O milho (Zea mays) destaca-se como uma das principais culturas de verão dos sistemas de produção agrícola do país, apresentando um papel importante na rotação de culturas no manejo de pragas, doenças e plantas daninhas. Assim como nas demais culturas, algumas doenças podem surgir durante o ciclo de desenvolvimento da cultura, resultando em perdas de produtividade e afetando a qualidade dos grãos e sementes produzidos.

Uma dessas doenças é o carvão comum do milho, provocada pelo fungo Ustilago maydis, o carvão comum está amplamente distribuído em todas as regiões de cultivo de milho no país, contudo, essa doença não acarreta prejuízos econômicos consideráveis (Pereira, 1997).

É considerada uma doença de importância secundária, sendo mais frequentemente observada em plantas que enfrentam condições de estresse (Santos & Mendes). Apesar de apresentar uma incidência relativamente baixa na cultura do milho, o carvão-do-milho destaca-se devido às suas características visuais distintas. No lugar dos grãos, é possível observar as estruturas do fungo, que formam uma massa negra pulverulenta, por isso o nome carvão (Silva et al., 2016).

Figura 1. Carvão da espiga (Ustilago maydis).

Foto: Nicésio Filadelfo Janssen de Almeida Pinto.

Os sintomas característicos desta doença são as galhas, conforme destaca Fernandes (1985), elas podem surgir em diversas partes da planta onde tecidos embrionários estão expostos, tais como caules, folhas, gemas axilares, espigas e pendões. Primeiramente, essas galhas apresentam uma cobertura brilhante, mas à medida que a doença avança, o interior dessas estruturas se converte em uma massa de esporos de coloração preta, que é liberada quando o tecido se rompe.

Figura 2. Aspecto de carvão do milho causado por U. maydis. Na parte superior da espiga observa-se o início da formação de galhas. Na parte inferior, o tamanho exagerado dos grãos é devido ao crescimento anormal das células por causa da infecção pelo fungo (à esquerda) e Sintomas do carvão do milho (à direita).

Fonte: Silva et al. (2016).

De acordo com Silva et al. (2016), o Ustilago maydis pertence à classe dos basidiomicetos, é um fungo biotrófico, depende, em pelo menos uma fase do seu ciclo, de tecido vivo para obter os nutrientes e se desenvolver, no entanto, possui uma fase saprófita, a qual consegue crescer em meio artificial. Os teliósporos possuem uma forma oval, esférica ou elipsoidal e apresentam equinulações em sua superfície, que são pequenos espinhos, e sua coloração varia de marrom a preto.

O ciclo de vida do fungo Ustilago maydis é composto por três estádios, de acordo com Pataky & Snetselaar (2006), inicialmente os teliósporos diploides são formados nas galhas do hospedeiro e servem como estruturas de resistência. Quando o teliósporo germina, ele forma um promicélio septado, passa pelo processo de meiose e resulta na formação de basidiósporos, que são os esporídios haploides. Posteriormente, os basidiósporos se fragmentam e podem cruzar, originando hifas dicarióticas, esta fase é caracterizada como infectiva, ou seja, patogênica, pois as células presentes nesse estádio têm a capacidade de infectar o milho.



Geralmente as galhas se tornam visíveis de 10 a 14 dias após a infecção, entre 21 e 23 dias após a infecção, a periderme se rompe e as galhas se transformam em uma massa de teliósporos de aparência desagradável e úmida, à medida que se desidratam, as galhas adquirem uma aparência fuliginosa e pulverulenta.  As espécies hospedeiras do fungo são o milho e o teosinto, o número, tamanho e localização das galhas dependem da idade das plantas no momento da infecção (Pataky & Snetselaar, 2006).

As condições favoráveis para o desenvolvimento da doença são altas temperaturas, entre 26°C e 34°C, baixa umidade do solo e plantas de milho com deficiência nutricional, assim como a ocorrência de déficits hídricos favorecem a incidência da doença (Pinto et al., 2006). A doença afeta principalmente as variedades de polinização aberta (VPA), que são mais suscetíveis ao fungo. Em variedades de milho de polinização aberta, relatos indicam perdas de produtividade de até 10% e uma incidência que pode superar 75% (Silva et al., 2016).

O controle do carvão do milho deve ser fundamentado em boas práticas agrícolas, visando evitar situações de estresse hídrico e a adubação com altas doses de nitrogênio. Além disso, é recomendado que realize a eliminação das plantas contaminadas, pois é fonte de inóculo. É importante ressaltar que não há produtos registrados no Ministério da Agricultura para o controle do carvão do milho. Nesse sentido, a resistência genética é uma opção recomendada, embora ainda pouco explorada nas cultivares comerciais.

Outras medidas preventivas incluem o uso adequado de cobertura do solo, a rotação de culturas, a minimização de danos mecânicos e o controle de lagartas nas espigas, todas essas estratégias contribuindo para a redução da incidência da doença (Silva et al., 2016).


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Referências:

FERNANDES, F. T. MILHO. Doenças de Plantas III, Informações Agropecuárias. Belo Horizonte – MG, 1985. Disponível em: < https://www.alice.cnptia.embrapa.br/alice/bitstream/doc/476414/1/Milhodoencas.pdf >, acesso em: 12/09/2023.

PATAKY, J.; SNETSELAAR, K. CARVÃO COMUM DO MILHO (BOLHA DO MILHO) (MORRÃO DO MILHO, PT). 2006. Common smut of corn. Portuguese translation by Nilceu R.X. de Nazareno, 2013. The Plant Health Instructor. Disponível em: < https://www.apsnet.org/edcenter/disandpath/fungalbasidio/pdlessons/Pages/CornSmutPort.aspx >, acesso em: 12/09/2023.

PEREIRA, O. A. P. DOENÇAS DO MILHO. Manual de Fitopatologia: Doenças de plantas cultivadas, v. 2, editora Ceres. São Paulo – SP, 1997. Disponível em: < https://ppgfito.ufersa.edu.br/wp-content/uploads/sites/45/2015/02/Livro-Manual-de-Fitopatologia-vol.2.pdf >, acesso em: 12/09/2023.

PINTO, N. F. J. A. et al. PRINCIPAIS DOENÇAS DO MILHO. Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto, Informe Agropecuário, v. 27, n. 233, p. 82-94. Belo Horizonte – MG, 2006. Disponível em: < https://core.ac.uk/download/pdf/45506508.pdf >, acesso em: 12/09/2023.

SANTOS, C. E. N.; MENDES, M. A. S. DOENÇAS DO MILHO: Ustilago maydis. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Agrofit. Disponível em: < https://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons >, acesso em: 12/09/2023.

SILVA, D. D. et al. CARVÃO-COMUM-DO-MILHO NO BRASIL: CONHEÇA ESTA DOENÇA. Embrapa, Circular técnica 222, Sete Lagoas – MG, 2016. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/158285/1/circ-222.pdf >, acesso em: 12/09/2023.

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