Por ser considerada uma praga polífaga, a Helicoverpa armigera se alimenta de várias culturas agrícolas, dificultando seu controle (Figura 1). Na cultura da soja, apesar de se alimentar de folhas e hastes das plantas, a preferência é por estruturas reprodutivas como botões florais, legumes e grãos. Os danos ocorrem desde a emergência das plantas, quando os cotilédones estão expostos e as folhas unifolioladas desenvolvendo-se; nesse estágio, as lagartas seccionam as plantas sob ou sobre os cotilédones. Devido a isso, o acompanhamento da evolução populacional da praga ao longo do ciclo da cultura da soja e entre os cultivos deve considerar os estágios de ovo, larva, pupa e adultos. Para o melhor controle da H. armigera, é necessário adotar um manejo integrado de pragas em todo o sistema agrícola.
Figura 1. Lagarta Helicoverpa armigera em soja
Fonte: S. J. de Araújo. Confira a imagem original clicando aqui
Como H. armigera era considerada uma praga ausente no Brasil até a safra 2012/13, a maioria das informações acerca de métodos de amostragem e momentos de aplicação de inseticidas provém da literatura internacional. Segundo a Embrapa, há mais de 600 relatos de resistência de H. armigera a múltiplos grupos de inseticidas em todo o mundo, incluindo piretróides. Frente a tal informação, o correto manejo dos inseticidas químicos pode ser a diferença entre o sucesso e a ineficiência no combate às lagartas. Por isso, uma das principais ações é evitar os inseticidas menos seletivos, ou seja, aqueles que prejudicam diversos insetos e não apenas H. armigera (Figura 2). Assim, evita-se a mortalidade de organismos que podem ajudar a controlar naturalmente essa praga.
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A introdução de H. armigera no Brasil levou o MAPA a aprovar, de forma emergencial, uma série de princípios ativos para o controle da praga. Há inseticidas de praticamente todos os grupos de modos de ação que controlam a lagarta, tais como os organofosforados, os carbamatos, os piretroides, as espinosinas, as avermectinas, as oxadiazinas, as diamidas antranílicas, entre outros (Figura 2). Entretanto, há muitos inseticidas que necessitam de doses elevadas para controlar a praga, inviabilizando o seu uso; e outros para os quais a praga já desenvolveu resistência em muitos locais, como especialmente os inseticidas piretróides (GUEDES, J. V. C., ARNEMANN, J. A.).
Figura 2. Seletividade de alguns grupos de inseticidas
Fonte: EMBRAPA. Confira a imagem original clicando aqui
Segundo Perini et al. (2016), os inseticidas clorantraniliprole, flubendiamida, clorfenapir, espinosade e acefato são eficientes no controle de H. armigera. Já os inseticidas metoxifenozida, baculovírus (HzSNPV) e Bt (var. kurstaki HD‑1) apresentam ação mais lenta no controle de H. armigera (KUSS et al. 2016). A partir de 72 horas da pulverização, nenhum dos inseticidas testados apresentam controle satisfatório de H. armigera. O nível de controle varia de 0,31 a 2,16 lagartas/m², dependendo do inseticida utilizado e do valor de comercialização da soja (STACKE et al., 2018). Em países como a Argentina, consideram-se os níveis de 3 lagartas/m² na fase vegetativa e 2 lagartas/m² na fase reprodutiva para tomada de decisão de controle (GUEDES, J. V. C., ARNEMANN, J. A.).
O manejo biológico também é indicado para controle de lagartas, como H. armigera. Entre os insetos benéficos, podemos encontrar os parasitóides e predadores de lagartas, além da existência de vírus, bactérias, fungos e nematóides capazes de diminuir a população das lagartas. O Bacillus thuringiensis (Bt), por exemplo, é uma bactéria capaz de combater as lagartas do gênero Helicoverpa, através da produção de esporos que liberam toxinas. Ao serem ingeridos pelas lagartas, estas acabam morrendo em três a quatro dias após a ingestão.
