A mosca-da-haste, Melanagromyza sojae, é uma praga outonal da soja: suas populações aumentam à medida que os dias tornam-se mais curtos (menor fotoperíodo), coincidindo com o cultivo de soja safrinha no norte e noroeste do Rio Grande do Sul. As perdas causadas por essa praga podem chegar a 60% da produção de grãos (MARQUES et al., 2020). Nativa da Ásia, a praga já foi registrada nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Bahia, além dos países vizinhos Paraguai, Bolívia e Argentina (POZEBON et al., 2020).
A mosca-da-haste é um inseto de tamanho diminuto, o que dificulta sua detecção no campo. Os adultos medem de 2 a 3 mm, com coloração negra e abdômen verde-metálico. Os ovos não são observáveis a olho nu. As larvas apresentam coloração amarelo-claro, levemente translúcidas. As pupas são cilíndricas de coloração amarelada, gradualmente passando para marrom; quando completamente desenvolvidas, medem até 4 mm.
Figura 1. Adulto (esquerda) e larva (direita) de M. sojae
Fonte: VITORIO et al. (2018). Confira a imagem original clicando aqui
As fêmeas depositam seus ovos nos folíolos recém-abertos, próximos às nervuras, e inclusive nos unifólios. Cada fêmea oviposita, em média, 170 ovos durante sua vida. Dois a três dias após a oviposição, as larvas eclodem e começam a se alimentar do limbo foliar, “broqueando” o mesófilo em direção às nervuras da folha e, em seguida, movendo-se até a haste principal da planta. Ali, serão formados túneis de alimentação, que adquirem coloração avermelhada devido à contaminação por microorganismos. As galerias podem ser formadas inclusive nos ramos secundários, e constituem o principal dano da praga na planta, refletindo-se em redução na produtividade de grãos. Num período de 8 a 11 dias o inseto passa por três ínstares larvais e adentra na fase de pupa, que dura de 6 a 12 dias (VITORIO et al., 2019).
Imediatamente antes de pupar, a larva alimenta-se das paredes da haste e abre um orifício de saída, pelo qual o adulto irá emergir e abandonar a planta após completar sua metamorfose. Como o aparelho bucal do adulto (do tipo picador-sugador) não é capaz de perfurar a haste lignificada da planta de soja, é imprescindível que a larva abra esse orifício antes de pupar; caso contrário, o adulto recém-emergido fica aprisionado no interior do caule e acaba morrendo.
O ciclo completo da mosca-da-haste dura de 16 a 26 dias, permitindo a ocorrência de mais de uma geração da praga por ciclo da cultura. É possível encontrar, em uma única planta de soja, insetos em todas as fases do ciclo. Em plantas recém-emergidas, as galerias feitas pelas larvas são descendentes, próximas ao segundo e ao primeiro nós. Além disso, as pupas são capazes de sobreviver durante o inverno no interior das hastes mortas de soja (POZEBON et al., 2020).
A mosca-da-haste é uma praga silenciosa, desenvolvendo-se dentro da planta de soja e ocasionando sintomas externos praticamente imperceptíveis. Por conseqüência, tanto o monitoramento quanto o controle da praga são dificultados. O modo mais confiável de verificar-se a sua presença na lavoura é por meio da abertura longitudinal da haste principal das plantas, observando assim se há galerias contendo larvas e/ou pupas.
Embora estratégias de manejo para essa praga ainda estejam sob desenvolvimento, é possível utilizar certas medidas como tratamento de sementes, semeadura antecipada, rotação com gramíneas e eliminação de plantas hospedeiras da família Fabaceae, visando reduzir a pressão populacional de mosca-da-haste nas lavouras de soja.
Elaboração: Solange Andressa Figur, Graduanda em Agronomia
Revisão: Henrique Pozebon, Mestrando PPGAgro e Prof. Jonas Arnemann, PhD. e Coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM
REFERÊNCIAS:
EMPRESA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA DE MINAS GERAIS, CENTRO TECNOLÓGICO DO SUL DE MINAS GERAIS, LAVRAS/MG. Disponível em: https://www.grupocultivar.com.br/artigos/mosca-da-haste-da-soja-avanco-detectado.
MARQUES, R. P. et al. Melanagromyza sojae Zehntner (Diptera: Agromyzidae) damage on soybean: high yield losses in the New World. Journal of Economic Enotmology. Artigo em trâmite para publicação.
POZEBON, H. et al. Arthropod invasions versus soybean production in Brazil: a review. Journal of Economic Entomology, v. 113, n. 4, p. 1591–1608, 2020.
VITORIO, L. et al. First record of the soybean stem fly Melanagromyza sojae (Diptera: Agromyzidae) in Bolivia. Genetics and Molecular Research, v. 18, gmr18222, 2019.