A calagem é essencial para elevar o pH e aumentar a disponibilidade dos nutrientes no solo. Além disso, solos com pH baixo tendem a apresentar maior disponibilidade de alumínio tóxico na solução do solo, o que limita o crescimento radicular, afetando o desenvolvimento das plantas.
Além de definir a necessidade de calagem, é necessário estabelecer o calcário a ser utilizado. Entre calcários calcíticos, dolomíticos e magnesianos, há variação nos teores de Cálcio (Ca) e Magnésio (Mg) nesses corretivos, sendo essencial atentar para concentração desses nutrientes no solo, a fim de aproveitar a calagem para também corrigir os níveis de Ca e Mg no solo.
No entanto, por apresentar baixa mobilidade no solo, a ação do calcário para correção do pH do solo limita-se as camadas superficiais. Nesse sentido, o gesso agrícola entra como um complemento, atuando de forma conjunta ao calcário para atenuar os efeitos de toxicidade do alumínio tóxico e fornecer nutrientes às camadas subsuperficiais do solo.
O gesso neutraliza o alumínio, mas não possui a habilidade de alterar o pH do solo. O gesso agrícola elimina bloqueios químicos ao aprofundamento das raízes, e o acesso à água presente nas camadas mais profundas do solo (Casale, 2013), o que o torna popularmente conhecido como “condicionador de solo” por atuar na melhoria do perfil do solo.
Calcário e gesso
Quando utilizado de forma conjunta com o calcário, o gesso agrícola possibilita a construção e manutenção da fertilidade dos solos, trazendo ganhos significativos na qualidade e produtividade das lavouras. Entretanto, alguns cuidados necessitam ser adotados aos utilizar esses dois corretivos juntos.
Segundo Brasil; Lima; Cravo (2020), deve-se evitar a aplicação do calcário e do gesso agrícola ao mesmo tempo. Nesse contexto, haverá redução substancial do efeito do calcário como corretivo da acidez, já que a rápida dissolução do gesso irá saturar a solução do solo com cálcio, reduzindo ainda mais o tempo de hidrólise do corretivo.
Também não é recomendável, efetuar a aplicação de gesso antes do calcário, pelo fato de o gesso dissociar-se mais rapidamente e favorecer a retenção de Cálcio de sítios de troca, além de manter grande quantidade do nutriente na solução do solo na forma de íon Ca2+ (Brasil; Lima; Cravo, 2020).
Brasil; Lima; Cravo (2020) destacam que a aplicação do calcário deve ser realizada de 60 a 90 dias antes da aplicação do gesso, desde que haja umidade suficiente no solo. Assim, o Ca2+ do carbonato de cálcio e magnésio (CaCO3. MgCO3) do calcário dolomítico irá ocupar a maior parte dos coloides, havendo aumento do pH do solo com a correção da acidez pelo íon carbonato (CO3 2-).
Após essas reações, na aplicação do gesso, tanto o Ca2+, como o SO4 2-, ficarão em maior quantidade na solução do solo. Como houve a elevação anterior do pH pelo corretivo, ocorrerá menor adsorção de sulfato, que poderá lixiviar, carregando consigo notadamente Ca e Mg que se encontrem dissolvidos na solução do solo para as camadas mais profundas (Brasil; Lima; Cravo, 2020).
Com isso, a gessagem quando precedida pela calagem, possibilita a melhoria das condições químicas e nutricionais do solo, nas camadas mais profundas do perfil, contribuindo para o aumento do enraizamento das plantas, e tolerância a períodos de déficit hídrico.
Veja mais: O que acontece com a planta sob déficit hídrico?
Referências:
BRASIL, E. C.; LIMA, E. V.; CRAVO, M. S. USO DO GESSO NA AGRICULTURA. Recomendações de calagem e adubação para o estado do Pará. 2. ed. rev. e atual. Brasília, DF: Embrapa, 2020. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/handle/doc/1127247 >, acesso em: 23/05/2024.
CASALE, H. GESSO AGRÍCOLA LIXIVIA NUTRIENTES: HÁ RAZÕES PARA PREOCUPAÇÃO? visão agrícola n. 12, 2013. Disponível em: < https://www.esalq.usp.br/visaoagricola/sites/default/files/va12-instalacao-da-lavoura02.pdf >, acesso em: 23/05/2024.