O tamanduá-da-soja (Sternechus subsignatus) tem causado preocupação aos agricultores, visto que é perfeitamente adaptado à cultura da soja, podendo gerar grandes perdas. Sua ocorrência nas áreas de produção elevou-se após a adoção do sistema plantio direto, que favorece o ciclo da praga. A pesquisa está em constante evolução quanto à biologia e manejo do inseto, conseguindo estabelecer um eficiente programa de manejo integrado da praga.
Começando pela época de semeadura, é preciso entender que os picos populacionais do tamanduá-da-soja coincidem com a fase vegetativa da soja. De acordo com Socías et al. (2017), o intervalo entre final de novembro até final de fevereiro são momentos críticos de sua incidência. Desse modo, é preciso ficar atento quanto ao período residual do inseticida no tratamento de sementes. Em semeaduras antecipadas (outubro) geralmente não há necessidade de controle, pois a incidência da praga é baixa e quando a população do inseto aumentar as plantas já estarão mais desenvolvidas, isto é, menos vulneráveis e mais capazes de tolerar os danos do tamanduá-da-soja.
Nesse contexto, o tratamento de sementes é uma ferramenta com menor custo operacional e que protege a planta no início do seu desenvolvimento. Trata-se de um manejo especialmente relevante caso a semeadura seja realizada a partir da segunda quinzena de novembro, coincidindo o período residual do inseticida com o pico populacional da praga. Segundo Palma et. al. (2018), o manejo do tamanduá-da-soja deve ser considerado de forma a associar o tratamento de sementes com outros métodos de controle. Os resultados obtidos nesse estudo encontram-se na Figura 1.
Figura 1. Eficiência agronômica de inseticidas no tratamento de sementes para o controle de S. subsignatus.
Fonte: Palma et. al. (2018). Confira a imagem original clicando aqui.
O estudo demonstrou que os tratamentos com Standak Top, Crop Star e Imidacloprid Nortox apresentaram melhores resultados de eficiência, com 58,1%, 51,6% e 51,6% de controle, respectivamente. No entanto, conforme Possebon et. al. (2011), o tratamento de sementes é eficiente apenas nas primeiras semanas de desenvolvimento da cultura.
Outro manejo importante é a rotação de culturas. Sabendo que o tamanduá-da-soja se alimenta apenas de leguminosas, a utilização de plantas não-hospedeiras (milho, sorgo, girassol, algodão e crotalária, entre outras) impede o desenvolvimento da praga e interrompe seu ciclo, sendo uma tática indicada para insetos que possuem ciclo longo. Ademais, além da diminuição da população do tamanduá-da-soja, outros benefícios são obtidos como a diminuição de inóculo de doenças e ciclagem de nutrientes no solo.
Junto com a rotação de culturas, pode-se fazer o uso de “plantas-armadilha” (leguminosas) nas bordas, sendo uma ferramenta que tem por objetivo atrair e manter os insetos nessa bordadura da lavoura. Assim, pode-se pulverizar somente essa faixa (30-50m), com inseticidas recomendados.
A eficiência do controle químico via foliar é prejudicada pelos hábitos do tamanduá-da-soja: os ovos e as larvas que estão dentro do caule da planta são protegidos da ação dos produtos químicos, e os adultos ficam escondidos durante o dia sob as folhas ou restos culturais. No entanto, durante a noite os adultos são mais ativos e aplicações noturnas se tornam mais eficientes (Degrande & Vivan, 2012).
O nível de controle é de 1 adulto/m de fileira em estágio V3 da cultura, ou 2 adultos/m em V6 (Moscardi et al., 2012). Em um estudo de Roggia & Canan (2011), avaliou-se em casa de vegetação a eficiência de diversos inseticidas aos 6 DAT (dias após o tratamento). Os resultados obtidos encontram-se na Tabela 1.
Tabela 1. Inseticidas avaliados para o controle de adultos de S. subsignatus em soja aos 6 DAT.
Fonte: Adaptado de Roggia & Canan (2011). Confira a imagem original clicando aqui.
Segundo os autores, os inseticidas pertencentes ao grupo químico dos piretroides apresentaram baixa eficiência de controle, enquanto os neonicotinoides + piretroides apresentaram os melhores resultados em relação ao controle isolado de piretroides. Somado a isso, os tratamentos com tiametoxam + lambda-cialotrina (200 mL/ha) e imidacloprido + bifentrina (400 mL/ha) apresentaram 100% de controle aos 6 DAT.
Conclusão
- 1) Apenas as plantas leguminosas são hospedeiras do tamanduá-da-soja. Logo, a rotação com outras culturas ajuda a quebrar seu ciclo.
- 2) Muitas vezes, a utilização isolada de uma tática de manejo não é o suficiente para o controle da praga, demandando uma combinação de diferentes estratégias de controle.
- 3) A semeadura antecipada é uma forma de escape do pico populacional da praga.
- 4) A utilização de “plantas-armadilha” pode auxiliar na rotação e proporcionar maior eficiência no controle a partir da bordadura.
- 5) O tratamento de sementes é indispensável quando o ataque da praga coincide com o início de desenvolvimento da cultura.
- 6) O controle químico via foliar pode ter sua eficiência reduzida pelo hábito do inseto, sendo recomendado aplicações noturnas.
Revisão: Henrique Pozebon, Mestrando PPGAgro e Prof. Jonas Arnemann, PhD. e Coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM
REFERÊNCIAS:
DEGRANDE, P. E.; VIVAN, L. M. Tecnologia e Produção: Soja e Milho 2011/2012. Fundação MT. 2012. Disponível em https://www.fundacaoms.org.br/base/www/fundacaoms.org.br/media/attachments/138/138/newarchive-138.pdf
MOSCARDI, F.; BUENO, A.F.; SOSA-GÓMEZ, D.R.; ROGGIA, S.; HOFFMANN-CAMPO, C.B.; POMARI, A.F.; CORSO, I.C.; YANO, S.A. Artrópodes que atacam as folhas da soja – capítulo 4. Embrapa. 2012. Disponível em http://www.cnpso.embrapa.br/artropodes/Capitulo4.pdf
PALMA, J.; MORO, L.; SEIGEL, G.; HENGEL, A. Tratamento de sementes para o controle do Tamanduá-da-soja. XXVII Congresso Brasileiro de Entomologia, 2018. Gramado, RS. Disponível em https://maissoja.com.br/tratamento-de-sementes-para-o-controle-do-tamandua-da-soja/
POSSEBON, S. B.; GUEDES, J. V. C.; FRANÇA, J.; MACHADO, R. T.; STACK, R. Controle de Sternechus subsignatus na cultura da soja, através da aplicação de inseticidas líquidos e granulados no sulco de semeadura. In: CONGRESO DE LA SOJA DEL MERCOSUR, 5; FORO DE LA SOJA ASIA, 1, 2011, Rosário. Un grano: un universo.
ROGGIA, S.; CANAN, V. Controle químico de adultos de Sternechus subsignatus (Coleoptera: Curculionidae) em soja. XII Reunião Sul-Brasileira Sobre Pragas de Solo, Piracicaba, SP, 2011. Disponível em https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/56200/1/ID-32929.pdf
SOCÍAS, M. G.; CASMUZ, A.S.; ZAIA, G.; CAZADO, L.; WILLINK, E.; GASTAMINZA, G.. Population fluctuation of Sternechus subsignatus Boheman (Coleoptera: Curculionidae) at its different development stages associated with soybean crop cycle in Tucumán, Argentina. Revista Industrial y Agrícola de Tucumán. v. 88, n. 1, p. 47-58, 2017.