O coeficiente fototérmico (Q, MJ m-2 d-1 °C-1) é calculado pela divisão entre a radiação solar incidente e a temperatura média do ar (após subtrair a temperatura base, Tb).
Na prática, o coeficiente fototérmico (Q) integra os efeitos da radiação solar e da temperatura no crescimento e desenvolvimento vegetal durante os estágios críticos da formação dos componentes de produtividade (Fischer, 1985).
Para calcular Q em soja, assume-se uma Tb de 7,6 °C e 0 °C para as fases vegetativa e reprodutiva, respectivamente (Setiyono et al., 2007).
Relações entre produtividade de grãos e Q durante estágios-chave para determinação dos componentes de produtividade já foram relatados para as culturas do trigo, arroz e Cicer arietinum (Fischer, 1985; Islam & Morison, 1992; Sadras et al., 2015).
Recentemente, um estudo conduzido em ambiente subtropical relatou pela primeira vez a relação entre Q e potencial de produtividade na cultura da soja (Figura 1) (Zanon et al., 2016).
Os experimentos foram conduzidos com irrigação suplementar, sem estresses bióticos e sem restrição nutricional. Neste caso, verificou-se que a perda de rendimento pelo atraso na data de semeadura está associada com diferenças nos valores de Q nos estágios críticos de determinação da produtividade da soja (R3-R7).
Os valores de Q decrescem linearmente com o atraso na semeadura e são mais elevados em GMRs menores que 6.9 em semeaduras de final de setembro e outubro
Figura 1. Relação entre a produtividade de grãos de soja e o coeficiente fototérmico (Q) entre os estágios R3 e R7 em cultivo de sequeiro (círculo amarelo) e irrigado (círculo azul) (A) e coeficiente fototérmico (Q) entre R3 e R7 em função da data de semeadura em cultivares precoces (GMR 4.8 – 5.4, losangos verdes), intermediário (GMR 5.5 – 6.9, círculos vermelhos) e tardios (GMR 7.0 – 8.2, triângulos amarelos) (B). Os dados foram coletados em quatro safras agrícolas (de 2011/12 a 2014/15). As linhas de regressão são apresentadas apenas quando foram significativas a 5% de probabilidade.
Existe uma forte relação entre o potencial produtividade (PP) e o coeficiente fototérmico, estimado para 32 locais do Brasil (Figura 2), em que o incremento de produtividade está relacionado a maior incidência de radiação na região Sul do país.
Os maiores valores de PP estão nas latitudes mais ao Sul, em que esta relação pode ser explicada pelo coeficiente fototérmico, por haver maior incidência de radiação solar quanto mais ao Sul do Brasil.
Associada a essa condição, o ajuste de grupo de maturação e data de semeadura pode auxiliar no aumento do potencial produtivo em função da região, uma vez que o momento de máxima área foliar pode ser ajustado com o momento de maior disponibilidade de radiação solar, o qual ocorre ao final do mês de dezembro.
Figura 2. Relação entre a produtividade de grãos e o coefi ciente fototérmico para diferentes locais do Brasil. Círculo vermelho Cruz Alta – Rio Grande do Sul, Brasil (latitude 28ºS) e círculo azul Baixa Grande do Ribeiro, Piauí, Brasil (latitude 7ºS).
Em síntese, a análise do coeficiente fototérmico na soja revela-se fundamental para a compreensão das respostas da planta às condições ambientais, desempenhando um papel crucial na modelagem de seu crescimento e desenvolvimento. Essa compreensão mais profunda pode orientar estratégias de manejo mais eficazes, possibilitando uma produção agrícola mais resiliente e sustentável em face das variações climáticas e dos desafios futuros.
Referências Bibliográficas
ECOFISIOLOGIA DA SOJA: VISANDO ALTAS PRODUTIVIDADES / EDUARDO LAGO TAGLIAPIETRA… [ET AL.]. 2. ED. SANTA MARIA: [S. N.], 2022