Anteriormente chamado Nomuraea rileyi, o Metarhizium rileyi é um fungo entomopatogênico. Está naturalmente nas lavouras (principalmente em período de alta umidade: 75-80%) e possui capacidade de controlar lagartas como a lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis), falsa-medideira (Chrysodeixis includens) e curuquerê-do-algodoeiro (Alabama argillacea),
Também possui efeito na lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) e na lagarta-do-velho-mundo (Helicoverpa armigera).
Devido sua presença, o controle com moléculas químicas pode ser dispensado dependendo das condições ambientais.
Entretanto, devemos entender sua dinâmica e seu comportamento, a fim de notarmos a importância do controle de pragas com o fungo, bem como os resultados de manejo que ele proporciona.
Figura 1. Sintomas de infecção por Metarhizium rileyi.
O fungo torna a lagarta branca devido ao seu crescimento no tegumento exterior da praga, apresentando aspecto mumificado, chamado comumente por “doença-branca”. Quando ocorre formação de esporos, esses são dispersados na lavoura e contaminam outras lagartas (Ageitec).
Principais problemas enfrentados que reduzem o uso?
A eficiência de controle deste bioinseticida varia de 40-100%. A grande discrepância de valores está relacionada com a qualidade do material produzido e as condições ambientais no momento da aplicação.
Em anos chuvosos, ocorre maior presença de lagartas atacadas pois há condições ideais para o desenvolvimento dos fungos.
Em Anticarsia gemmatalis, a eficiência varia de 30-90%, de acordo com as linhagens do fungo (Marchetto et al.).
A densidade de semeadura interfere no desenvolvimento dos fungos. Plantas que apresentam maior densidade foliar, respondem melhor para a sobrevivência do patógeno. Aplicações do biológico a partir de R3 (início da formação das vagens) podem favorecer a sua disseminação (Borges, 2016).
A eliminação dos fungos ocorre com aplicações de fungicidas, principalmente para a ferrugem asiática, uma das doenças mais importantes na soja. Assim, escolha fungicidas mais seletivos para não suprimir os inimigos naturais.
A dificuldade da produção em escala comercial e a qualidade das formulações são impasses que ainda precisam ser melhorados. Além disso, em algumas regiões a produção é limitada ou ainda não há comércio com a introdução do fungo (Fronza et al., 2017).
Quais são as vantagens do seu uso?
- Redução das aplicações de moléculas químicas;
- Preservação de inimigos naturais;
- Em condições de temperatura e umidade elevada, dispensa-se o uso de inseticidas para lagartas, ocorrendo controle natural;
- Efeito prolongado do fungo: 14 dias após aplicação, houve controle de 98% de Spodoptera cosmioides (Loureiro et al., 2020).
Após a morte da lagarta, ocorre disseminação do fungo na lavoura, servindo como fonte de inoculo por um longo tempo, mesmo após expostos a baixa umidade relativa do ar (26-30%), como mostra a Figura 2.
Ou seja, a permanência do fungo na lavoura é muito elevada e novos surtos podem ocorrer em condições ideais. Para sobreviver necessita de condições de altas temperatura (26°C) e de umidade relativa do ar (>90%).
Figura 2. Produção de conídios de N. rileyi em cadáveres da lagarta-da-soja (A. gemmatalis).
Eficiência no controle de lagartas é superior a 90%
Em estudos conduzidos por Borges (2016), intitulado “PRODUTOS FITOSSANITÁRIOS NO CONTROLE DE LAGARTAS Chrysodeixis includens Walker (1858) (LEPIDOPTERA: NOCTUIDAE) NA CULTURA DA SOJA”, testou-se os produtos e notamos a eficiência de controle em falsa-medideira.
Foram aplicados apenas 1 única dose de B. thuringiensis var. kurstaki (cepa HD-1) (Bt), N. rileyi (isolado UFMS 02) (Nr) e o inseticida Flubendiamida (Fd).
Nota-se a eficiência dos controles biológicos na maior dose, como Bt e N. rileyi, apresentando valores superiores a 90% de controle, como vimos na Tabela 1. Além disso, o fungo na maior dose de liberação de conídios, apresentou aproximadamente produtividade de 950 kg.ha-1 superior à testemunha.
Tabela 1. Eficiência no controle de falsa-medideira com aplicações de Bt, N. rileyi e flubendiamida.
