Autores: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum e Jaciele Moreira.
As cotações da soja em Chicago subiram bem durante esta última semana de agosto, após ensaiarem um recuo no início da mesma. O primeiro mês cotado fechou o dia 27/08 em US$ 9,37/bushel, contra US$ 9,03 uma semana antes. Vale destacar também que novamente o óleo de soja em Chicago subiu forte, batendo em 33,31 centavos de dólar por libra-peso, valor que não era visto desde meados de janeiro do corrente ano.
Questões climáticas, que fizeram piorar um pouco as condições das lavouras estadunidenses, a constante presença da China no lado comprador e a chegada do furacão Laura no sul dos EUA serviram de motivos principais para as altas da semana. Lembrando que o forte da colheita se iniciará no final de setembro.
Consta que muitos produtores estadunidenses, que imaginavam ter a sua melhor safra de soja depois de muitos anos, começam a questionar esta possibilidade, pois as condições climáticas já não estão tão boas no Meio Oeste estadunidense.
Confirmando esta tendência, o USDA divulgou que, até o dia 23/08, as condições entre boas a excelentes, das lavouras estadunidenses de soja, perderam três pontos percentuais, se estabelecendo em 69% do total. Outros 23% estariam regulares e 8% entre ruins a muito ruins. Ao mesmo tempo, 92% das lavouras estavam em fase de formação de vagens, superando a média histórica que é de 87%.
Por enquanto, as projeções de colheita de soja nos EUA variam entre 118 e 120 milhões de toneladas, confirmando uma safra muito melhor do que a frustrada colheita do ano passado.
Ao mesmo tempo, as exportações de soja por parte dos EUA, divulgadas no dia 27, indicaram um volume de 1,87 milhão de toneladas na semana anterior, para a safra 2020/21. O volume ficou dentro do esperado pelo mercado. Já para a safra 2019/20, que está em final de ano comercial, o volume ficou em 50.400 toneladas, atingindo um volume total anual, até o momento, de 47,5 milhões de toneladas, contra 44,9 milhões estimados pelo USDA.
Diante destas altas em Chicago, associadas a uma nova desvalorização do Real, onde a moeda brasileira ultrapassou os R$ 5,60 por dólar em alguns momentos da semana, e prêmios firmes, acima de US$ 1,50/bushel na maioria dos portos, com casos ao redor de US$ 2,00, elevou-se novamente o preço médio da soja no Brasil.
Assim, o balcão gaúcho fechou a semana na média de R$ 121,01/saco, enquanto nas demais praças nacionais os preços registraram os seguintes valores: R$ 114,00 no Paraná; R$ 118,00 em Campo Novo do Parecis (MT); R$ 132,00 no CIF Maracaju (MS); R$ 110,00 em Rio Verde (GO); e R$ 120,00/saco em Luís Eduardo Magalhães (BA). Nos lotes, existem indústrias pagando até R$ 137,00/saco em algumas regiões do Brasil.
Os preços da soja, nos últimos três meses em particular, atingiram um nível excepcional no Brasil. Tomando como base a média gaúcha no balcão, nos últimos sete anos (agosto 2013 a agosto 2020) o ganho nominal no preço da soja é de R$ 55,06/saco. Além disso, neste ano, pela primeira vez na história da oleaginosa, há ganhos reais, e expressivos. Tomando a inflação oficial brasileira (IPCA) como referência, o preço da soja praticado em fins de agosto de 2013 deveria valer hoje, em média, R$ 94,51/saco. Ora, o valor médio praticado está em R$ 121,01/saco. Ou seja, há um ganho real de R$ 26,50/saco no balcão gaúcho. Retrocedendo para o auge da colheita no Rio Grande do Sul, em abril passado, isso significa dizer que todo o produtor que vendeu sua soja a partir de R$ 90,00/saco obteve um ganho real com a mesma em relação aos valores recebidos sete anos atrás. Esta situação oscila conforme os preços médios obtidos nos anos seguintes. Dito de outra forma, nesta safra de 2020, pela primeira vez na história, o preço da soja está repondo toda a inflação do período, como também oferecendo um ganho adicional (real) importante.
Nos anos anteriores, em muitos casos, os preços não cobriam a evolução inflacionária, apontando que os produtores, apesar do ganho nominal nos preços, não conseguiam cobrir nem mesmo a inflação do período. Exemplo: no final de agosto do ano passado (2019), o preço médio da soja gaúcha no balcão foi de R$ 76,53/saco. Isso representou um ganho nominal de apenas 16% sobre agosto de 2013.
Para que o saco de soja ficasse igual ao valor de agosto de 2013, seu preço deveria ter chegado a R$ 92,79. Ou seja, o preço recebido no ano passado não recuperou nem mesmo a inflação do período entre agosto 2013 e agosto de 2019. Ora, neste ano o quadro é totalmente diferente como já se viu. Diante da excepcionalidade do fato, é preciso que os produtores não percam a oportunidade, como aliás já perceberam ao acelerarem as vendas relativas a futura safra, a qual ainda não foi nem mesmo semeada.
Dito isso, novas ameaças de saída do ministro Paulo Guedes do Ministério da Economia acabaram pressionando o câmbio, ao mesmo tempo em que a China, além das compras para 2021, já fez movimentos de aquisição de soja brasileira para 2022. Diante de um quadro de pouca oferta da oleaginosa neste momento, esta situação forçou novas altas de preços no mercado interno brasileiro.
Enquanto a China continuar com atritos político-comerciais com os EUA, fato que deve perdurar até meados de novembro, em função das eleições presidenciais estadunidenses (o presidente Trump, que busca a reeleição, aposta no confronto com a China para conquistar votos), os asiáticos continuarão a buscar a soja sul-americana com intensidade, fato que sustenta os prêmios em nossos portos.
Mesmo assim, é bom frisar que os chineses não abandonaram as compras dos EUA. Na semana passada 64%, de um total de 2,57 milhões de toneladas vendidas pelos EUA em soja, foram para a China.
Dito isso, a demanda brasileira de soja, especialmente para o setor de rações, continua firme, graças a excelente performance exportadora das carnes brasileiras, enquanto a redução de 12% para 10% na mistura do biodiesel ao diesel do petróleo esfriou em parte o mercado interno do óleo de soja.
Quanto às exportações, enquanto o mercado nacional espera que o Brasil atinja a 82 milhões de toneladas em 2020, para o próximo ano a estimativa é de que este volume exportado com soja suba para quase 87 milhões de toneladas. (cf. Conab)
Já a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) informou que as exportações de soja pelo Brasil, em agosto, recuariam para 6,02 milhões de toneladas, indicando uma redução no ritmo diante da ausência cada vez maior de produto disponível. Para o farelo as vendas em agosto recuariam para 1,74 milhão de toneladas. Confirmando estes volumes, nos oito primeiros meses do ano o Brasil terá exportado 75,8 milhões de toneladas de grãos de soja (34,4% acima do exportado no mesmo período do ano passado) e 11,7 milhões de toneladas de farelo de soja (11,5% acima do exportado no ano passado).
Na prática, o ritmo de exportação brasileira de soja, daqui em diante, irá diminuir, até a entrada da nova safra, a partir de fevereiro. Além da redução da oferta nacional no momento, a alta dos preços internos colocam o produto brasileiro em níveis menos competitivos na atualidade, especialmente a partir da nova colheita dos EUA. Ou seja, a partir de fins de setembro a demanda mundial por soja se desloca com maior intensidade para os EUA. Neste contexto, a sustentação dos preços internos da soja ficará na dependência da pressão compradora das indústrias moageiras brasileiras e do câmbio.
Dito isso, para 2021 o sentimento é de que dificilmente os preços da soja serão tão bons, pois a associação positiva de diferentes fatores que os elevaram neste ano tende a não ocorrer. Isso serve de alerta para os produtores que ainda não fizeram vendas futuras, embora ninguém possa dar certeza do que virá pela frente.
Soma-se a isso a preocupação quanto a reação mundial contra o descuido brasileiro para com as questões da Amazônia e do meio ambiente em geral. Se o país não melhorar sua postura neste aspecto, o risco de perder mercados irá se acentuar daqui em diante. É preciso consolidar na prática um Código Florestal convincente.
Neste contexto, importante se faz salientar que o consumo de soja certificada pela Associação Internacional de Soja Responsável (RTRS, na sigla em inglês) cresceu 35% no primeiro semestre apesar das dificuldades impostas pela pandemia. Por enquanto, estamos diante de um nicho de mercado, ainda pequeno, porém, o mesmo está ganhando força. No Brasil, o prêmio pago por este tipo de soja chega a 1% do valor normal do produto. As tradings estão buscando este produto visando atender a exigência dos compradores externos. Até junho, o Brasil certificou 685.607 toneladas de soja. No mundo, o total deverá chegar a 5 milhões de toneladas neste ano.
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Fonte: Informativo CEEMA UNJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1) e de Jaciele Moreira (2).
1 – Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
2- Analista do Laboratório de Economia da UNIJUI, bacharel em economia pela UNIJUÍ, Tecnóloga em Processos Gerenciais – UNIJUÍ e aluna do MBA – Finanças e Mercados de Capitais – UNIJUÍ e ADM – Administração UNIJUÍ