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Controle Biológico de Pragas

O controle biológico de pragas é um fenômeno que ocorre espontaneamente na natureza, de acordo com a Embrapa, o conceito fundamental do controle biológico é o controle de pragas e insetos transmissores de doenças por meio do uso de inimigos naturais, que podem ser outros insetos benéficos, predadores, parasitoides ou microrganismos como fungos, vírus e bactérias, em resumo, esse método consiste no uso de organismos vivos para reduzir a população de uma praga específica, tornando-a menos abundante ou menos prejudicial.

De acordo com a CEMA, o termo controle biológico foi empregado pela primeira vez por Smith em 1919, para designar o uso de inimigos naturais para o controle de insetos-praga, ao longo do tempo, essa designação foi utilizada para indicar todas as formas de controle, alternativas ao controle químico convencional, que envolvessem métodos biológicos. Nava (2007), afirma que historicamente, o controle biológico data o século III a.C., quando os chineses observaram que as formigas predadoras reduziam as populações de pragas dos citros.

Os parasitoides, de acordo com Silva (2013), são insetos que parasitam outros insetos, causando sua morte, o inseto parasitado é chamado de hospedeiro. O inimigo natural deposita seus ovos dentro ou fora do corpo de seu hospedeiro, desses ovos nascem larvas que se alimentam do corpo da vítima, a maioria das espécies de parasitoides prefere um tipo ou fase de desenvolvimento do hospedeiro.

Figura 1. Telenomus podisi parasitando ovos do percevejo Euschistus heros.

Foto: Adair Carneiro (Embrapa).

Nava (2007), destaca que o primeiro caso de controle biológico com parasitoides foi com a descoberta de Aldrovandi, em 1602 que relatou o parasitismo da lagarta-das-crucíferas por Apanteles glomeratus. Conforme Bueno et al. (2021), entre os parasitoides que atacam seu hospedeiro na fase de ovos, destacam-se Trissolcus basalis, Telenomus podisi e Trichogramma spp., os quais são os mais estudados e com maior potencial de controle na cultura da soja. Trata-se de “vespinhas” que estão presentes de forma natural no campo e podem ser cultivadas em laboratórios para serem amplamente liberadas em programas de controle biológico aplicado

Os predadores, como afirma Silva (2013), são inimigos naturais que se alimentam de outros insetos, matando-os ao mastigá-los ou sugar o conteúdo de seu corpo. Esses insetos apresentam vida livre, vivem sobre o solo ou plantas, em busca de sua presa, a maioria dos predadores, se alimentam de presas apenas na fase de larva ou ninfas. Alguns predadores não apresentam preferencias, alimentando-se de uma infinidade de presas, enquanto outros, são bem específicos e preferem somente determinadas presas.

Figura 2. Inimigo natural joaninha e suas presas, os pulgões.

Foto: Alessandra de Carvalho Silva (2016).

Os principais predadores encontrados na cultura da soja, de acordo com Gomez (2021), são diferentes espécies de hemípteros e coleópteros, além de formigas e aranhas que também se destacam como predadores importantes na cultura. Entre os hemípteros, destacam-se as espécies Orius sp. (Anthocoridae), Geocoris sp. (Lygaeidae), Tropiconabis sp. (Nabidae) e Podisus sp. que se alimentam, principalmente de ovos, lagartas e ninfas pequenas. Os coleópteros que ocorrem com maiores frequências são espécies de carabídeos como Callida sp., Lebia concinna e Calosoma granulatum, os quais são polífagos, nas fases jovem e adulta, e alimentam-se de diversas pragas (Gomez, 2021).

O controle biológico com entomopatógenos, de acordo com Valicente (2009), consiste no uso de fungos, vírus, bactérias, nematóides ou protozoários para o controle de insetos-praga. O autor destaca que diversos fungos são usados em no controle biológico como Metarhizium anisopliae, Beauveria bassaiana e Nouniurae rileyi. Dentre os baculovírus destacam-se os nucleopoliedrovirus (VPN) e os granulovírus (VG). Entre as bactérias entomopatogênicas mais utilizadas, destacam-se Bacillus thuringiensis, Bacillus sphaericus, entre outras.