Para lagartas do Complexo Spodoptera, como S. cosmioides, o fungo pode ser uma alternativa de controle na soja. Em estudos de Lima (2015), verificou-se a eficiência após quase um mês da aplicação.
Concentrações de conídios de 1 x 108 garantem melhor controle da lagarta, atingindo quase 100% de mortalidade.
Figura 3. Mortalidade total (%) das lagartas de S. cosmioides decorridos 22 dias após aplicação de N. rileyi (isolado UFMS 03).
Spodoptera frugiperda também apresenta suscetibilidade ao fungo. Em uma pesquisa com superfície tratada, testou-se CG381 para controle da lagarta-do-cartucho, pois apresenta patogenicidade testada para o fungo. CG1312 apresenta patogenicidade para falsa-medideira (C. includens).
Obteve-se resultados aproximados de 90% de eficiência com CG381, como vimos na Figura 4.
Figura 4. Mortalidade de S. frugiperda com uso do fungo Metarhizium rileyi.
Para Helicoverpa armigera, ocorreu 100% de redução de oviposição com os isolados UFMS 02 e 03 (Loureiro et al., 2020).
Veja também: Culturas com Tecnologia Bt e as Principais Pragas Controladas
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como vimos em diversos trabalhos científicos, direcionados para lagartas como falsa-medideira, lagartas do complexo Spodoptera e Helicoverpa armigera, todas pragas apresentam mortalidade com o uso do fungo Metarhizium rileyi.
O uso do fungo apresenta diversas vantagens, como redução dos custos com defensivos, preservação dos inimigos naturais e efeito contínuo por um período significativo após aplicação. Além disso, os conídios do fungo permanecem na lavoura após a morte das lagartas e podem se dispersar e infectar lagartas sadias.
Contudo, apesar de diversas vantagens, ocorrem impasses em seu uso. Um dos principais obstáculos, é aplicações em condições ambientais desfavoráveis para a sobrevivência do fungo. A temperatura ideal é de 26°C e há necessidade de alta umidade relativa do ar (>90%). Ademais, ainda há dificuldades para produzir materiais em escala comercial e formulações de qualidade.
O uso de organismos entomopatogênicos deve ser planejado na propriedade e, deve-se atentar para as condições ambientais da sua região.
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REFERÊNCIAS
Agência Embrapa de Informação Tecnológica. Fungos. Disponível em: < https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/soja/arvore/CONT000g0gza9sb02wx5ok026zxpgrm8l896.html >. Acesso em: 02.07.2020
Barros. Controle microbiano de lepidópteros-pragas em sistemas produtivos de soja e milho com Metarhizium rileyi (Farlow) (Hypocreales: Clavicipitaceae). Pesquisa de Doutorado em Andamento. 2017
FRONZA, E. et al. Metarhizium (Nomuraea) rileyi as biological control agent. Biocontrol Science and Technology, v. 27, n. 11, p. 1243-1264, 2017.
LIMA, A. R. Bioprospecção do fungo nomuraea rileyi sobre spodoptera cosmioides (walker)(lepidoptera, noctuidae). 2015.
LOUREIRO, E. et al. Virulence of Metarhizium rileyi (Ascomycota: Clavicipitaceae) to Spodoptera cosmioides (Lepidoptera: Noctuidae). Research, Society and Development, v. 9, n. 7, p. 186973962, 2020.
LOUREIRO, E. et al. Performance of Metarhizium rileyi applied on Helicoverpa armigera (Hubner)(Lepidoptera: Noctuidae). Journal of Neotropical Agriculture, v. 7, n. 1, p. 60-65, 2020.
MARCHETTO, et al. EFICIÊNCIA DE LINHAGENS DO FUNGO Nomuraea rileyi no controle de Anticarsia gemmatalis, Spodoptera frugiperda e Pseudoplusia includens. Deptº Ciências Biológicas/UCS
SUJII, E. R.; CARVALHO, V. A.; TIGANO, M. S. Cinética da esporulação e viabilidade de conídios de Nomuraea rileyi (Farlow) Samson sobre cadáveres da lagarta-da-soja, Anticarsia gemmatalis Hübner (Lepidoptera: Noctuidae), em condições de campo. Neotropical Entomology, v. 31, n. 1, p. 85-90, 2002.
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Redação: Equipe Mais Soja.