Como bioinsumo na cultura da soja, o Baculovírus é considerado uma importante ferramenta de manejo para o controle da lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatallis). Como principais vantagens, essa ferramenta apresenta seletividade para o controle específico da lagarta-da-soja, matando somente esse inseto, não afetando inimigos naturais; apresenta elevada eficiência de controle se aplicado adequadamente, e pode ser considerado mais econômico que o controle químico.

Além disso, conforme destacado por Moscardi (2007), o Baculovírus controla a lagarta-da-soja, geralmente, com apenas uma aplicação durante a safra, pois as lagartas que vão morrendo após a aplicação liberam grande quantidade do vírus nas plantas, contaminando as lagartas que vão “nascendo” na lavoura.

Mas como o Baculovírus mata a lagarta?

Primeiramente, é preciso compreender que os baculovírus associados ao controle biológico, na cultura da soja, do nucleopoliedrovírus de Anticarsia gemmatalis são agrupados em nucleopoliedrovírus (NPVs, gênero Alphabaculovirus) e granulovírus (GV, gênero Betabaculovirus), conforme a morfologia de seus corpos de oclusão (do inglês OB, “occlusion bodies”): NPVs apresentam OBs poliédricos denominados de poliedros e GVs apresentam OBs granulares denominados de grânulos (Sosa-Gómez; Ardisson-Araujo; Ribeiro, 2022).

Segundo Sosa-Gómez; Ardisson-Araujo; Ribeiro (2022), quando ocorre a ingestão dos OBs junto do alimento, a matriz cristalina que forma o poliedro ou grânulo se dissolve devido ao pH alcalino do suco digestivo do inseto, liberando assim, as partículas virais denominadas de vírus derivado de oclusão (do inglês ODV, “occlusion derived virus”), que atravessam a membrana peritrófica e atingem as células de revestimento do intestino médio da lagarta, onde realizam a fusão do envelope do vírus com a membrana das microvilosidades celulares (figura 1).



Figura 1. Ciclo infeccioso de um Baculovírus usada na soja.

O produto à base de baculovírus (NPV ou GV) é pulverizado na plantação no final da tarde ou antes do início da manhã, para evitar exposição aos raios UV. A formulação cai sobre a superfície foliar e contém os corpos de oclusão (OBs) que são o princípio ativo do bioinseticida. Os OBs podem ter formato poliédricos (NPV) ou granular (GV) e constituem a estratégia natural do próprio vírus para proteger as partículas infectivas, que recebem o nome de vírion. (1)Os OBs são ingeridos pela lagarta junto ao alimento. (2)Num corte longitudinal, o trato digestório da lagarta é dividido em intestino próximal (IP), médio (IM) e distal (ID). O IM apresenta uma camada protetora chamada de membrana peritrófica (MP) que protege o epitélio do órgão de substratos muito rígidos, lumen endoperitrófico (LEn), lumen ectoperitrófico (LEc), epitelio do intestino (EI) e corpo gorduroso (CG). (3)O esquema apresenta um recorte da região onde ocorrerá a infecção propriamente dita. Quando OB atinge o IM, o conteúdo digestivo é alcalino e dissolve o OB para a liberação dos vírions. Os vírions atravessam a MP, se fusionam à membrana das microvilosidades das células do epitélio do intestino (CEI), iniciando a infecção. (4)O vírus no núcleo celular (NC) onde replica e produz novos vírions. (5)Os novos vírions escapam da célula do intestino e espalham a infecção pelo corpo do inseto hospedeiro. (6)Os vírus infectam outras células (OC) do hospedeiro que incluem células do sistema traqueal, células da hemolinfa, miócitos e adipócitos. (7)As células infectadas produzem mais vírus que intensificam o espalhamento da infecção. Conforme a infecção progride, as células infectadas produzem centenas de novos OBs, morrem e sofre lise liberando seus conteúdos. O inseto infectado morre, tornando-se um saco de OBs que são liberados no ambiente quando ocorre rompimento do tegumento do hospedeiro (Sosa-Gómez; Ardisson-Araujo; Ribeiro, 2022).

Sosa-Gómez; Ardisson-Araujo; Ribeiro (2022) explicam que a infecção viral primária ocorre no núcleo da célula e rapidamente produz um segundo tipo viral, o vírus brotado ou extracelular (do inglês BV, “budded virus”) que é responsável pela disseminação da infecção secundária nos tecidos do inseto. Dessa forma, o BV escapa das células do intestino médio e circula pelo corpo do inseto infectando outros tecidos susceptíveis como células do sistema traqueal, hemócitos e tecido adiposo.

Logo após a produção massiva de BVs, ocorre uma transição para produção de ODVs que serão acondicionados dentro dos OBs, encerrando o ciclo infectivo do vírus. OBs se acumulam no núcleo das células infectadas que sofrem morte celular e lise e geram consequências morfofisiológicas e comportamentais marcantes no inseto infectado como, por exemplo, a perda de apetite, a movimentação afetada e a descoloração do tegumento (Sosa-Gómez; Ardisson-Araujo; Ribeiro, 2022).

Nos estágios avançados da doença, Sosa-Gómez; Ardisson-Araujo; Ribeiro (2022) explicam que os OBs são liberados na hemolinfa e as larvas ficam murchas, letárgicas e apresentam o comportamento fototrófico positivo com a tendencia de subir para o topo da planta antes da morte. Em um período de cinco dias a três semanas após os primeiros sinais de infecção, ocorre a morte do hospedeiro (lagarta), rompimento da cutícula da larva e liberação dos OBs no ambiente, os quais retornam ao solo ou permanecem aderidos sobre a superfície das folhas possibilitando a infecção de outras lagartas, contribuindo para o controle de populações futuras.

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Referências:

MEYER, M. C. et al. BIOINSUMOS NA CULTURA DA SOJA. Embrapa Soja, 2022. Disponível em: < https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1143066/bioinsumos-na-cultura-da-soja >, acesso em: 11/11/2022.

MOSCARDI, F. BACULOVÍRUS: UM INSETICIDA BIOLÓGICO CONTRA A LAGARTA DA SOJA. Embrapa, Folder, n. 07, 2007. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CNPSO-2009-09/27714/1/folder_baculovirus.pdf >, acesso em: 11/11/2022.

SOSA-GÓMEZ, D. R.; ARDISSON-ARAUJO, D. M.; RIBEIRO, B. M. MANEJO DE PRAGAS COM VÍRUS ENTOMOPATOGÊNIOS. Embrapa Soja, Bioinsumos na Cultura da Soja, cap. 22, 2022. Disponível em: < https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1143066/bioinsumos-na-cultura-da-soja >, acesso em: 11/11/2022.

Foto de capa: Koppert

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