Autor: Dr. Argemiro Luís Brum
As cotações do milho em Chicago se mantiveram estáveis nesta semana, mas com viés de alta. O bushel do cereal, para o primeiro mês cotado, após atingir a US$ 5,71 durante a semana, fechou a quinta-feira (22) em US$ 5,64, mesmo valor de uma semana atrás. Nesta mesma data, um ano antes, o bushel de milho valia US$ 3,22. Destaque, igualmente, para a média de junho do corrente ano, a qual ficou em US$ 6,72, recuando 3,6% sobre o registrado em maio. Foi o primeiro recuo da média mensal depois de nove meses em constante alta.
Também aqui o clima pressiona as cotações, embora a situação seja semelhante ao que comentamos para a soja. Além disso, o índice de lavouras entre boas a excelentes é mais elevado, atingindo a 65% do total no dia 18/07, contra 69% um ano antes. Outras 26% das lavouras estavam regulares e apenas 9% entre ruins a muito ruins. Naquela data do 18/07 cerca de 56% das lavouras estavam em fase de embonecamento, contra 52% na média histórica para a data.
Quanto às exportações, os EUA atingiram a 1,0 milhão de toneladas na semana encerrada em 15/07, ficando dentro das expectativas do mercado. Com isso, o total exportado atinge a 60,2 milhões de toneladas no ano, volume 65% superior ao registrado no mesmo período do ano anterior.
Destaque ainda para a Argentina que, no ano 2020/21, já vendeu 33,6 milhões de toneladas de milho até meados de julho, o que representa 2,7 milhões acima do registrado na mesma época do ano comercial anterior.
Ainda na Argentina, a colheita da safra 2020/21 chegou a 77% da área no dia 15/07, contra 92% no ano passado na mesma data. Por sua vez, as lavouras em condições boas a excelentes são apenas 36% do total, as regulares ficaram em 45% e as ruins em 19%. Espera-se uma safra final de 48 milhões de toneladas neste ano comercial 2020/21 no vizinho país.
Diante do atual quadro geral da produção mundial de milho surgem projeções de que haverá déficit na oferta do cereal no mercado global. O mesmo já estaria em 23,6 milhões de toneladas devido as perdas junto a diferentes produtores internacionais, como é o caso no Brasil. Esta situação coloca um peso ainda maior sobre a nova safra estadunidense, a qual começa a ser colhida em setembro. Dados do balanço mundial do milho mostram que o atual ano comercial contaria com uma produção de 1,125 bilhão de toneladas, sendo este menor do que o consumo, de 1.145 bilhão, caracterizando-se na menor relação desde 2017/18. Assim, os estoques finais mundiais igualmente têm recuado, passando de 350,75 milhões de toneladas em 2016/17, para 280,6 milhões em 2020/21. (cf. Pátria Agronegócios)
Enquanto isso, aqui no Brasil, com a importante quebra da segunda safra a cada semana se consolidando, e até aumentando, os preços do milho seguem firmes e em alta novamente. A média gaúcha no balcão fechou a semana em R$ 86,43/saco. Um ano atrás, nesta mesma época, a média gaúcha era de R$ 44,76/saco. Estamos, portanto, com quase R$ 42,00/saco a mais neste momento, em comparação há 12 meses. Nas demais praças nacionais os preços atuais do milho oscilaram entre R$ 78,00 e R$ 96,00/saco, sendo que o CIF Campinas (SP) fechou a semana em R$ 100,00/saco.
Os baixos estoques provenientes da safra de verão, a forte quebra na produção da safrinha, a baixa oferta de quem tem ainda milho para negociar e a redução no ritmo das exportações fazem um cenário que não permite, por enquanto, cogitar diminuições nos preços do cereal no mercado brasileiro. Talvez apenas alguns movimentos pontuais neste sentido. E isso que a colheita da safrinha já chega a 30% no Centro-Sul nacional, enquanto as importações, diante do atual câmbio, continuam favorecidas, podendo colocar o preço do produto externo, sem tarifa, abaixo de R$ 100,00/saco nos portos, travando as altas internas. Aliás, os compradores nos portos não querem, por enquanto, pagar mais do que R$ 80,00/saco. Isto está freando as exportações, com o produto disponível sendo deslocado para o mercado interno.
Dito isso, em termos gerais, a produtividade do milho na segunda safra brasileira deste ano deve ficar em 73,05 sacos/hectare. Isso significa um recuo de 17,7% ou 15,7 sacos/hectare em relação ao ano anterior. Diante das perdas já consolidadas (no Paraná, por exemplo, 36,7% e, em Minas Gerais, 55% do esperado) a estimativa da segunda safra veio para 64,8 milhões de toneladas, derrubando a produção total de milho no Brasil, em 2020/21, para 91,6 milhões de toneladas. (cf. Geosys Brasil) Lembrando que há analistas privados que chegam a estimar uma safra ainda menor, caso da AgRural, que estima uma safrinha final de apenas 54,6 milhões de toneladas no Centro-Sul brasileiro e de 59,1 milhões se acrescentar o Norte e Nordeste do país.
Em termos estaduais, vale destacar que as lavouras em condições ruins, no Mato Grosso do Sul, subiram para 63% do total nesta semana, havendo apenas 1% em boas condições. (cf. Famasul)
Enfim, segundo a Secex, por enquanto, em julho, o país exportou 523.906 toneladas, ou seja, 13% do total exportado em julho do ano passado, que chegou a 3,98 milhões de toneladas naquela oportunidade. Em termos de média diária, o recuo é de 75% na comparação com julho de 2020. Por outro lado, o preço pago por tonelada atingiu a média de US$ 221,85, sendo 39,4% superior ao praticado em julho do ano passado.
Por sua vez, a Anec espera que o Brasil exporte 3,2 milhões de toneladas no total deste mês de julho, com um resultado de quase dois milhões de toneladas abaixo do registrado no mesmo mês do ano passado.
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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).