Autores: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum e Jaciele Moreira.
As cotações da soja em Chicago pouco oscilaram nesta primeira semana de março, porém, se mantiveram acima dos US$ 14,00/bushel, para o primeiro mês cotado, na maior parte da semana. O fechamento desta quinta-feira (04/03) ficou em US$ 14,15/bushel, contra US$ 14,06 uma semana antes. Já a média de fevereiro fechou o mês em US$ 13,82/bushel, ou seja, apenas 0,73% acima da média de janeiro.
A preocupação maior do mercado agora, além dos baixos estoques nos EUA, se volta para o clima na América do Sul neste momento de colheita.
Por sua vez, na semana encerrada em 25/02 os EUA embarcaram 879.582 toneladas de soja, ficando acima do esperado pelo mercado. Em todo o atual ano comercial os embarques estadunidenses somam 51,9 milhões de toneladas, contra pouco mais de 29 milhões na mesma época do ano anterior. Projeta-se uma exportação total de soja por parte dos EUA, em 2020/21, de 61,2 milhões de toneladas.
Enquanto isso, na China, os preços da soja atingem níveis recordes diante de uma oferta apertada. Além disso, a produção local de soja, que estava prevista em 19,6 milhões de toneladas para este ano, pode ser reduzida porque muitos produtores estariam optando pelo milho. Soma-se a isso o forte aumento no preço do óleo de soja no seu mercado interno, puxado pela disparada de sua cotação em Chicago (52,38 centavos de dólar por libra-peso, uma das mais altas da história).
Dito isso, para temperar a pressão altista, a projeção de colheita de soja na América do Sul, para esta safra, confirma-se como recorde. A mesma pode chegar a 196,9 milhões de toneladas, contra 192,6 milhões no ano anterior, porém, inferior ao otimismo de novembro, que apontava 201,3 milhões de toneladas. O Brasil poderá colher 135,7 milhões de toneladas (embora haja analistas que esperam “apenas” 130 milhões), enquanto a Argentina alcançaria 46,5 milhões de toneladas, contra 51 milhões projetados inicialmente. Já o Paraguai ficaria com 9,5 milhões de toneladas, a Bolívia com 3,06 milhões e o Uruguai com 2,2 milhões de toneladas. (cf. Datagro).
Aqui no Brasil, a colheita da safra chegou a 25% da área total no final de fevereiro, estando muito atrasada, como era o esperado. No ano passado, nesta época, a colheita já atingia a 40% da área. (cf. AgRural).
No Rio Grande do Sul, ainda não há colheita significativa a registrar, contra 2% em anos anteriores nesta época, havendo somente 6% das lavouras em maturação segundo a Emater. Já no Mato Grosso a colheita atingia a 52% da área neste início de março, porém, no ano passado ela atingia a 84% da área e na média histórica, para esta data, a mesma chega a 69,6% da área. A produção total do Mato Grosso deve atingir a 35,7 milhões de toneladas, tendo sido reajustada para cima nas últimas semanas. (cf. Imea).
Entretanto, em algumas regiões do Centro-Oeste e Nordeste o excesso de chuvas está não só atrasando a colheita como causando perdas importantes. Os grãos estão apodrecendo nas lavouras, e a precária logística impede que o transporte avance adequadamente, pois os caminhões têm ficado atolados nas estradas de barro em muitos locais. É o caso particular do Tocantins, onde muitos produtores estão levando a soja para o Maranhão para poder secá-la. Outro tanto de produtores já abandonaram a soja nas lavouras, pois não vale à pena colhê-la. E boa parte dos grãos já colhidos não tem qualidade, apresentando avarias entre 15% a 20% do total. Assim, naquele Estado, dos 1,2 milhão de hectares cultivados com soja, cerca de 300.000 já foram atingidos pelas perdas, sendo que o quadro é irreversível segundo os produtores locais.
Enfim, para quem ainda não acredita no efeito das questões ambientais sobre o nosso mercado da soja, a multinacional Bunge informou, nesta semana, que lançou um programa para monitorar a soja comprada do Cerrado brasileiro, buscando identificar áreas de desmatamento. A empresa prevê cadeias livres de desmatamento até 2025. A partir desta data a empresa informa que não mais comprará grãos que tenham sido cultivados em áreas desflorestadas dentro da legalidade, com desmates a partir de 31/12/2024. Neste momento, segundo ela, já não compra soja originária de regiões onde ocorre o desmatamento ilegal. Este programa de monitoramento da soja adquirida de fontes indiretas “deve contar com o apoio das revendas de grãos na região, sendo lançado após empresas globais pedirem, em dezembro, que tradings de commodities parem de trabalhar com soja associada ao desmatamento do Cerrado brasileiro, onde metade de suas matas nativas já teriam sido convertidas em propriedades rurais.”. Já na Amazônia, a Bunge informa que não compra soja de áreas desmatadas, mesmo que legalmente, desde 2008. Hoje, informa ainda a empresa, já possui 100% de rastreabilidade e monitoramento de volumes oriundos de compras indiretas. Somente no Cerrado ela monitora mais de 8.000 propriedades. (cf. Notícias Agrícolas).
Enfim, quanto aos preços da soja no Brasil, os mesmos voltaram a subir nesta semana. Além de Chicago ter se mantido em níveis elevados, o câmbio disparou no país a partir das desastradas declarações e ações do governo em relação a Petrobras, além de ameaças de intervenção em outros setores públicos. Soma-se a isso a piora geral no quadro da pandemia do Coronavírus Covid-19, sem reação adequada do governo central. Com isso, o Real chegou a superar os R$ 5,70 por dólar em alguns momentos da semana. Esta realidade, mesmo com prêmios negativos em muitos portos, acabou elevando o preço médio no balcão gaúcho para R$ 158,71/saco, enquanto nas demais praças nacionais os mesmos oscilaram entre R$ 151,00 e R$ 162,00/saco.
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Fonte: Informativo CEEMA UNJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1) e de Jaciele Moreira (2).
1 – Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
2- Analista do Laboratório de Economia da UNIJUI, bacharel em economia pela UNIJUÍ, Tecnóloga em Processos Gerenciais – UNIJUÍ e aluna do MBA – Finanças e Mercados de Capitais – UNIJUÍ e ADM – Administração UNIJUÍ