Objetivou-se neste trabalho avaliar a colonização micorrízica em raízes de soja e trigo de uma área em que o solo foi submetido a aplicação de bioestimulador do solo e adubação fosfatada.
Autores: Leticia de Alcântara Dôres¹; Carlos Alberto Casali²; Anna Flávia Neri de Almeida³; Bruna Larissa Feix4; Joanilson Vieira Prestes Junior5; Luana Tozetto6.
Introdução
O trigo (Triticum spp.) e soja (Glycine max) têm grande importância nutricional na alimentação humana e animal no Sul do Brasil e para maximizar a produtividade dessas culturas são utilizados fertilizantes minerais solúveis como fonte de nutriente. Segundo a Associação Nacional para Difusão de Adubo (ANDA, 2018) em 2017 foram utilizados cerca de 34.438.840 toneladas de fertilizante no Brasil, sendo 14,88% de fertilizante fosfatado. O uso indevido e/ou em excesso dos fertilizantes, principalmente o fosfatado, causam impactos ao ambiente, como eutrofização dos rios por escoamento e enriquecimento excessivo dos mesmos (KLEIN & AGNE, 2012), além de elevar os custos das lavouras. Visando minimizar o uso destes insumos, ultimamente ingressaram no mercado de insumos bioestimuladores, os quais argumentam beneficiar e estimular a atividade microbiana do solo, elevando a disponibilidade de nutrientes às plantas.
Dentre a vasta quantidade e variedade de microrganismos presentes no solo, destacam-se os Fungos Micorrízicos Arbusculares (FMAs), que devido ao seu potencial simbiótico e mutualístico, esses são benéficos para as plantas já que as hifas funcionam como extensões das raízes favorecendo a absorção de água e nutrientes, além de auxiliar na tolerância a estresses do ambiente, resistência a doenças, toxidade e presença de metais pesados no solo, e é beneficiado pela absorção de fotoassimilados produzidos pelos indivíduos colonizados. Nogueira & Cardoso (2000), inocularam diferentes fungos micorrízicos em indivíduos de soja e constataram que com o incremento de doses de fósforo no solo houve influência no estabelecimento da simbiose (de forma diferente para cada fungo inoculado) entre FMA’s e a cultura da soja. Bressan & Vasconcellos (2002) pesquisaram a influência de doses de fósforo na colonização micorrízica cultura do milho, e apresentaram resultados de que o nutriente influência diretamente nos FMAs. Objetivou-se neste trabalho avaliar a colonização micorrízica em raízes de soja e trigo de uma área em que o solo foi submetido a aplicação de bioestimulador do solo e adubação fosfatada.
Material e Métodos
O estudo foi realizado na fazenda experimental da Universidade Tecnológica Federal do Paraná- Campus Dois Vizinhos (UTFPR-DV), sobre Nitossolo Vermelho. O experimento foi implantado em duas etapas, sendo elas em junho de 2015, com Trigo da variedade CD 150, e em outubro de 2015, com soja 95R51 da Pioneer, ambos em delineamento de blocos ao acaso com quatro repetições (Tabela 1), em parcelas de dimensões 4×8 m.
Tabela 1. Tratamentos aplicados na área de estudo.
As aplicações de adubo foram realizadas do mesmo modo para as culturas de Soja e Trigo, sendo ambas a lanço seguindo recomendações da Comissão de Química e Fertilidade do Solo – RS/SC (CQFS– RS/SC, 2016), feitas no momento da semeadura. O bioestimulador foi aplicado 30 dias antes da semeadura (1° aplicação), 30 dias após emergidas as culturas (2° aplicação) e 30 dias após a 2° aplicação (3° aplicação). As coletas de raízes de Trigo foram realizadas em outubro de 2015 e de Soja em março de 2016.
Posteriormente a coleta, as raízes foram lavadas em água corrente até a retirada de todo o resíduo de solo, então foram escolhidas as raízes mais finas, e cortadas em fragmentos de cerca de 1,0 cm, submetidas a descoloração em KOH 10 %, a 80 ºC por 30 min, e em HCl 1 % por 10 min, em seguida foram coloridas em azul de tripano, segundo a metodologia de Koske & Gemma (1989). Após coloridas, foram montadas lâminas e lidas em microscópio estereoscópico, avaliando a presença ou ausência de estruturas como esporos, vesículas e hifas. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e se significativo, teste de separação de médias tukey a 5 % de probabilidade utilizando do Software Sisvar.
Resultados e Discussão
Na cultura do trigo os tratamentos 100% P s/ B (100% P sem Bioestimulador) e 100% P+B
(100% P + Bioestimulador) se destacaram com os valores de 38,98% e 42,88% de colonização micorrízica, respectivamente, porém os mesmos não se deferiram estatisticamente entre si. Os tratamentos s/ P e B (Controle) com 31,68% e 50% P+B (50% Fosforo + Bioestimulador) com 26,3% também não se diferiram entre si, porem apresentam valores significativamente inferiores de colonização em relação aos tratamentos 100% P s/ B e 100% P+B (Tabela 2).
