Autores: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum e Jaciele Moreira.

Depois de o primeiro mês cotado atingir US$ 10,87/bushel no dia 26/10, seu mais alto nível em mais de três anos, as cotações da soja recuaram e fecharam a quinta-feira (29), em US$ 10,51/bushel, contra US$ 10,73 uma semana antes.

A colheita nos EUA avança firme, com a mesma tendo atingido a 83% da área até o dia 25/10, contra a média histórica de 73% para esta época do ano.

Por sua vez, os embarques estadunidenses de soja, na semana encerrada em 22/10, chegaram a 2,7 milhões de toneladas, acumulando um total de 14,3 milhões de toneladas no atual ano comercial 2020/21, iniciado em 1º de setembro. Este volume representa 78% a mais do que o embarcado no mesmo período do ano anterior.

Mas o principal motivo do recuo nas cotações foi o forte tombo nos valores do petróleo (atingiu seu nível mínimo em quatro meses na Bolsa de Nova York), motivado pelo recrudescimento da segunda onda de contágio da Covid-19, na Europa em especial. A nova paralisação das economias europeias, com tendência a se estender para outras partes do mundo, começa a preocupar novamente os mercados. Na Alemanha, a Bolsa de Valores registrou seu pior desempenho desde junho passado. Novos lockdowns nestes países começaram a ser praticados nesta semana.

Esta situação provocou um movimento generalizado de venda de contratos de commodities já que os mesmos estão particularmente em mãos dos Fundos especulativos. Soma-se a isso as eleições presidenciais nos EUA, previstas para o dia 03/11, e a possibilidade concreta de Donald Trump perdê-la, não se reelegendo, fato que mudaria a política econômica estadunidense.

Em relação ao petróleo, membros da OPEP e Rússia, diante da segunda onda da pandemia, sinalizam preocupação quanto a possibilidade de não haver demanda para toda a produção do “ouro negro” que está sendo realizada no momento.

Esta instabilidade acabou elevando o valor do dólar, como valor refúgio, desvalorizando ainda mais as demais moedas mundiais, dentre elas o Real (a que mais se desvalorizou neste ano). No caso da moeda brasileira, a mesma se aproximou dos R$ 5,80 por dólar no final da semana, valor que não era visto desde maio passado.

Pelo lado da demanda mundial, a China aponta que importou 51,4% a mais de soja do Brasil em setembro, em relação ao mesmo mês do ano anterior. O total importado pela China em setembro foi de 7,25 milhões de toneladas de soja brasileira. No total, as compras de soja em setembro somaram 9,8 milhões de toneladas, ou seja, 19% sobre o total adquirido um ano antes. Esta forte demanda chinesa, como já é sabido, se dá em função de que as indústrias esmagadoras da China estarem produzindo em grandes volumes, já que o plantel suinícola local, após a peste suína africana, vem se recompondo rapidamente neste ano de 2020.

Por sua vez, os estoques de soja na China recuaram para 7 milhões de toneladas na semana do 18/10, após atingirem o pico de 8 milhões de toneladas no início de setembro. Já os estoques de farelo de soja estavam em 937.900 toneladas, contra o recorde de 1,27 milhão de toneladas no início de setembro.



Aqui no Brasil, diante de um câmbio que se aproximou de R$ 5,80 por dólar, os preços continuaram subindo. Além disso, a escassez de soja disponível continua pressionando o mercado, embora as indústrias moageiras informem que não há falta de produto em seus estoques.

Assim, o preço médio no balcão gaúcho fechou a última semana de outubro em R$ 156,67/saco, enquanto nas demais praças nacionais os preços registraram R$ 146,00 no Paraná; R$ 159,00 em Campo Novo do Parecis (MT); R$ 172,00 no CIF Maracaju (MS); R$ 150,00/saco em Rio Verde (GO) e Luís Eduardo Magalhães (BA).

Além do câmbio e o baixo excedente interno, o plantio tardio no Centro-Oeste, devido a falta de chuvas, vem provocando preocupações no mercado e mantendo os preços aquecidos. As indústrias de ração indicam não possuírem muitos estoques, deixando o setor das carnes em alerta quanto a disponibilidade do insumo no primeiro bimestre de 2021, já que a nova colheita será atrasada. Neste momento, o Indicador de preços do CEPEA/ESALQ, que toma por base os preços do Paraná, aponta que na semana do 16 ao 23 de outubro o preço médio ficou em R$ 164,50/saco, sendo a segunda maior média real da série histórica, ficando abaixo apenas do preço verificado em outubro de 2002.

Dito isso, o plantio da soja no Brasil chegou a 23% da área esperada no dia 26/10. O mesmo continua bastante atrasado, havendo expectativas de chuvas importantes nas regiões de semeadura da oleaginosa a partir do dia 10/11. O Estado que mais avançou no plantio da soja foi o Paraná, alcançando 61% da área esperada, porém, são necessárias chuvas importantes nos próximos dias para consolidar a germinação do que foi plantado. (cf. Deral) Na prática, o produtor paranaense corre contra o tempo, procurando plantar o máximo possível antes que a melhor janela se feche, mesmo com pouca chuva.

Já no Mato Grosso o plantio chegou a 25% da área, graças ao retorno das chuvas, porém, no ano passado o mesmo chegava a 65% da área nesta época e a média histórica é de 49%. O custo de produção no Mato Grosso aumentou em 7,5% sobre o ano anterior, ou seja, R$ 290,77/hectare. Os custos só não foram maiores porque muitos produtores locais adiantaram a compra de insumos, escapando de uma desvalorização maior do Real. Neste sentido, naquele Estado os produtores já compraram 18,7% dos insumos necessários para a safra seguinte, a de 2021/22, o que é um recorde de antecipação. (cf. Imea)

Enfim, segundo a indústria moageira de soja e a do biodiesel, 2020 deverá fechar com um total de 44,6 milhões de toneladas esmagadas, sendo que até setembro o crescimento do volume triturado foi de 8,3%, com a produção de biodiesel somando 6,4 bilhões de litros, ou seja, 8,5% acima do registrado na mesma época do ano passado.


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Fonte: Informativo CEEMA UNJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1) e de Jaciele Moreira (2).

1 – Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
2-  Analista do Laboratório de Economia da UNIJUI, bacharel em economia pela UNIJUÍ, Tecnóloga em Processos Gerenciais – UNIJUÍ e aluna do MBA – Finanças e Mercados de Capitais – UNIJUÍ e ADM – Administração UNIJUÍ

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