Figura 3. Ampla gama de artrópodes infectados por Beauveria bassiana: a) Ninfa da mosca-branca Bemisia tabaci; b) Bicudo da bananeira Metamasius hemipterus; c) Broca-do-café Hyphotenemus hampei; d) Mosca-das-frutas Anastrepha fraterculus; e) ácaro Tetranychus urticae; f) Percevejo da soja Nezara viridula; g) Psilídeo dos citros Diaphorina citri; h) Percevejo-bronzeado do eucalipto Thaumastocoris peregrinus.

Fotos: Gabriel M. Macarin, Rogério B. Lopes e Luiz FL Padulla (2016).

Oliveira-Filho et al. (2004), relatam que no Brasil, o registro mais antigo de ingrediente ativo de inseticidas a base de B. thuringiensis foi registrado no ano de 1991. De acordo com a Embrapa (2019), atualmente a bactéria Bacillus thuringiensis (Bt), é um dos agentes de controle biológico mais utilizado no mundo. Gomez (2021), afirma que produtos a base em diferentes linhagens da bactéria Bacillus thuringiensis contêm toxinas que são ativadas no intestino das lagartas, fazendo com que as lagartas parem de se alimentar poucas horas após contaminadas, levando posteriormente a morte das lagartas.

Dentre os vírus entomopatogênicos, Moscardi destaca que o Baculovirus anticarsia é um vírus de ocorrência natural capaz de controlar a lagarta-da-soja (A. gemmatalis). Já se tratando de fungos entomopatogênicos, Gomez (2021), destaca que um dos mais conhecidos na cultura da soja é o fungo Nomuraea rileyi que ataca a lagarta-da-soja e a falsa-medideira.



De acordo com Simonato et al. (2014), existem três estratégias do uso do controle biológico, são eles: Controle biológico natural, Controle biológico clássico e Controle biológico aplicado. O Controle Biológico Natural diz respeito à utilização dos inimigos naturais já presentes no ecossistema, visando à preservação e conservação desses agentes por meio de práticas culturais que sustentam seu desenvolvimento natural no agroecossistema, esse método visa ampliar a população já existente de forma eficaz.

O Controle Biológico Clássico envolve a importação de agentes de controle, buscando identificar um organismo biológico eficaz para suprimir a praga específica em questão. Simonato et al. (2014), destacam ainda que após a importação e a avaliação através da quarentena, é possível liberar um pequeno grupo de insetos na mesma área. Isso permite que a população dos inimigos naturais cresça no local da liberação. Essa é uma abordagem de controle que funciona a médio e longo prazo, variando conforme a espécie do inimigo natural e da região da liberação. Nava (2007), destaca que o primeiro programa de controle biológico clássico de sucesso foi introduzido com o uso de joaninha Rondoli cardinalis, da Austrália para o controle de Icerya purchasi em 1888 na Califórnia, EUA.

Por sua vez, o Controle Biológico Aplicado, é caracterizado pelo processo de soltar uma grande quantidade de inimigos naturais em determinada cultura, após a criação massal em laboratório, e essa estratégia visa uma rápida redução da população de pragas de maneira eficiente. Simonato et al. (2014), afirmam que o Controle Biológico Aplicado na cultura da soja é promissor com o emprego de parasitoides, como o Trichogramma pretiosum, que parasita ovos de espécies de insetos, incluindo Anticarsia gemmatalis, Heliothis virescens, Chrysodeixis includens e Helicoverpa armígera.

De acordo com Ávila et al. (2021), foi observado que a combinação de inseticidas químicos com agentes biológicos proporcionou melhor eficiência no controle da cigarrinha-do-milho. O controle biológico das populações de cigarrinha-do-milho acontece naturalmente através da ação de parasitoides de ovo de ninfas e de adultos por predadores, bem como por meio do uso de fungos entomopatogênicos. O uso de patógenos como Bauveria bassiana e Isaria fumosorosea, aplicados em pulverizações tem se tornado uma estratégia de manejo importante no combate à cigarrinha-do-milho.

Existem várias vantagens do controle biológico em relação ao uso de produtos químicos, sendo que uma das vantagens do uso do controle biológico, é a redução do uso de inseticidas. Mesmo que apresente um custo mais elevado, possui maior eficácia no controle de pragas, gerando maior rentabilidade a longo prazo para o sistema de produção, ao mesmo tempo que promove a sustentabilidade, com menor deposição de resíduos, eficiência na mortalidade e preservação dos inimigos naturais no ambiente agrícola.


