Autor: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)
As cotações da soja despencaram nesta semana. O bushel da oleaginosa, para o primeiro mês cotado, chegou a bater em US$ 15,75 no dia 05/07, enquanto novembro (período de colheita nos EUA) veio a US$ 13,16/bushel. O óleo caiu para 60,22 centavos de dólar por libra-peso, ajudando a puxar para baixo o grão. Posteriormente, houve o tradicional ajuste técnico e o fechamento desta quinta-feira (07) ficou em US$ 15,91/bushel, para o primeiro mês cotado, contra US$ 16,75 uma semana antes.
A média de junho ficou em US$ 16,90/bushel, indicando um leve aumento de 0,8% sobre a média de maio. Um ano antes, em junho de 2021, o bushel fechou na média de US$ 14,62, enquanto maio do ano seguinte registrava US$ 13,99. Portanto, o mercado da soja parece estar revertendo seu quadro altista, depois de dois anos consecutivos de constantes altas. Resta saber em que intensidade se dará esta reversão e se a mesma será de curto ou longo prazo.
Por enquanto, os motivos da queda estão ligados ao forte recuo nos preços do óleo de palma, após a liberação das exportações do mesmo pela Indonésia. Igualmente pesa muito o sentimento geral, cada vez mais presente, de que os principais países do mundo estariam entrando em recessão econômica, incluindo a China, que vem reduzindo sua demanda. Outro fator decisivo está na alta dos juros básicos nos EUA, fato que leva os operadores, nas bolsas de commodities, a venderem os contratos destes produtos e buscarem adquirir títulos públicos do governo estadunidense. Além disso, o clima nos EUA continua normal, projetando safra cheia naquele país. Aliás, esse seria o fator conjuntural que pode alterar o quadro baixista no curto prazo, na medida em que o mesmo pesará no mercado até o início da colheita dos EUA, em setembro/outubro.
Neste sentido, muita atenção aos relatórios semanais das condições das lavouras nos EUA. O último, levando em consideração o quadro até o dia 03/07, apontou uma redução para 63% das mesmas entre boas a excelentes, contra 65% na semana anterior. Todavia, um ano atrás a situação apresentava 59% das lavouras nestas condições. Outros 28% estão regulares e apenas 9% entre ruins a muito ruins. Do total, 16% das lavouras estavam em fase de florescimento, contra 22% na média histórica para esta data.
Pelo lado da demanda, chama a atenção o fato da China ter revertido oito navios de soja provenientes dos EUA, retornando-os para o mercado estadunidense. Os chineses estariam privilegiando a soja brasileira que, neste momento, se apresenta mais barata (desconto de 40 centavos por bushel em relação à dos EUA). Nas duas últimas semanas quase 500.000 toneladas de soja dos EUA entraram nesta situação. Dito isso, não se pode ignorar que a suinocultura chinesa está se recuperando, com as margens melhorando junto aos criadores e às indústrias de ração locais. Ao mesmo tempo, uma demanda maior, além de garantir margens melhores, também já estimula os suinocultores chineses a voltarem ao ciclo normal de abate dos animais, segurando os mesmos por mais tempo, o que gera maior consumo de ração. Mesmo assim, por enquanto os preços médios do suíno, embora tenham registrado um aumento de cerca de 60%, do início de maio até este início de julho, ainda se mostram aquém do recorde registrado em 2020 e dos valores registrados no primeiro semestre do ano passado. (cf. Agrinvest e Shanghai JC Intelligence Co Ltd)
Por outro lado, ainda na China, apesar do recente recuo nos preços da soja no mercado internacional, as margens das indústrias esmagadoras se mantêm negativas. Isso leva a um recuo em novas compras de soja no mercado externo. Nas últimas duas semanas de junho, traders informaram que a China comprou menos de 20 navios de soja, metade do ritmo que vinha comprando no início de junho. Recentemente, os estoques da oleaginosa, em grão e farelo, surpreenderam o mercado ao triplicarem entre março e junho. Assim, o ritmo de novas compras de soja, por parte do país asiático, de qualquer origem, é bem menor do que em outros anos. (cf. Agroinvest)
Já na União Europeia, no ano comercial 2021/22, encerrado em 30/06, as importações de soja somaram 14,54 milhões de toneladas, com recuo de 6% sobre o ano anterior. O volume importado do Brasil atingiu quase 60% do total comprado pela União em 2021/22, ou cerca de 8,5 milhões de toneladas. Já as importações de farelo de soja, no mesmo ano, totalizaram 16,50 milhões de toneladas, 4,5% abaixo do ano anterior. O Brasil, que tem na União seu principal cliente para o farelo de soja, foi o maior fornecedor do produto ao bloco de países europeus, com 45,3% do total, superando a Argentina, que lidera a exportação de soja processada. Enquanto isso, as importações de óleo de palma ficaram em 4,8 milhões de toneladas, 12% abaixo do volume importado em 2020/21. Por sua vez, as importações de óleo de girassol, a maioria proveniente da Ucrânia, terminaram a temporada em 1,95 milhão de toneladas, com um aumento de 13% em relação ao ano anterior. (cf. Alfândegas dos diferentes países europeus)
E aqui, no Brasil, os preços continuaram em recuo. O mesmo só não foi maior porque o câmbio sustentou parcialmente as cotações, na medida em que o Real bateu em R$ 5,40 em alguns momentos da semana. Além disso, os prêmios nos portos se mantêm firmes, entre US$ 0,75 e US$ 1,95/bushel para o período de julho a outubro. Assim, a média gaúcha, no balcão, fechou a semana em R$ 177,56/saco, enquanto nas principais praças gaúchas o valor praticado caiu para R$ 172,00. Já nas demais regiões do país o preço da soja girou entre R$ 155,00 e R$ 171,00/saco.
Afora isso, o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) informou que mantém sua projeção para uma safra recorde de soja no Mato Grosso, para a safra 2022/23, em 41,5 milhões de toneladas. Para tanto, a área a ser semeada atingiria a 11,8 milhões de hectares, com aumento de 2,9% sobre o ano anterior. Apesar dos altos custos de produção, os investimentos, por parte dos produtores locais, continuam sendo feitos. A produtividade média local está projetada em 58,6 sacos/hectare. Já para o milho safrinha, que vem sendo colhido, a expectativa é de o Mato Grosso fechar com 39,2 milhões de toneladas colhidas.
De forma geral, caso Chicago confirme patamares mais baixos para o bushel, daqui em diante (o que irá depender do clima e da nova safra nos EUA), o preço da soja no Brasil dependerá, especialmente, das oscilações do câmbio, as quais tendem a ser intensas na medida em que avançamos na direção das eleições presidenciais de outubro. Será preciso muita atenção a este contexto a partir de agora, com os produtores brasileiros devendo praticar a média de comercialização para evitarem riscos econômicos.
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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).