Uma lavoura de soja produtiva é construída pelos componentes de produtividade. Os componentes ótimos são os valores que maximizam as produtividades da cultura. A definição desses componentes ótimos foi através de avaliações em experimentos conduzidos pela Equipe FieldCrops em lavouras de todo Brasil, desde 2010. Salienta-se que os valores são resultados da interação genética x ambiente x manejo, que deve servir como referência para os produtores e consultores na busca de lavouras de soja mais sustentáveis e lucrativas.

Figura 1. Relação entre estágios de desenvolvimento, fatores ambientais e componentes de produtividade em soja. Adaptado de Andrade et al. (2000).

O número de plantas por hectare é o primeiro componente de produtividade. Ele é definido durante a semeadura e no estabelecimento inicial de plântulas, dependendo de características genéticas da cultivar, época de semeadura e recursos disponíveis na lavoura. A utilização de sementes de boa qualidade, boa plantabilidade e proteção de sementes são fatores importantes para definição desse componente.

O componente de produtividade mais variável com a modificação do arranjo de plantas (densidade e espaçamento entre linhas) é o número de legumes por planta (ou área). Seguindo estudos de quase mil lavouras, os valores ideais encontrados foram de 1896 legumes por m2. Para atingir tal valor, é necessário o ajuste na densidade de plantas de acordo com a genética das cultivares e época de semeadura, a fim de estimular o aumento do número de nós por área, e sem ocorrer restrição de radiação solar no terço médio e inferior do dossel, necessário para fixação de flores e legumes (Winck et al.,2020).

Figura 2. Relação entre a produtividade de grãos (ton ha-1) e o número de legumes por m2 em soja para cultivo irrigado (círculos azuis) e sequeiro (círculos amarelos). Fonte: Tagliapietra et al., 2022 – Ecofisiologia da soja visando altas produtividades.

O valor ótimo de grãos por legume foi de 2,2 para alcançar altas produtividades. O número de grãos por legume é definido geneticamente, sendo diretamente afetado pela ocorrência de estresses hídricos entre R2 e R5 e presença de insetos sugadores (percevejos) (Mundstock & Thomas, 2005)

Figura 3. Relação entre a produtividade de grãos (ton ha-1) e o número de grãos por legume em soja para cultivo irrigado (círculos azuis) e sequeiro (círculos amarelos). Fonte: Tagliapietra et al., 2022 – Ecofisiologia da soja visando altas produtividades.

O valor agronômico ótimo de peso de mil grãos é 207 g. O peso de grãos é determinado pela genética, sendo fortemente influenciado pelo ambiente (chuva) e manejo (densidade de semeadura, fertilidade do solo e proteção contra o ataque de insetos sugadores e doenças) (Pandey & Torrie, 1973).

Figura 4. Relação entre a produtividade de grãos (ton ha-1) e o peso de mil grãos (g) em soja para cultivos irrigados (círculos azuis) e sequeiro (círculos amarelos). Fonte: Tagliapietra et al., 2022 – Ecofisiologia da soja visando altas produtividades.

A altura ideal encontrada para atingir altas produtividades foi de 104 cm. A altura de planta é uma característica fundamental na escolha da cultivar, pois está relacionada com o índice de área foliar, eficiência no uso da radiação solar e tolerância ao acamamento. Se houver crescimento excessivo em altura (>120 cm) até R2, as folhas do estrato inferior da planta (baixeiro) senescem por falta de radiação solar, deixando de diferenciar os meristemas presentes nas axilas das folhas senescidas, em flores e legumes e ocasionando perdas de produtividade. Em contrapartida, a baixa altura de plantas reflete um baixo número de nós (e consequentemente baixo número de legumes por planta) e baixa inserção do primeiro legume, podendo resultar em perdas durante a colheita

Figura 5. Relação entre a produtividade de grãos (ton ha-1) e a altura da planta (cm) em soja para cultivos irrigados (círculos azuis) e sequeiro (círculos amarelos). Fonte: Tagliapietra et al., 2022 – Ecofisiologia da soja visando altas produtividades.

O valor agronômico ótimo é de 18 nós por planta. O número final de nós (NFN) da soja é determinado pela interação entre temperatura e fotoperíodo que as plantas foram expostas ao longo do ciclo de desenvolvimento e pela ausência de estresses abióticos, como seca (Setiyono et al., 2007).

Figura 6. Relação entre a produtividade de grãos (ton ha-1) e o número final de nós da planta em soja para cultivos irrigados (círculos azuis) e sequeiro (círculos amarelos). Fonte: Tagliapietra et al., 2022 – Ecofisiologia da soja visando altas produtividades.

A nível de lavoura os componentes agronômicos ótimos são valores de referência para que os agricultores e consultores identifiquem quais foram os fatores biofísicos e de manejo que impediram a concretização desses valores na lavoura e, a partir disso, planejem estratégias para buscar os componentes agronômicos ótimos e atingir altas produtividades. Diante desses valores “ótimos” dos componentes de produtividade, pode-se inferir que em uma lavoura com 1836 legumes por m², 2,2 grãos por legume e peso de mil grãos de 207 g, há potencial para produzir 8,3 ton ha-1, o que corresponde a 139,3 sacas de soja por hectare

Referências Bibliográficas

ECOFISIOLOGIA DA SOJA: VISANDO ALTAS PRODUTIVIDADES / EDUARDO LAGO TAGLIAPIETRA… [ET AL.]. 2. ED. SANTA MARIA: [S. N.], 2022



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