A lagarta-do-cartucho, Spodoptera spp., pode ser considerada uma das principais pragas da cultura do milho, causando danos e perdas de produtividade significativas, chegando a causar até 34% de redução na produção do milho (Loguercio; Carneira; Carneira, 2002). Embora seja possível observar um complexo de espécies pertencentes ao gênero Spodoptera (figura 1), pode-se dizer que a espécie de maior importância econômica e mais conhecida é a Spodoptera frugiperda.
Figura 1. Identificação do Complexo Spodoptera.
Felizmente, com o avanço tecnológico, novas biotecnologias como o milho Bt (Bacillus thuringiensis) possibilitaram o melhor controle dessa lagarta no milho, reduzindo os impactos negativos ocasionados por ela. Contudo, o manejo e utilização adequada dessa tecnologia exige uma séria de praticas e cuidados visando a manutenção de persistência do controle de lagartas oferecido pelo milho Bt.
Conforme destacado por Marucci et al. (2009), o milho Bt também confere controle a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), mas a eficiência desse controle está condicionada a presença ou não de populações resistentes ou toleradas da praga a biotecnologia, daí a importância do cultivo das áreas de refúgio.
Figura 2. Esquema da ação das toxinas Bt no intestino médio de insetos suscetíveis.
Embora a tecnologia Bt permita um controle satisfatório da lagarta-do-cartucho, especialmente quando integrada a outras práticas de manejo e controle, em algumas situações o controle químico da lagarta-do-cartucho é necessário para evitar maiores perdas produtivas. Para tanto, conhecer o período adequado de controle, bem como a eficiência de alguns inseticidas no controle da lagarta é essencial.
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Uma das principais características das lagartas do complexo Spodoptera, é que primeiramente, quando ainda pequenas, elas causam a raspagem das folhas do milho (figura 3) e posteriormente, quando já bem desenvolvidas, as lagartas atacam o cartucho do milho (figura 4), se abrigando no interior dele, o que dificulta significativamente o controle de praga em virtude da dificuldade de se atingir o alvo.
Figura 3. Raspagem da folha de milho ocasionada pela lagarta-do-cartucho.
Figura 4. Lagarta-do-cartucho, danos no cartucho do milho.
Conforme Grigolli & Grigolli (2019), em um estudo realizado pela Fundação MS avaliando a eficiência de inseticidas no controle da lagarta-do-cartucho, é possível observar a maior eficiência de controle da lagarta quando a aplicação de inseticidas ocorre durante o período de início da raspagem das folhas, quando comparado ao controle de lagartas já encartuchadas. Os tratamentos, doses e ingredientes ativos dos inseticidas analisados no presente estudo podem ser observados na tabela 1.
Tabela 1. Tratamentos, dosagem (mL ou g ha-1) e ingrediente ativo dos inseticidas analisados. FUNDAÇÃO MS, Maracaju, MS, 2020.
Com base nos resultados obtidos (tabela 2), dentre os inseticidas avaliados para o controle da lagarta-do-cartucho no período inicial da raspagem das folhas, os ingredientes ativos Clorantraniliprole + Lambda-Cialotrina; Clorantraniliprole; Espinoteram; Clorfenapir e Benzoato de Emamectina apresentaram eficiência de controle superior a 80% aos 14 dias após a aplicação (DAA) e níveis de eficiência de controle ainda superiores aos 1; 4; 7 e 10 DAA.
Tabela 2. Eficácia (%) de controle de Spodoptera frugiperda aos 1, 4, 7, 10 e 14 dias após a aplicação (DAA) de diferentes inseticidas no início da raspagem das lagartas em plantas de milho. FUNDAÇÃO MS, Maracaju, MS, 2020 (Grigolli & Grigolli, 2019).
Já para o controle de lagartas encartuchadas, apenas dois ingredientes ativos apresentaram níveis de eficiência de controle superior a 80% aos 14 DAA, destacando a menor eficiência de controle da lagarta durante esse período. Para conferir o trabalho completo clique aqui!
Cabe destacar que assim como o período de controle (início da raspagem ou encartuchamento), o monitoramento da área de cultivo para determinação do nível de ação é de suma importância para a maior eficiência de controle da lagarta do cartucho, lembrando que para a cultura do milho, o nível de controle desta praga é de 10% de plantas com folhas raspadas.
Referências:
GRIGOLLI, J. F. J.; GRIGOLLI, M. M. K. MANEJO E CONTROLE DE PRAGAS DO MILHO SAFRINHA. Fundação MS, Tecnologia e Produção: Milho Safrinha 2019, 2019. Disponível em: < https://www.fundacaoms.org.br/base/www/fundacaoms.org.br/media/attachments/354/354/5ebc46562b3e23b8b4cbb5fa16275a971d474ae699160_03-pragas-do-milho-safrinha-2019-somente-leitura-.pdf >, acesso em: 29/11/2021.
LOGUERCIO, L. L.; CARNEIRO, N. P.; CARNEIRO, A. A. MILHO BT: ALTERNATIVA BIOLÓGICA PARA O CONTROLE BIOLÓGICO DE INSETOS PRAGA. Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento – nº 24- janeiro/fevereiro 2002. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/50711/1/milho-bt.pdf >, acesso em: 29/11/2021.
MURACCI, R. C. et al. LEVANTAMENTO DOS DANOS CAUSADOS PELA INFESTAÇÃO DE Spodoptera frugiperda (J.E. Smith) EM LAVOURAS COMERCIAIS DE MILHO BT NA REGIÃO CENTRAL DE MINAS GERAIS. Embrapa, Circular Técnica, n. 134, 2009. Disponível em: < https://www.embrapa.br/documents/1344498/2767891/levantamento-dos-danos-causados-pela-infestacao-de-spodoptera-frugiperda-em-lavouras-comerciais-de-milho-bt-na-regiao-central-de-mg.pdf/a3430103-a3dc-44f2-93bf-ca04e92080f4 >, acesso em: 29/11/2021.