Autores: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum e Jaciele Moreira.
As cotações da soja, em Chicago, voltaram a subir nesta semana e finalmente romperam o teto dos US$ 12,00/bushel, algo que não era visto há muitos anos. Assim, o fechamento do primeiro mês cotado, nesta quinta-feira (17), atingiu a US$ 12,01/bushel, contra US$ 11,52 uma semana antes. Ou seja, em uma semana o bushel ganhou praticamente meio dólar.
Os baixos estoques de soja nos EUA, indicados no relatório de oferta e demanda do governo local no dia 10/12, somado ao clima complicado na América do Sul, onde a falta de chuvas já causou atrasos no plantio e, em alguns locais, já começa a faltar para o melhor desenvolvimento da planta, são os principais motivos destas altas atuais. Além disso, ainda a constante presença da China na ponta compradora ajuda a animar o mercado e a especulação junto às cotações.
Neste sentido, em o clima não melhorando na América do Sul, é possível que o bushel de soja se mantenha, por algum tempo, acima dos US$ 12,00 e caminhando para os US$ 13,00. O mercado ainda especula que o relatório de janeiro pode trazer um novo recuo aos estoques finais estadunidenses para o ano 2020/21, com os mesmos caindo para perigosos 2,7 a 3,7 milhões de toneladas. Este fato poderá levar os produtores dos EUA a aumentarem significativamente a área com soja no próximo ano, fato que poderá ser verificado já no final de março com a intenção de plantio.
Dito isso, a Associação Nacional de Processadores de Oleaginosas dos EUA indicou que a moagem de soja em novembro, naquele país, chegou a 4,93 milhões de toneladas, ficando acima das expectativas do mercado. Todavia, em outubro o esmagamento atingiu a 5,04 milhões, enquanto em novembro de 2019 o mesmo ficou em 4,49 milhões de toneladas.
Já as exportações de soja estadunidense, na semana encerrada em 10/12, atingiram a 922.300 toneladas, ficando acima do teto das expectativas do mercado, sendo a China o maior comprador semanal mais uma vez. No acumulado do ano comercial as vendas já concretizadas chegam a 53,8 milhões de toneladas, contra pouco mais de 28 milhões no mesmo período do ano anterior. No total do ano comercial 2020/21 o mercado aponta que as exportações estadunidenses somem 59,9 milhões de toneladas.
Por sua vez, na Argentina, segundo a Bolsa de Cereais de Buenos Aires, o plantio da atual safra de soja atingiu a 57,1% da área esperada, tendo um recuo de 4,2 pontos percentuais em relação ao mesmo período do ano passado. O total previsto a ser semeado com soja é de 17,2 milhões de hectares no vizinho país. Em algumas regiões do país houve piora na qualidade da soja já plantada devido a falta de chuvas. É o caso do centro-norte de Córdoba e no centro-leste de Entre-Rios.
Por outro lado, veio da Argentina a nova preocupação mundial em relação ao abastecimento de farelo de soja. O vizinho país consolidou mais de duas semanas em greve portuária. Ora, os argentinos abastecem quase 50% do farelo de soja exportado no mundo, sendo os maiores exportadores mundiais do subproduto. Com isso as cotações do farelo em Chicago voltaram a se aproximar dos US$ 400,00/tonelada curta, algo que também não é visto há muitos anos.
Neste momento seriam 22 portos argentinos paralisados, fazendo muitos navios se deslocarem para o Golfo do México em busca do produto estadunidense, fato que aquece as cotações da soja e derivados em Chicago. Segundo os líderes da greve o cálculo é de que 4,5 milhões de toneladas de grãos e subprodutos seguem em espera para serem embarcados em 129 navios. Neste volume estariam 1,5 milhão de toneladas de farelo; 1,1 milhão de toneladas de trigo; 900.000 toneladas de milho e 500.000 toneladas de óleo.
Não é preciso muito raciocínio para se concluir que a forte valorização do farelo e do milho no mercado mundial e regional aumenta o custo da alimentação animal, complicando seriamente a rentabilidade dos criadores em geral. Até mesmo as indústrias de carnes mundo afora começam a sentir de forma mais intensa o impacto negativo no setor. O setor da criação animal, consumidor de rações industrializadas, tanto aqui como no resto do mundo, poderá enfrentar uma forte inflação nos custos de produção, com o aumento no preço médio das rações podendo ser o maior nestes últimos 10 anos. Resta saber como isso irá atingir as compras de grãos por parte da China, país que já fez alguns movimentos nos últimos meses indicando que os atuais preços já estão muito elevados. Além disso, ainda há as incertezas em relação a Covid-19 e a capacidade mundial em vencê-la definitivamente, mesmo com o início da vacinação.
Aqui no Brasil, apesar do firme movimento altista em Chicago, o câmbio voltou a ficar entre R$ 5,00 e R$ 5,10 por dólar durante grande parte da semana, além de os prêmios recuarem nos portos. Com isso, o preço médio da soja voltou a cair junto aos produtores rurais. O balcão gaúcho fechou a semana na média de R$ 132,96/saco, perdendo quase 10 reais na semana. Por outro lado, os preços nas regiões de referência recuaram para R$ 130,00 a R$ 131,00/saco, perdendo entre quatro a cinco reais na semana. O movimento baixista é igualmente visto nas demais praças nacionais, com intensidades diferentes. Assim, o fechamento desta semana trouxe os seguintes preços nestas praças: R$ 133,00 no Paraná; R$ 135,00 em Campo Novo do Parecis (MT); R$ 137,00 em Maracaju (MS); R$ 125,00 em Rio Verde (GO); e R$ 149,00/saco em Luís Eduardo Magalhães (BA).
