Autor: Dr. Argemiro Luís Brum

As cotações da soja em Chicago, para o primeiro mês cotado, sofreram forte recuo nesta virada de mês. O bushel da oleaginosa voltou à casa dos US$ 12,00, fechando a quinta-feira (02) em US$ 12,79, contra US$ 13,67 uma semana antes. Ou seja, em cinco dias úteis o mesmo perdeu quase um dólar. Por sua vez, a média de agosto, pelo terceiro mês consecutivo, recuou, perdendo 3,7% em relação a julho, para se estabelecer em US$ 13,71/bushel. Em agosto do ano passado esta média foi de US$ 9,04/bushel.

Enquanto a qualidade das lavouras estadunidenses de soja, no dia 29/08, permanecia com 56% entre boas a excelentes, contra 66% um ano antes, outros 29% se apresentavam em condições regulares e 15% entre ruins a muito ruins, sendo que 93% das lavouras estavam em fase de formação de vagens.

Dito isso, o clima, com o retorno das chuvas nas regiões produtoras estadunidenses, foi o grande causador da derrubada dos preços. Ao mesmo tempo, o furacão Ida, que trouxe chuvas, igualmente causou enormes problemas logísticos junto aos portos de embarques no Golfo do México. Com isso, a logística de exportação estadunidense ficou comprometida, levando a China a direcionar, momentaneamente, mais compras no Brasil, embora com valores mais elevados. O furacão, já em nível de tempestade tropical, ao atingir a Lousiana comprometeu o terminal de grãos da Cargill, causando danos significativos, não havendo prazo para a retomada das operações. O furacão teria interrompido 60% da capacidade estadunidense de exportação de grãos. (cf. Agroinvest) No curto prazo isso tende a favorecer o Brasil, pois o restante da soja nacional será ainda mais procurada. Lembrando que neste mês de setembro a colheita de verão se inicia nos EUA e os terminais de embarque são fundamentais. Além da Cargill, a ADM e a Bunge igualmente estão avaliando possíveis estragos em seus terminais portuários. (cf. Bloomberg)

Pelo sim ou pelo não, o fato é que diante deste conjunto de notícias, as cotações da soja recuaram fortemente nesta semana.

Mesmo assim, nas últimas três semanas os EUA exportaram 3,3 milhões de toneladas de soja, se mostrando mais competitivos do que o Brasil, fato que deverá durar até a nova colheita brasileira. Todavia, os estragos provocados pelo Ida momentaneamente recolocam o Brasil na competição por este mercado. Lembrando que a China precisa ainda de 20 milhões de toneladas, até o começo de 2022, para ficar abastecida. Recuperados os estragos do furacão, a soja dos EUA voltará a ser mais procurada neste período.



Já no Brasil, além do forte recuo em Chicago, igualmente a revalorização do Real, que voltou a bater ao redor de R$ 5,16 durante a semana, puxou para baixo os preços da soja. A média gaúcha na semana ficou em R$ 159,68/saco no balcão, enquanto nas demais praças nacionais os preços oscilaram entre R$ 152,00 e R$ 156,00/saco.

Ao mesmo tempo, apesar do retorno de chuvas no Rio Grande do Sul, os produtores do Centro-Sul brasileiro estão preocupados com o clima, muito seco já há alguns meses, e o forte aumento nos custos de produção, que não param de subir.

Neste sentido, para o Estado gaúcho, a Fecoagro atualizou seus cálculos e apontou, no final de agosto, que o custo total de produção teria subido 48,4% nesta safra, enquanto no desembolso o aumento é de 53,4%. Assim, para pagar os custos totais da lavoura o produtor precisará de 35,6 sacos/hectare para equilibrar os gastos, ou seja, um aumento de 13,7% na relação de troca sobre a safra passada. Isso se a safra for normal e os preços se mantiverem ao redor de R$ 150,00/saco. O custo total da soja gaúcha, na média, será de R$ 5.408,23/hectare, considerando a produtividade média de 60 sacos por hectare, segundo ainda a Federação. É importante lembrar que, na safra passada, quando o Rio Grande do Sul bateu um recorde de produção de soja, a produtividade média do Estado ficou em apenas 55,5 sacos/hectare. (cf. Conab)

Dito isso, a produção brasileira de soja, na nova safra 2021/22, continua sendo projetada entre 142 e 144 milhões de toneladas, desde que o clima auxilie. Isto seria entre 6 a 8 milhões de toneladas acima do colhido na última safra, conforme a Conab.

Assim, chama a atenção, diante da atual realidade de mercado e sua tendência, que os produtores brasileiros de soja estejam segurando as vendas, esperando preços ainda mais elevados. Alguns consideram que se houver problemas climáticos sobre as lavouras brasileiras, diante da possibilidade de um fenômeno La Niña em nosso próximo verão, os preços da soja tendem a disparar. Uma decisão de grande risco, diga-se de passagem.

Segundo Safras & Mercado, no Paraná e Rio Grande do Sul os produtores, no início de agosto, ainda teriam 12,4 milhões de toneladas da última safra para vender. Com isso, os estoques de soja na região Sul do país, neste momento, estão acima do esperado. Ora, se isso não for escoado antes da nova colheita, e esta última vier normal, haverá pressão negativa sobre os preços internos caso Chicago e o câmbio se estabilizem nos atuais patamares. No Rio Grande do Sul, até o dia 06/08, 62% da safra passada havia sido comercializado, contra 73% na média histórica. Já no Paraná, as vendas atingiam a 78%, contra 80% na média. Quanto à safra futura, espera-se que os dois Estados colham juntos um total de 42,2 milhões de toneladas, sendo que apenas 12% havia sido comercializado antecipadamente até o iníco de agosto. No ano passado, nesta época, os gaúchos já haviam vendido 27% da safra, enquanto os paranaenses atingiam a 45% do total esperado para a colheita.

Em paralelo, as exportações brasileiras de soja, em agosto, somaram 6,5 milhões de toneladas segundo a Secex. No ano anterior, o volume exportado em agosto atingiu a 5,8 milhões de toneladas. O valor médio da tonelada neste ano chegou a US$ 485,80, contra US$ 353,60 em agosto de 2020. Ou seja, houve um aumento de 37,4% no período. Com isso, no acumulado de 2021 (janeiro a agosto), o Brasil já exportou 76,5 milhões de toneladas de soja, contra 74,5 milhões no mesmo período do ano anterior. Já o complexo soja atingiu a 90 milhões de toneladas, contra 87,8 milhões nos oito primeiros meses de 2020. Assim, entre janeiro e agosto do corrente ano o Brasil já exportou 12,3 milhões de toneladas de farelo e 1,2 milhão de toneladas de óleo de soja. Como no caso do grão, estamos diante de volumes recordes em 2021.

Para setembro é possível que as exportações ainda sejam importantes, especialmente diante do problema nos portos dos EUA, provocados pelo furacão Ida, porém, a tendência é a demanda interna ser mais forte, acirrando a disputa pela soja que resta.


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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)

1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).

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