Devido aos benefícios proporcionados ao sistema de produção e ao custo relativamente baixo, os bioinsumos vêm ganhando espaço nas lavouras brasileiras, sendo incorporados a estratégias de manejo que contribuem para o aumento da produtividade e a sustentabilidade das áreas agrícolas. Entre os microrganismos benéficos que auxiliam na melhoria dos sistemas de cultivo, os fungos do gênero Trichoderma têm se destacado tanto como promotores de crescimento quanto no controle de fitopatógenos que afetam culturas como soja e trigo.

Além de sua ação no combate a fitopatógenos, o Trichoderma é reconhecido por estimular o crescimento da parte aérea das plantas e por produzir auxinas e metabólitos, como o 6PP, que favorecem o desenvolvimento radicular. Como resultado, as raízes tornam-se mais profundas e vigorosas, conferindo maior tolerância à seca. Além disso, o Trichoderma potencializa a absorção e solubilização de nutrientes, promove a aderência hidrofóbica e estimula a formação de pelos absorventes nas raízes laterais, ampliando a superfície de absorção. Também reduz os níveis de etileno nas plantas, o que resulta em um crescimento mais vigoroso (Monte; Bettiol; Hermosa, 2019).

Além do controle de patógenos, dentre as principais vantagens do uso do Trichoderma na agricultura, destacam-se:

  • Repelência e controle de algumas espécies de nematoides;
  • Estimulo a produção de fitormônios que contribuem com o crescimento radicular das plantas;
  • Melhoria da assimilação de nutrientes pelas plantas;
  • Aumento da resistência da planta diante de estresses abióticos.

Tendo em vista os benefícios da utilização desses microrganismos na agricultura, o Trichoderma é muitas vezes utilizado em conjunto com fungicidas e inseticidas no tratamento de sementes, apresentando normalmente boa eficiência. Contudo, por se tratar de microrganismos vivos, de natureza fungica, é preciso compreender que determinados defensivos utilizados no tratamento de sementes de soja, em especial fungicidas, podem prejudicar o crescimento e desenvolvimento do Trichoderma.

Nesse sentido, conhecer a compatibilidade dos defensivos utilizados no tratamento de sementes com o Trichoderma, é essencial para assegurar a manutenção da eficiência desse fungo.

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Avaliando a compatibilidade do fungo Trichoderma  harzianum com os principais tratamentos de sementes utilizados na cultura da soja (Maxim Advanced®; Maxim XL®; Apron RFC®; Stan-dak TOP®; Spectro® ,  Certeza N®  e Ecotrich WP®), Branco et al. (2025) observaram que, há diferença na porcentagem de  inibição do crescimento micelial de Trichoderma, sendo que, o  fungicida Maxim  Advanced®  foi  classificado  como  o  mais  prejudicial  ao  Trichoderm,  uma  vez  que  mesmo  sem  estar  em  contato direto com fungo inibiu em 73,45% seu crescimento.

Tabela 1. Porcentagem de inibição do crescimento micelial de Trichoderma em placas incubadas por sete dias com sementes de soja tratadas com fungicidas.
*Médias seguidas pela mesma letra na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Fonte: Branco et al., (2025)

Os autores ainda destacam que após o Maxim  Advanced®, as maiores inibições do crescimento micelial de Trichoderma foram observadas com o uso de Maxim XL® e Apron RFC®, os quais compartilham os mesmos ingredientes ativos, porém com concentrações diferentes para o metalaxil-M, apresentaram comportamento similar entre si. Nesse contexto, considerando a igualdade entre os ingredientes ativos desses fungicidas, é provável que a maior inibição observada em Maxim Advanced® esteja associada a elevada concentração de tiabendazol em sua formulação (Branco et al., 2025).

Além do estudo recente desenvolvido por  Branco et al., (2025), outros trabalhos também avaliaram a compatibilidade do Trichoderma com produtos utilizados no tratamento de sementes. Ainda que haja poucas informações sobre o tema, no geral ocorre a concordância quanto às incompatibilidades ou compatibilidades (Tabela 2), mesmo com distintas metodologias de avaliações   (Dalacosta; Furlan; Mazaro, 2019).

Tabela 2. Estudos encontrados de compatibilidade/incompatibilidade de Trichoderma spp. com ingredientes ativos de fungicidas.
Fonte: Dalacosta; Furlan; Mazaro (2019)

Com base nos aspectos observados, pode-se dizer que, quando se optar pelo uso do Trichoderma  no tratamento de sementes, deve-se atentar para o adequado posicionamento dos fungicidas, evitando fungicidas que apresentem incompatibilidade com fungo, para que o Trichoderma possa se desenvolver, trazendo benefícios à cultura.


Veja mais: Coinoculação da soja com estirpes de A. brasilense pode proporcionar aumento da produtividade de até 25% em comparação a inoculação padrão


Referências:

BRANCO, J. S. et al. COMPATIBILIDADE DE Trichoderma COM FUNGICIDAS UTILIZADOS NO TRATAMENTO DE SEMENTES DE SOJA. Revista Observatorio de La Economia Latinoamericana, Curitiba, 2025. Disponível em: < https://ojs.observatoriolatinoamericano.com/ojs/index.php/olel/article/view/8643/5469 >, acesso em: 24/03/2025.

DALACOSTA, N. L.; FURLAN, S. H.; MAZARO, S. M. COMPATIBILDIADE DE PRODUTOS À BASE DE TRICHODERMA COM FUNGICIDAS UTILIZADOS NO TRATAMENTO DE SEMENTES. TRICHODERMA: USO NA AGRICULTURA. Cap. 12, 2019. Disponível em: < https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1117296/trichoderma-uso-na-agricultura >, acesso em: 24/03/2025.

MONTE, E.; BETTIOL, W.; HERMOSA, R. TRICHODERMA E SEUS MECANISMOS DE AÇÃO PARA O CONTROLE DE DOENÇAS DE PLANTAS. Embrapa, Trichoderma: Uso na agricultura, cap. 4, 2019. Disponível em: < https://www.alice.cnptia.embrapa.br/alice/handle/doc/1117296 >, acesso em: 24/03/2025.

 

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