Os parasitóides do gênero Trichogramma também podem ser utilizados no controle biológico, sendo que as vespas fêmeas ovipositam dentro do ovo do hospedeiro. As larvas nascem, se alimentam do conteúdo dos ovos e posteriormente emergem do ovo parasitado como vespas adultas, reiniciando o ciclo. Por fim, o vírus Nucleopolyhedrovirus (HearNPV) age por ingestão no intestino da lagarta, provocando infecção e, consequentemente, redução da alimentação e locomoção, até a morte do inseto (Figura 3).
Figura 3. Ciclo do vírus HearNPV em H. armigera
Fonte: KOPPERT. Confira a imagem original clicando aqui;
O Manejo Integrado de Pragas (MIP) engloba um conjunto de técnicas visando o controle eficiente e sustentável das pragas agrícolas, incluindo lagartas como H. armigera. No período pré-safra, recomendam-se aplicações seqüenciais de herbicidas dessecantes, sem utilização de inseticidas, já que nesse período sua eficiência de controle é baixa e há efeitos negativos nos inimigos naturais. Na semeadura da soja, é indicado o tratamento de sementes com inseticidas, além de iniciar-se o monitoramento freqüente da lavoura (mesmo que a cultivar utilizada expresse toxinas Bt). E, durante a safra, é imprescindível que se realize o monitoramento semanal das lavouras de soja, com a aplicação de inseticidas quando necessário.
Considerações finais
A ocorrência da lagarta Helicoverpa armigera causou (e continua causando) sérios impactos econômicos e ambientais ao Brasil, prejudicando a sustentabilidade da cultura da soja no país. Por outro lado, este sério problema pode impulsionar o desenvolvimento de novas práticas e novas tecnologias, com o aperfeiçoamento do manejo de pragas da soja. O produtor de soja é quem pode sofrer as maiores perdas, enquanto a pesquisa oficial e a administração pública trabalham a uma velocidade muito inferior à expansão da praga e dos riscos que carrega (GUEDES, J. V. C., ARNEMANN, J. A.). De forma geral, é de extrema importância que se realize o monitoramento frequente das lavouras e a rotação de mecanismos de ação dos inseticidas, além da aplicação de inseticidas mais seletivos. Cabe ainda o uso de outras formas de manejo que não o controle químico, tais como a tecnologia Bt e os inseticidas biológicos.
Elaboração do texto: Rael Adams, estudante do Curso de Agronomia na UFSM e membro do grupo Manejo e Genética de Pragas/UFSM
Revisão: Henrique Pozebon, Mestrando PPGAgro e Prof. Jonas Arnemann, PhD. e Coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM
REFERÊNCIAS
GUEDES, J. V. C., ARNEMANN, J. A., PERINI, C. R., ARRUÉ, A., RÖHRIG, A. Helicoverpa armigera: manejar ou perder. Revista Cultivar. Disponível em https://www.grupocultivar.com.br/artigos/helicoverpa-armigera-manejar-ou-perder
Helicoverpa armigera, ações de prevenção e manejo. Embrapa Soja. Brasília, DF. Disponível em http://www.cnpso.embrapa.br/helicoverpa/danos.htm
PERINI, C. R. et al. How to control Helicoverpa armigera on soybean in
Brazil? What we have learned since its detection. African Journal of Agricultural Research, v.11, n.16, p.1426-1432, abril 2016. Disponível em https://www.researchgate.net/publication/305721652_How_to_control_Helicoverpa_armigera_on_soybean_in_Brazil_What_we_have_learned_since_its_detection
KUSS, C. C. et al. Controle de Helicoverpa armigera (Lepidoptera: Noctuidae) em soja com inseticidas químicos e biológicos. Pesq. agropec. bras., Brasília, v.51, n.5, p.527-536, maio 2016. Disponível em https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1053357/controle-de-helicoverpa-armigera-lepidoptera-noctuidae-em-soja-com-inseticidas-quimicos-e-biologicos
MENDES, L. G. 5 tecnologias para controlar a “Helicoverpa armigera” eficientemente. Lavoura 10. 18 de maio de 2018. Disponível em https://blog.aegro.com.br/helicoverpa
STACKE, Regis F. et al. Damage assessment of Helicoverpa armigera (Lepidoptera: Noctuidae) in soybean reproductive stages. Crop Protection, v. 112, p. 10-17, 2018. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0261219418301236?via%3Dihub