Veja mais: Controle biológico de nematoides: Uma estratégia promissora



Referências:

ÁVILA, C. J. et al. A CIGARRINHA Daulbulus maidis E OS ENFEZAMENTOS DO MILHO NO BRASIL. Plantio Direto, Pragas ed. 182, 2021. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/231995/1/37279.pdf >, acesso em: 09/08/2023.

BUENO, A. F.; FERREIRA, B. S. C.; BUENO, R. C. O. F. SOJA MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS: PARASITÓIDES. Embrapa Soja, 2021. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/agencia-de-informacao-tecnologica/cultivos/soja/producao/manejo-integrado-de-pragas/inimigos-naturais-das-pragas-de-soja/parasitoides >, acesso em: 09/08/2023.

CEMA. CONTROLE BIOLÓGICO. Cema Agricultura Biológica. Disponível em: < https://cema.bio.br/institucional/controle-biologico#:~:text=O%20termo%20Controle%20Biol%C3%B3gico%20foi,qu%C3%ADmicos%2C%20que%20envolvessem%20m%C3%A9todos%20biol%C3%B3gicos. >, acesso em: 09/08/2023.

EMBRAPA. BRASIL É LÍDER MUNDIAL EM TECNOLOGIAS DE CONTROLE BIOLÓGICO. Notícias, 2019. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/busca-de-noticias/-/noticia/46366490/brasil-e-lider-mundial-em-tecnologias-de-controle-biologico >, acesso em: 09/08/2023.

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GOMEZ, D. R. S. INIMIGOS NATURAIS DAS PRAGAS DE SOJA:: PREDADORES. Embrapa Soja, 2021. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/agencia-de-informacao-tecnologica/cultivos/soja/producao/manejo-integrado-de-pragas/inimigos-naturais-das-pragas-de-soja/predadores >, acesso em: 09/08/2023.

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MOSCARDI, F. INIMIGOS NATURAIS DAS PRAGAS DE SOJA: VÍRUS. Embrapa. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/agencia-de-informacao-tecnologica/cultivos/soja/producao/manejo-integrado-de-pragas/inimigos-naturais-das-pragas-de-soja/entomopatogenos/virus >, acesso em: 09/08/2023.

NAVA, D. E. CONTROLE BIOLÓGICO DE INSETOS-PRAGA EM FRUTÍFERAS DE CLIMA TEMPERADO: UMA OPÇÃO VIÁVEL, MAS DESAFIADORA. Embrapa, Documentos 208, Pelotas – RS, 2007. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/33948/1/documento-208.pdf >, acesso em: 09/08/2023.

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SILVA, A. C. GUIA PARA O CONHECIMENTO DE INIMIGOS NATURAIS DE PRAGAS AGRÍCOLAS. Embrapa, Brasília – DF, 2013. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/90268/1/ALESSANDRA-2013-CARTILHA-GUIA-INIMIGOS-NATURAIS-IMPRESSAO02-AGOSTO2013.pdf >, acesso em: 09/08/2023.

SIMONATO, J.; GRIGOLLI, J. F. J.; OLIVEIRA, H. N. CONTROLE BOLÓGICO DE INSETOS-PRAGA NA SOJA. Tecnologias e Produção: Soja 2013/2014, Controle Biológico, cap. 8, p. 178-193. Disponível em: < https://www.researchgate.net/publication/306569900_Controle_Biologico_de_Insetos-Praga_na_Soja_-_Capitulo_08_Titulo_Tecnologia_e_Producao_Soja_20132014 >, acesso em: 09/08/2023.

VALICENTE, F. H. CONTROLE BIOLÓGICO DE PRAGAS COM ENTOMOPATÓGENOS. Informe Agropecuário, Controle biológico de pragas, doenças e plantas invasoras, v.30, n. 251, p. 48-55, Belo Horizonte – MG, 2009. Disponível em: < https://core.ac.uk/download/pdf/45503565.pdf >, acesso em: 09/08/2023.

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Redação: Vívian Oliveira Costa, Eng. Agrônoma pela Universidade Federal de Santa Maria.

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