O potencial de uso dos recursos naturais depende de seu manejo adequado e conservação. O estudo dos processos que governam o fluxo de água, sedimentos e solutos no solo e na paisagem contribuem para o entendimento dos fatores controladores. Embora, nossa agricultura superou muitos problemas com a entrada do sistema de plantio direto, ainda é visível a presença de erosão no solo, produzindo efeitos na área erodida e fora dela.

Localmente, a erosão ocasiona perda da camada superior e fértil, redução da qualidade do solo: física, química e biológica, perda de água, redução da produtividade e aumento de custos de produção. Fora do local, implica em assoreamento, contaminação de rios e aumento das enxurradas e enchentes. Os solos apresentam funções que vão além da sustentação da produção de alimentos e, considerando apenas as questões hidrológicas, podemos dizer que desempenham papel no armazenamento de água no solo, controle do escoamento superficial, recarga dos aquíferos e na melhoria da qualidade dos rios, evitando o seu assoreamento.



Atualmente, o clima vem nos impondo uma situação de alternância nos fenômenos associados ao El Nino e La Nina com menor intervalo de recorrência. A consequência disso é a presença de estiagens mais frequentes, precipitações com alta intensidade e volume, alteração na evapotranspiração, impactos de redução na produção e produtividade, aumento na taxa de erosão e produção de sedimentos, assoreamento, enchentes, depauperamento da qualidade da água e problemas sociais. Soma-se como agravante à este contexto uso e manejo inadequado dos solos, que potencializam ainda mais os efeitos das alterações climáticas.

Mas antes de encontrar medidas para resolver os problemas de erosão, precisamos entender como ela ocorre e quais os processos e mecanismos envolvidos. A erosão do solo é um processo que consiste em três fases: desagregação das partículas de solo, transporte e deposição. A desagregação surge pelo impacto da gota da chuva e o transporte pela ação da energia de escoamento superficial sob influência direta da gravidade. O transporte das partículas pode ser difuso, acontecendo na região de entressulco, ou concentrado, ocorrendo na forma de um sulco, que pode evoluir para uma voçoroca. Já a deposição, inicia quando não há mais energia disponível para o transporte. Ou seja, a intensidade da erosão depende da quantidade de material desagregado e da capacidade dos agentes erosivos em transportá-lo.

Em lavouras de plantio direto com boa cobertura de solo, não temos praticamente presença de erosão em entressulco pela desagregação de partículas, pois, o impacto da gota ocorre sobre a palhada. Entretanto, se nestas áreas não tivermos uma superfície rugosa que dissipe a energia de escoamento poderemos ter formação de erosão em sulco, que será intensificada se a gleba tiver um longo comprimento de rampa aliado a alta declividade. Ou seja, a água que não infiltrar no solo irá formar escoamento superficial e à medida que vai ganhando volume, concentra energia e aumenta a capacidade de erodir, acontecendo desagregamento por fricção.

Por outro lado, no sistema de cultivo convencional haverá de início desagregação e compactação de uma fina camada da superfície do solo, as partículas suspensas irão entupir os poros do solo formando uma espécie de selamento superficial, reduzindo a infiltração e criando condições para a formação de escoamento e erosão em sulco.

Diante disso surge a pergunta, por onde começar?

Algumas práticas na agricultura tem implicado em impactos negativos, como tráfego descontrolado de máquinas de grande porte que causa a compactação do solo e a monocultura que resulta em baixa adição de fitomassa ao solo. Cabe ainda destacar, o efeito da redução da rugosidade da superfície visando facilitar a mecanização que acaba contribuindo para o escoamento superficial, e por último, o uso inadequado de pesticidas e fertilizantes que leva a problemas de contaminação ambiental, pois são carreados para rios e outros mananciais de água.

A conservação de solo está baseada em quatro princípios, que são: proteger o solo do impacto das gotas da chuva; aumentar a estabilidade de agregados; maximizar a taxa de infiltração de água no solo; e controlar o volume e a velocidade do escoamento superficial. A ciência define os manejos da cobertura do solo, manejos de solo e manejos da água a fim de sustentar estes princípios.

De início, o primeiro passo para uma agricultura conservacionista é usar o solo conforme sua aptidão agrícola, alocando os cultivos agrícolas da melhor forma possível, levando em conta o tipo de solo, profundidade, declividade, entre outras características. Na sequência, tratando-se de manejo do solo visando maximizar a taxa de infiltração de água, deve-se buscar melhorar a porosidade do solo, reduzir sua densidade, criar rugosidade pelo preparo do solo juntamente com a presença de palhada, utilizar técnica de escarificação/subsolagem quando necessário, bem como usar plantas com sistema radicular agressivo. Assim, cria-se condições para aumentar a infiltração e consequentemente reduzir o escoamento superficial.

O manejo da cobertura do solo deve proteger o solo do impacto da gota da chuva e início do processo erosivo, além de elevar os teores de matéria orgânica no solo, visando aumentar a estabilidade dos agregados e conferir resistência a desagregação. A cobertura permanente do solo é essencial para reduzir ou eliminar o selamento superficial e a formação de crosta, protegendo contra ação da chuva e do escoamento. No manejo das plantas de cobertura é importante levar em consideração a densidade, espaçamento, tipo de cultura, uso de espécies leguminosas, adubação verde, diferentes sistemas radiculares, entre outros e principalmente a rotação de culturas.

Já, o manejo da água ou de gleba deve controlar e disciplinar o excesso de água do escoamento superficial, através da criação de barreira e rugosidade visando reduzir a velocidade do escoamento. Podendo-se utilizar técnicas como o plantio em nível e com terraço, cultivo em faixas alternadas de culturas, com fileiras demarcadas em nível. E por último, a utilização de canais vegetados para conduzir escoamento superficial para fora da lavoura.

Em resumo, os desafios para controle da erosão hídrica do solo passam pela maximização da infiltração e armazenamento de água no solo e disciplinamento da retirada do excesso de água das lavouras. Isto só será possível por meio de estudo aprofundado e aplicação da ciência agronômica, conciliando retorno positivo ao agricultor, ao meio ambiente e à sociedade.

Contenção de enxurrada nos terraços da área da Embrapa Trigo na semana de 26/09 a 05/10, quando choveu 136,6 mm.

Foto: Joseani Antunes

Texto: Alex Maquiel Klein – Bolsista do grupo PET Agronomia/UFSM.

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