A lagarta da soja e a falsa-medideira estão entre as principais pragas que atacam a cultura de soja no Brasil, apresentando certas diferenças de comportamento e dano que permitem sua correta identificação.
As larvas da lagarta da soja (Anticarsia gemmatalis) foram consideradas por muito tempo pragas-chave da cultura da soja, ocorrendo em todas as regiões brasileiras de cultivo. Com a introdução da tecnologia Bt em 2010, A. gemmatalis tornou-se menos abundante nas lavouras; entretanto, permanece sendo uma praga economicamente importante em função do seu grande potencial para ocasionar perdas significativas de produtividade à cultura.
A lagarta da soja é um inseto desfolhador, e apresenta desenvolvimento do tipo holometábolo. Sua ocorrência se estende de novembro a março, atingindo picos populacionais a partir de janeiro (Andrade et al., 2004). A fase adulta dura em média 15 dias. A mariposa apresenta envergadura de 30 a 38 mm e coloração variando de cinza a marrom avermelhado ou amarelado, sem dimorfismo sexual. A oviposição ocorre na face inferior das folhas, com os ovos eclodindo em até três dias.
O período larval deste inseto pode durar até 25 dias, podendo ocorrer seis instares sucessivos (Andrade et al., 2004). Quando pequena (até 1 cm), a lagarta da soja apresenta cor verde e possui quatro pares de pernas abdominais. Nessa fase, ela pode se locomover “medindo palmos”, gerando confusão com lagartas falsas-medideiras no momento da identificação. As lagartas maiores do que 1,5 cm podem ser encontradas na coloração verde ou escura. Apresentam três linhas longitudinais brancas no dorso e quatro pares de pernas abdominais, além de um par anal (Sosa-Gómez et al., 2010).
Figura 1. Lagarta da soja, Anticarsia gemmatalis.
Fonte: Revista Cultivar.
Figura 2. Lagarta da soja, Anticarsia gemmatalis.
Fonte: Moscardi et al., 2012.
Os principais danos causados à cultura da soja ocorrem durante a fase larval de A. gemmatalis, quando as lagartas inicialmente raspam as folhas da soja e causam prejuízos consideráveis à medida que crescem. As lagartas se alimentam do limbo foliar e inclusive das nervuras, podendo ocasionar 100% de desfolhamento. Até completar o seu desenvolvimento larval, cada lagarta pode consumir em média 90 cm2 de folhas a cada 24 horas, equivalente a 2,1 vezes a sua própria massa (Gallo et al., 2002).
Já as lagartas falsas-medideiras são assim denominadas por se deslocarem como se estivessem “medindo palmos”, devido à presença de apenas dois pares de pernas abdominais (Sosa-Gómez et al., 2010). Elas constituem um complexo de espécies associado à soja, sendo a Chrysodeixis includens a espécie mais importante.
No Brasil, a lagarta falsa-medideira tem se tornado um sério problema fitossanitário na cultura da soja, com vários surtos ocorrendo isolados ou associados à lagarta-da-soja (Bernardi, 2012). As lagartas recém-eclodidas apresentam coloração verde-clara, com listras longitudinais brancas e pontuações pretas. Atingem de 40 a 45 mm de comprimento em seu último estádio larval.
Figura 3. Lagarta falsa medideira, Chrysodeixis includens.
Fonte: Pionner Sementes
Do primeiro ao terceiro ínstar larval, as lagartas selecionam folhas novas com baixo teor de fibras para sua alimentação; já as lagartas mais desenvolvidas tornam-se menos exigentes e passam a se alimentar de folhas mais velhas e mais fibrosas, sendo frequentemente encontradas alimentando-se do terço inferior das plantas de soja e de folhas tenras nos ramos secundários. No primeiro e segundo ínstar apenas raspam as folhas, enquanto a partir do terceiro ínstar conseguem perfurá-las. Diferente do dano causado por outros desfolhadores, quando perfuram as folhas as lagartas de C. includens deixam as nervuras centrais e laterais intactas, proporcionando um aspecto característico de folhas rendilhadas (Moscardi et al., 2012).
Figura 4. Detalhe do dano da lagarta falsa-medideira, Chrysodeixis includens, em soja.
Fonte: Moscardi et al., 2012.
Revisão: Henrique Pozebon, Mestrando PPGAgro e Prof. Jonas Arnemann, PhD. e Coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM
REFERÊNCIAS:
ANDRADE, F. G.; NEGREIRO, M. C. C.; FALLEIROS, A. M. F. Aspectos dos mecanismos de defesa da lagarta da soja Anticarsia gemmatalis (Hübner 1818) relacionados ao controle biológico por Baculovirus anticarsia (AGMNPV). Arquivos do Instituto Biológico, v. 71, n. 3, p. 391-398, 2004.
BERNARDI, Oderlei. Avaliação do risco de resistência de lepidópteros-praga (Lepidoptera: Noctuidae) à proteína Cry1Ac expressa em soja MON 87701 x MON 89788 no Brasil. 2012. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.
GALLO, D.; NAKANO, O.; SILVEIRA NETO, S.; C ARVALHO, R.P.L.; BATISTA, G.C.; BERTI FILHO, E.; P ARRA, J.R.P.; Z UCCHI, R.A.; ALVES , S.B.; VENDRAMIN, J.D.; MARCHINI, L.C.; LOPES, J.R.S.; OMOTO , C. Manual de entomologia agrícola. Piracicaba: FEALQ, 2002. 920p.
LLOURENÇÃO¹, ANDRÉ et al. Produtividade de genótipos de soja sob infestação da lagarta-da-soja e de percevejos. Neotropical Entomology, v. 39, n. 2, p. 275-281, 2010.
MOSCARDI, Flavio et al. Artrópodes que atacam as folhas da soja. Soja: manejo integrado de insetos e outros artrópodes-praga, v. 4, p. 859, 2012.
NEGREIRO, MCC de; ANDRADE, FG de; FALLEIROS, A. M. F. Sistema imunológico de defesa em insetos: uma abordagem em lagartas da soja, Anticarsia gemmatalis Hübner (Lepidoptera: Noctuidae), resistentes ao AgMNPV. Semina: Ciências Agrárias, v. 25, n. 4, p. 293-308, 2004.
SOSA-GÓMEZ, D.R.; CORRÊA-FERREIRA, B.S.; HOFFMANN-CAMPO, C.B.; CORSO, I.C.; OLIVEIRA, L.J.; MOSCARDI, F.; PANIZZI, A.R.; BUENO, A. de F.; HIROSE, E. Manual de identificação de insetos e outros invertebrados da cultura da soja. Londrina: Embrapa-CNPSo, 2010. 90 p. (Embrapa – CNPSo. Documentos, 269).
Boa materia,
Bem explicativa. OBG