O controle de lagartas nas culturas agrícolas é indispensável para assegurar a manutenção do potencial produtividade da lavoura. A maioria das lagartas são consideradas pragas desfolhadoras, mas algumas espécies podem inclusive atacar órgãos reprodutivos como flores, assim como há espécies que atacam plântulas, reduzindo o estande de plantas da lavoura.

Principais lagartas da soja

Dentre as principais lagartas que acometem a soja, destacam-se a lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatallis), a lagarta-falsa-medideira (Chrisodeixis includens), a lagarta-helicoverpa (Helicoverpa armígera) e as lagartas do completo Spodoptera. Embora o período de ocorrência dessas pragas possa variar de acordo com a espécie, no geral, o maior cuidado com lagartas deve ocorrer nas fases de estabelecimento da lavoura e durante o período reprodutivo da cultura.

Figura 1. Períodos críticos para ocorrência e danos de lagartas de diferentes espécies na soja.
Crédito da figura: Jerson Guedes.
Nível de ação

O controle dessas lagartas em escala comercial, baseia-se no tratamento de sementes com inseticida para o controle inicial e no emprego de inseticidas via pulverização durante o restante do ciclo da cultura. Para um controle químico eficiente, o monitoramento das lagartas deve ser intensificado, a fim de aumentar a assertividade no momento de aplicação.

Para a maioria das lagartas que acometem a soja, há níveis de ação pré-estabelecidos, com base na porcentagem de desfolha da soja e número de lagartas por metro (quadro 1).

Quadro 1. Níveis de ação para lagartas em soja.
Fonte: IRAC-BR (2018)
Controle biológico de lagartas com Trichogramma pretiosum

O controle biológico de lagartas em soja pode ser compreendido como uma ferramenta complementar ao controle químico, atuando junto ao MIP (manejo integrado de pragas) para reduzir as populações de lagartas nas lavouras.

Dentre as principais alternativas disponíveis para o controle biológico de lagartas em soja, destacam-se os parasitoides de ovos, sendo um dos principais o Trichogramma pretiosum.

Os parasitoides de ovos são insetos de vida livre na fase adulta, conhecidos popularmente como “vespinhas”, que durante a sua fase larval, vivem e se alimentam dentro de um ovo hospedeiro (geralmente um ovo de uma praga), provocando a morte (e, portanto, o controle) desse ovo (Bueno et al., 2024).

As vespinhas do grupo Trichogramma parasitam os ovos de várias ordens de insetos e podem ser multiplicadas em laboratório demaneira fácil e econômica, utilizando-se, para isso, hospedeiros alternativos (Cruz & Monteiro, 2004).


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Figura 2. Vespa de Trichogramma pretiosum parasitando ovos.
Foto: Koppert

A fêmea adulta da vespinha Trichogramma pretiosum coloca seus ovos no interior dos ovos do hospedeiro. Todo o desenvolvimento do parasitóide se passa dentro do ovo da praga. O parasitismo pode ser verificado cerca de quatro dias após a postura, pois os ovos parasitados tornam-se enegrecidos (figura 3). O ciclo de vida do parasitóide é, em média, de dez dias (Cruz & Monteiro, 2004)

Figura 3. Ciclo biológico de Trichogramma pretiosum parasitando ovos de Anticarsia gemmatalis.
Fonte: Bueno et al. (2024)

O Trichogramma pretiosum  apresenta grande aptidão para o controle de lagartas. Segundo Bueno et al. (2024), é considerada a espécie de parasitoides de ovos de lepidópteros mais encontrada na soja, responsável por mais de 90% do parasitismo natural observado nas lavouras.

Resultados de pesquisas científicas evidenciam que a vespinha Trichogramma pretiosum  apresenta eficiência no controle das lagartas do complexo Spodoptera, de Anticarsia gemmatalis, Crysodeixis includens, Rachiplusia nu, Trichoplusia ni, Helicoverpa armígera, Helicoverpa zea e Chloridea virescens, demonstrando capacidade de parasitar mais de 50 ovos/vespa, dependendo da espécie de lagarta (tabela 1).

Tabela 1. Parasitismo (número de ovos parasitados/fêmea parasitoide durante sua vida adulta) de Trichogramma pretiosum em diferentes ovos hospedeiros.
Fonte: Bueno et al. (2024)

Embora a vespinha Trichogramma pretiosum  apresente grande aptidão para o controle de lagartas em soja, vale lembrar que o controle das populações da praga ocorre pela redução da eclosão das lagartas, uma vez que a vespa atua nos ovos das lagartas e não na praga adulta. Com isso em vista, o uso dos parasitoides de ovos deve seguir algumas recomendações para o sucesso no manejo.

Na cultura da soja, a maioria das recomendações de manejo baseiam-se no uso das vespas assim que observada a presença das mariposas das lagartas nas áreas de cultivo e/ou capturadas mariposas em armadinhas de feromônio. Nesse sentido, o monitoramento das áreas e o manejo proativo é essencial para o sucesso do controle biológico.

Em casos mais avançados do desenvolvimento da praga, o controle químico faz-se necessário quando atingidos os níveis de ação para a cultura da soja. No entanto, quando bem implementado, o controle biológico com parasitoides de ovos é uma interessante alternativa de manejo, principalmente quando inserido no MIP.


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Referências:

BUENO, A. F. et al. USO DE PARASITOIDES DE OVOS NO MANEJO DE LAGARTAS EM SOJA E MILHO. Embrapa, Comunicado Técnico, n. 110, 2024. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1163027/1/Com-Tec-110.pdf >, acesso em: 10/07/2024.

CRUZ, I.; MONTEIRO, M. A. R. CONTROLE BIOLÓGICO DA LAGARTA DO CARTUCHO DO MILHO, Spodoptera frugiperda, UTILIZANDO O PARASITÓIDE DE OVOS Trichogramma pretiosum. Embrapa, Comunicado Técnico, n. 98, 2004. Disponível em: < https://www.embrapa.br/documents/1344498/2767891/controle-biologico-da-lagarta-do-cartucho-do-milho-utilizando-o-parasitoide-de-ovos-trichogramma-pretiosum.pdf/6b31beac-ca94-4b16-8872-8f1ed4774bed >, acesso em: 10/07/2024.

IRAC-BR. MANEJO DA RESISTÊNICA A INSETICIDAS E PLANTAS Bt. IRAC: Comitê de Ação à Resistência a Inseticidas: Brasil, 2018. Disponível em: < https://www.irac-br.org/_files/ugd/6c1e70_d509bf58d94048358f3a3e6cb448f761.pdf >, acesso em: 10/07/2024.

KOPPERT. PRETIOBUG. Koppert do Brasil. Disponível em: < https://www.koppert.com.br/pretiobug/ >, acesso em: 10/07/2024.

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