Tabela 2. Porcentagem de colonização micorrízica em raízes de Soja e trigo sob doses de adubação fosfatada e bioestimulador.
Já o 0% P+B (0% Fósforo + Bioestimulador) apresentou menor colonização que os outros tratamentos, com 12,58% de colonização. Tais resultados indicam que a presença ou ausência do bioestimulador do solo não é um fator que influência na colonização de micorrízas em raízes de trigo e sim a adubação fosfatada. Para Pereira (2011) o fósforo é um dos principais fatores para o desenvolvimento de micorrizas.
Segundo Antoniolli & Kaminski (1991), o estado nutricional de fósforo na planta hospedeira
controla o grau de colonização de raízes por FMAs, afetando também o desenvolvimento de hifas internas e externas. E estruturas como vesículas e tende a ser desenvolvidas quando a colonização já está estabelecida. Já para a cultura da Soja, não houve diferença significativa entre os tratamentos. Isso porque as doses de fosforo aplicadas na área experimental não foram superiores as doses recomendadas pela CQFS – RS/SC para a cultura, considerando a quantidade de P já existente no solo visando suprir apenas a necessidade da planta de modo que este fator não alterou a atividade micorrizíca na planta
(PAIM, 2016).
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Conclusões
A partir dos resultados apresentados pode-se concluir que a colonização micorrízica em raízes de trigo não foi influenciada pela dosagem do bioestimulador e sim pela adubação fosfatada. E as dosagens de adubo fosfatado acompanhado ou não do bioestimulador não interferiram na atividade das micorrizas nas raízes de soja.
Referências
Brasil. Associação Nacional Para Difusão de Adubo (ANDA). Principais indicadores do setor de fertilizantes [Internet]. São Paulo, SP; ANDA; 2017 [Acesso em: 7 fev. 2018]. Disponível em: http://www.anda.org.br/index.php?mpg=03.00.00
KLEIN, C.; AGNE, S. A. A. Fósforo: de nutriente à poluente. Revista Eletrônica em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental. 2013. v. 8, n. 8, p. 1713-1721.
NOGUEIRA, M. A.; CARDOSO, E. J. B. N. Produção de micélio externo por fungos micorrízicos arbusculares e crescimento da soja em função de doses de fósforo. Revista Brasileira de Ciência do Solo. 2000. v. 24, n. 2. P. 329-338.
BRESSAN, W.; VASCONCELLOS, C. A. Alterações morfológicas no sistema radicular do milho induzidas por fungos micorrízicos e fósforo. Pesquisa Agropecuária Brasileira. 2002. v. 37, n. 4, p. 509-517.
KOSKE, R. E.; GEMMA, J. N. A modified procedure for staining roots to detect VA mycorrhizas. Mycological research. 1989. v. 92, n. 4, p. 486-488.
TEDESCO, M. J. et al. Manual de adubação e de calagem para os estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Porto Alegre: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, Núcleo Regional Sul, 2016.
ANTONIOLLI, Z. I.; KAMINSKI, J. Mycorrhizas. Ciência Rural. 1991. v. 21, n. 3, p. 441-455.
PEREIRA, M. G. Interações entre Fungos Micorrízicos Arbusculares (FMA), Rizóbio e Actinomicetos na Rizosfera de Soja. Dissertação de Mestrado. Recife, PE: Universidade Federal Rural de Pernambuco; 2011.
PAIM, L. R. Atributos Físicos de um Latossolo Vermelho Distroférrico Cultivado com Soja e Milho Tratados com Estimulante à Micorrização e Fósforo. Tese de Doutorado. Dourados, MS: Universidade Federal da Grande Dourados; 2016
Informações dos autores
¹Acadêmica do curso de Engenharia Florestal, Universidade Tecnológica Federal do Paraná- Campus Dois Vizinhos, Estrada para Boa Esperança, S/n – Zona Rural, Dois Vizinhos – PR, 85660-000.
²Professor Doutor; Universidade Tecnológica Federal do Paraná- Campus Dois Vizinhos;
³Pós-graduanda em Recursos Genéticos Vegetais, Universidade Federal de Santa Catarina;
4Acadêmica do Curso de Agronomia, Universidade Tecnológica Federal do Paraná- Campus Dois Vizinhos;
5Pós-graduando em Produção Vegetal, Universidade Tecnológica Federal do Paraná- Campus Pato Branco;
6Acadêmica do Curso de Agronomia, Universidade Tecnológica Federal do Paraná- Campus Dois Vizinhos.
Disponível em: Anais da XII Reunião Sul-Brasileira de Ciência do Solo. Xanxerê – SC, Brasil.