/04/2024.

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