Você sabe que existem diferentes espécies de lagartas que podem atacar a sua lavoura, certo?
E que estas diferentes lagartas têm características específicas, as quais merecem atenção especial na hora do manejo, você sabia?
Por exemplo, há espécies que aparentemente são semelhantes, mas apresentam diferentes suscetibilidades a um mesmo inseticida.
Além disso, você já deve saber que é importante evitar a seleção de insetos resistentes, e por isso, todo cuidado é pouco quando for adotar as medidas de controle.
Na safra 2020/21, foi registrada a ocorrência da lagarta falsa-medideira (Rachiplusia nu) e a broca das axilas (Crocidosema aporema), em lavouras de soja Bt. Estas espécies eram suscetíveis a esta tecnologia anteriormente.
Para que você proteja sua lavoura contra situações como esta, vou apresentar a seguir os principais cuidados que você deve ter com o manejo de pragas no campo.
Identificação da lagarta
São várias espécies que podem atacar as plantas de soja, mas algumas são consideradas as principais da cultura, por já estarem amplamente distribuídas nas regiões produtoras. A chance de haver registro na sua região é alta, e por conta disso, os cuidados com estas espécies devem ser redobrados.
Se as condições forem favoráveis, é possível encontrar lagartas no campo desde o momento de pós-emergência das plantas, até o final do ciclo de desenvolvimento da soja.
As espécies de lagartas consideradas importantes para a soja são: Lagarta-elasmo, lagarta-rosca, lagarta-da-soja, falsa-medideira, lagartas do complexo Spodoptera, lagarta-das-maçãs e lagarta-do-velho-mundo.
Ocorrência de lagartas ao longo do ciclo da soja.
Se você tiver conhecimento de quais lagartas podem estar presentes nos diferentes estádios de desenvolvimento das plantas, assim como os hábitos que estas pragas apresentam, ficará mais fácil identifica-las. Além disso, há características determinantes para a correta identificação destes insetos, como a coloração da lagarta e da mariposa, a posição em que se encontram na planta e os danos ocasionados.
Um ponto importante que você deve lembrar é que existem lagartas de diferentes espécies que apresentam características muito parecidas, por isso, para que seja realizado o manejo adequado, de acordo com o nível de controle recomendado para cada espécie, é importante que você identifique corretamente a espécie que encontrou em sua lavoura.
A Embrapa disponibiliza um documento completo que facilita a identificação dos insetos-praga em soja, é um manual de identificação de insetos e outros invertebrados da cultura da soja. Neste manual há informações sobre as principais características de cada um dos indivíduos, e você pode utilizar para identificar qual inseto está ocasionando danos em sua lavoura e quais medidas de controle devem ser tomadas.

Insetos resistentes
Nos cultivos de soja, as tecnologias disponíveis permitem que os altos rendimentos da cultura sejam garantidos e a produção se mantenha de maneira sustentável.
No entanto, ao longo do tempo há registro de insetos resistentes presentes nestas tecnologias. Esta ocorrência é preocupante para os agricultores, pois demonstra que houve uma seleção de organismos resistentes que anteriormente eram suscetíveis as variedades de soja Bt.
Nas regiões produtoras do estado do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e sul do Paraná, foram registradas duas espécies resistentes de lagartas em lavouras de soja Bt, a broca-das-axilas (Crocidosema aporema) e uma espécie de falsa-medideira (Rachiplusia nu).

Estas espécies integravam o complexo de lagartas que a tecnologia Intacta RR2 Pro apresentava proteção. No entanto, na safra 2020/21, foi verificado que estas espécies agora possuem capacidade de se alimentar e se desenvolver em plantas de soja Bt.
Apesar deste fato ser negativo para os produtores de soja, o registro foi verificado em pequenas populações de lagartas, o que permite que você se previna contra a ocorrência de casos como este em sua lavoura e preserve a longevidade da tecnologia disponível.
Por isso, o quanto antes você adotar as medidas de manejo integrado de pragas disponíveis, menos problemas com insetos resistentes você terá que lidar futuramente.
Como proteger sua lavoura?
Em programas de manejo integrado de pragas (MIP), as táticas adotadas são realizadas em conjunto para que todas mantenham o equilíbrio do ambiente.
O MIP sugere que você adote práticas antes mesmo de verificar a presença de um inseto-praga no campo, pois desta forma, você permite o controle natural de qualquer organismo nocivo para o seu cultivo. Estas práticas, que são benéficas para a cultura, já foram estudadas em campo anteriormente e sua eficácia é comprovada.
Uma das principais táticas é o uso de plantas resistentes, ou geneticamente modificadas. Quando adotada de forma conjunta com as demais práticas indicadas pelo MIP, é eficiente no controle de pragas.
O controle cultural, é uma outra tática, no qual você pode remover as plantas espontâneas próximas ao cultivo, pois estas servem de abrigo e são um hospedeiro alternativo para os insetos.
Há também o controle com métodos que visem a modificação do comportamento dos insetos, como o uso de feromônios.
O emprego do controle biológico, onde você pode realizar a liberação de insetos benéficos que controlam várias espécies de pragas no campo.
E quando o monitoramento dos insetos indicar que é necessário realizar o controle imediato, você pode utilizar o controle químico e optar pelos que sejam seletivos aos inimigos naturais.

Área de refúgio
Você já sabe, mas não custa enfatizar que a área de refúgio sempre deve ser adotada quando você utilizar plantas de soja Bt.
No refúgio, você realiza o plantio de uma parte do talhão sem a tecnologia Bt. Esta prática possibilita que os insetos suscetíveis a esta tecnologia sejam predominantes sobre os insetos resistentes, que ocasionalmente sobrevivem na lavoura. Deste modo, há grandes chances de os insetos resistentes acasalarem com insetos suscetíveis, o que acabará por gerar descendentes suscetíveis a tecnologia Bt.
A distância de plantio da área de refúgio é recomendada com base no alcance de voo das mariposas e também como forma de possibilitar o acasalamento entre os insetos, é indicado o plantio à 800 metros de distância do cultivo Bt.

Conclusão
O artigo de hoje apresentou quais os cuidados você precisa ter quando manejar os insetos-praga no campo.
Você viu como pode fazer para identificar as lagartas e como as táticas de MIP podem contribuir para proteger sua lavoura de organismos resistentes.
O cuidado é adotado antes mesmo de você implantar a sua cultura no campo e deve ser realizado constantemente.
Sobre o Autor: Mariana Rosa da Silva, mestranda em Entomologia pela ESALQ/USP. Engenheira Agrônoma pela Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL.