Autores: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum e Jaciele Moreira.

As cotações da soja em Chicago melhoraram mais um pouco nesta semana. O primeiro mês cotado fechou a quinta-feira (18) em US$ 8,73/bushel, contra US$ 8,66 uma semana antes.

Um dos motivos deste movimento está no clima estadunidense. Começam a existir divergências entre os meteorologistas sobre o mesmo para as próximas semanas no Meio Oeste dos EUA. Alguns falam em clima normal, outros falam em clima mais seco, com calor acima do normal.

Por outro lado, temperando esta situação mais altista, se encontra um ritmo de comercialização antecipada da nova safra, mais lento nos EUA. Os preços ainda baixos não estão motivando os produtores locais a venderem. Para muitos produtores, tais preços não pagariam os custos totais da atual safra que está em processo final de semeadura.

Dito isso, o fato é que existe espaço para novas altas em Chicago até o momento da colheita em outubro/novembro. O “mercado do clima” nos EUA continuará sendo um elemento fundamental. A partir de novembro, em caso de safra cheia, Chicago deverá recuar em não havendo outros elementos altistas em jogo. Se ocorrer o contrário, a soja voltará aos patamares superiores aos US$ 9,00/bushel, que não são alcançados desde janeiro passado.

Na prática, os produtores estadunidenses estão diante de três fatos importantes nos últimos dois anos, os quais têm modificado o panorama dos preços locais da oleaginosa: a guerra comercial entre EUA e China, a qual ainda não está totalmente solucionada; a pandemia da Covid-19 e suas consequências mundiais; e a maior competitividade da soja brasileira diante da forte desvalorização do Real neste ano de 2020.

No caso do conflito comercial entre EUA e China, os produtores estadunidenses chegaram a enviar uma carta ao presidente Donald Trump, neste último dia 16/06, pedindo maior pressão sobre a China para que ela compre mais produtos agrícolas dos EUA. Na prática, mesmo que a China esteja cumprindo o acertado na Fase Um do acordo entre os dois países, assinada ainda em meados de janeiro passado, os produtores rurais estadunidenses querem mais. No caso da soja, a oferta mundial é uma das maiores desde os anos de 1980 e isso inibe os preços internacionais. Ao mesmo tempo, em função da pandemia, e agora o risco de uma Segunda Onda da mesma, a qual parece estar iniciando na China, os produtores dos EUA calculam que as compras chinesas não atingirão o total acertado para 2020. Em soja, as compras deverão ficar ao redor de US$ 13 bilhões, contra US$ 21 bilhões anuais antes do início da guerra comercial, no já distante mês de março de 2018.

Por usa vez, a Associação Nacional dos Processadores de Oleaginosas dos EUA anunciou que, em maio, o esmagamento de soja naquele país ficou abaixo das expectativas, atingindo a 4,62 milhões de toneladas, enquanto o mercado esperava 4,71 milhões. Este volume ficou também abaixo do processado em abril, porém, bem superior aos 4,21 milhões de toneladas de maio de 2019.

Enfim, o mercado encontrou certa sustentação nos preços diante do fato de que as condições das lavouras estadunidenses de soja não melhoraram nesta última semana. Enquanto, até o dia 14/06, o plantio da oleaginosa chegava a 93% da área esperada, contra 88% na média histórica, as condições das lavouras já semeadas indicavam 88% das mesmas já tendo germinado naquele país, contra 49% na média histórica para esta época. Ao mesmo tempo, 72% das mesmas estavam entre boas a excelentes condições, 24% regulares e apenas 4% entre ruins a muito ruins. É sobre esta últimas informação que o mercado esperava um indicativo um pouco melhor. Entretanto, como se nota, neste ano a safra de soja nos EUA se inicia muito bem.



Vale ainda destacar que o diferencial de preços entre a soja brasileira e estadunidense chegou a mais de 20 dólares/tonelada nesta semana, sendo o maior nível em nove meses, indicando que a soja brasileira ficou menos competitiva. Isso se deveu a dois fatores, em princípio: a desvalorização do dólar com a consequente valorização do Real; e os produtores brasileiros já terem vendido a quase totalidade da última safra de soja (cerca de 90% do total colhido).

Aqui no Brasil, os preços melhoraram diante na nova desvalorização do Real durante a semana. A moeda brasileira voltou aos patamares de R$ 5,25 por dólar, após ter se aproximado de R$ 4,80 duas semanas atrás. Com isso, o balcão gaúcho fechou a semana na média de R$ 97,01/saco, enquanto no Paraná os preços ficaram entre R$ 94,00 e R$ 95,00/saco; em Rondonópolis (MT) acima de R$ 105,00 no CIF; em Maracaju (MS) em R$ 98,00; em Rio Verde (GO) em R$ 88,00; e em Luís Eduardo Magalhães (BA) R$ 92,00/saco.

Dito isso, as exportações brasileiras de soja continuam fortes. A projeção da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), para o mês de junho, é de 13 milhões de toneladas vendidas do grão, elevando em quase três milhões de toneladas o previsto inicialmente. Diante disso, o volume de soja exportado no primeiro semestre deste ano chegará a 62,8 milhões de toneladas, de um total de 77 milhões esperados para o ano todo. Este volume semestral representa um aumento de quase 40% sobre o total embarcado no primeiro semestre de 2019.

Já em farelo de soja, as exportações devem ficar estáveis, registrando 1,64 milhão de toneladas em junho, chegando a 8,6 milhões no semestre. Em se confirmando este volume, o mesmo será de 400.000 toneladas acima do embarcado no primeiro semestre de 2019. O Brasil espera exportar 16,3 milhões de toneladas de farelo de soja em 2020.

Quanto aos prêmios nos portos, houve boa melhora nas últimas semanas, com os mesmos ultrapassando US$ 1,00/bushel na maioria dos locais de embarque. Em Paranaguá, por exemplo, o preço da soja havia subido 6% até o início desta semana, batendo em US$ 372,50/tonelada, contra US$ 351,60 no Golfo do México, EUA.

Em termos de comercialização, além dos 90% negociados da safra passada, as vendas antecipadas da futura safra de soja brasileira chegam a 35% neste momento. O motivo principal está na melhoria dos preços internos, puxados pelo câmbio e, nos últimos dias, auxiliados também pela melhoria nos prêmios.

Se por um lado os produtores estão aproveitando os excelentes preços existentes, por outro lado, uma elevada venda antecipada pode segurar o aumento dos preços futuramente, pois os compradores já estarão bem abastecidos. Por enquanto, o volume negociado pode ser considerado adequado na lógica da construção de uma média de preços para a futura safra.

Com os atuais preços, os produtores do interior gaúcho, mesmo com o aumento dos custos de produção, poderão ter uma margem operacional muito interessante na futura safra, desde que a mesma venha normal desta vez. Pelo sim ou pelo não, o fato é que as vendas antecipadas chegaram em um percentual aceitável no geral, devendo agora os produtores venderem de forma mais escalonada sua futura produção. Obviamente, isso irá depender de como os três principais fatores formadores do preço da soja no Brasil irão se comportar daqui em diante: cotações em Chicago; câmbio; e prêmio nos portos.


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Fonte: Informativo CEEMA UNJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1) e de Jaciele Moreira (2).

1 – Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
2-  Analista do Laboratório de Economia da UNIJUI, bacharel em economia pela UNIJUÍ, Tecnóloga em Processos Gerenciais – UNIJUÍ e aluna do MBA – Finanças e Mercados de Capitais – UNIJUÍ e ADM – Administração UNIJUÍ

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