Na semana anterior, o indicador Esalq/BM&FBovespa, que toma o porto de Paranaguá (PR) como referência, recuou 3,4% enquanto o indicador que leva em conta a média do Estado paranaense recuou 4,8%, com o saco de soja girando entre R$ 141,00 e R$ 147,00. Na corrente semana houve novo recuo. Vai se confirmando assim os alertas que fazíamos sobre o papel do câmbio nos aumentos históricos da soja meses atrás. Tudo indica mesmo que a nova safra, em março, tenda a ser comercializada, no Rio Grande do Sul, ao redor de R$ 100,00/saco em condições normais de produção.
Enquanto isso, os órgãos públicos, tanto do Brasil quanto dos EUA, projetam uma safra brasileira de soja entre 127 milhões e 134,5 milhões de toneladas, com um grande desacordo entre si. Já a iniciativa privada, a partir da consultoria Safras & Mercado, define a safra 2020/21 em 132,5 milhões de toneladas, reduzindo a mesma em um milhão de toneladas em relação a outubro, porém, ainda assim uma safra recorde. A mesma cresceria, então, 5,5% em relação ao ano anterior. A área plantada deverá crescer 2,9% no país, chegando a 38,4 milhões de hectares. O plantio, neste momento está chegando ao final, com algumas regiões atrasadas devido a estiagem na época inicial da semeadura.
Especificamente no Mato Grosso, após um período de seca importante no início do plantio da soja, as chuvas retornaram e a estimativa local de produção está em 35,5 milhões de toneladas, um recorde histórico. Obviamente, para isso, será preciso confirmar a área plantada esperada em 10,3 milhões de hectares, sendo que 2,5% deste total teve que ser replantado. O atraso no plantio da soja tende a atingir o milho safrinha, com o mercado já esperando uma semeadura entre 14% e 15% da área fora da janela ideal. Mesmo assim, diante dos elevados preços do cereal, a área de safrinha local tende a crescer 5%, batendo em 5,7 milhões de hectares. (cf. Imea)
Já no Paraná, o Deral reestimou a safra de soja local para 20,4 milhões de toneladas, com um pequeno recuo de 300.000 toneladas em relação ao apontado em novembro.
Enfim, importante se faz destacar que um grupo de empresas internacionais da área agroalimentar, incluindo Tesco, Walmart, Unilever e McDonald’s, pediu nesta semana às tradings de commodities que parem de trabalhar com a soja cuja produção está associada ao desmatamento do Cerrado brasileiro. Ou seja, as grandes companhias mundiais voltam à carga em relação à política ambiental brasileira, agora trabalhando diretamente com as tradings compradoras de nossa soja. No total foram 163 companhias que assinaram a Declaração de Apoio ao Manifesto do Cerrado, o qual foi endereçado às tradings Archer Daniels Midland (ADM), Bunge, Louis Dreyfus, Cargill, Cofco International e Glencore pedindo para que elas deixem de obter soja, direta ou indiretamente, de áreas desmatadas no Cerrado após 2020. Por enquanto, nenhuma das tradings concordou com as medidas, segundo notícias, porém, a disputa neste contexto ambiental está cada vez mais forte e preocupante para os produtores de soja do Centro-Oeste em particular. Atualmente o Cerrado brasileiro produz 60% de toda a soja brasileira, o que dá a dimensão do estrago na economia brasileira caso tais ameaças venham a ser praticadas. Neste contexto, na América do Norte e na Europa, já faz algum tempo que empresas estão encorajando produtores a adotar práticas mais sustentáveis, devido à pressão do consumidor e às expectativas de mais regulamentações.
Aqui no Brasil a Cargill, por exemplo, disse em comunicado que reconhece “a urgência de abordar a questão do desmatamento e da conversão de terras com vegetação nativa no Cerrado”, concluindo que “confirma que a Cargill não fornecerá soja de agricultores que desmatam ilegalmente ou em áreas de proteção, e tem as mesmas expectativas em relação aos seus fornecedores”, afirmou a multinacional. Ao mesmo tempo, a ADM disse que “possui uma rígida Política de Não Desmatamento, e conta com tecnologias de satélite para garantir que possa cumprir sua política.” Enfim, a Bunge afirmou que “não adquire soja de áreas desmatadas ilegalmente” e “se dedica a uma cadeia produtiva sustentável e tem o compromisso público, desde 2015, de eliminar o desmatamento de todas as nossas cadeias produtivas até 2025, prazo mais curto do setor”. (cf. Notícias Agrícolas)
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Fonte: Informativo CEEMA UNJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1) e de Jaciele Moreira (2).
1 – Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
2- Analista do Laboratório de Economia da UNIJUI, bacharel em economia pela UNIJUÍ, Tecnóloga em Processos Gerenciais – UNIJUÍ e aluna do MBA – Finanças e Mercados de Capitais – UNIJUÍ e ADM – Administração UNIJUÍ