As cotações do trigo em Chicago deram um salto nesta semana e chegaram a romper o teto dos US$ 6,00/bushel, porém, acabaram recuando na quinta-feira (08), quando o primeiro mês fechou em US$ 5,95/bushel, após US$ 6,07 na véspera e US$ 5,70 uma semana antes. Tal cotação não era vista há mais de três anos, lembrando que ainda no final de junho do corrente ano Chicago trabalhou entre US$ 4,70 e US$ 4,90/bushel.
O clima seco na Rússia e nos EUA estiveram na origem deste salto de preços na semana. Com isso, o mercado começa a especular a possibilidade de o governo russo instituir uma nova cota de exportação para o seu trigo, fato que reduziria a oferta do cereal no mercado global. Já nos EUA, o plantio do trigo de inverno encontra dificuldades devido ao clima seco nas Planícies do Sul.
Mesmo assim, o plantio deste trigo de inverno, até o dia 04/10, chegava a 52% da área esperada, contra 47% na média histórica. Entretanto, tal plantio não estaria sendo feito nas condições ideais de clima, fato que pode prejudicar a produtividade final.
Paralelamente, os embarques estadunidenses de trigo somaram 643.671 toneladas na semana encerrada em 1º de outubro. Este número ficou bem acima do esperado pelo mercado, acumulando um total de 9,9 milhões de toneladas no atual ano comercial, ou seja, 9,8% acima de igual momento do ano anterior. Já na semana encerrada em 24/09 as exportações líquidas estadunidenses atingiram a 506.300 toneladas de trigo, sendo este volume 15% acima da média das quatro semanas anteriores.
Por sua vez, notícias procedentes da Argentina dão conta de que o vizinho país irá aprovar a variedade transgênica de trigo, tolerante à seca, conhecida como HB4, da empresa de biotecnologia Bioceres. Em isso se confirmando, o país será o primeiro a autorizar trigo geneticamente modificado. No entanto, a companhia só poderá iniciar a comercialização do trigo HB4 quando a semente for autorizada pelo governo do Brasil, principal destino das exportações argentinas do cereal. O documento a respeito destaca que o órgão sanitário argentino Senasa disse que “não foram encontradas objeções científicas para sua aprovação a partir do ponto de vista da adequação alimentar humana e animal”.
Lembrando que, do total importado de trigo pelo Brasil, de janeiro a agosto deste ano, que foi de 4,6 milhões de toneladas, 3,8 milhões de toneladas tiveram origem na Argentina, segundo dados do governo brasileiro.
Já no Brasil, os preços do trigo se mantiveram em elevação igualmente, apesar da colheita avançar no Paraná. A quebra de safra está mantendo os preços elevados. No Paraná, o preço médio do trigo no mercado disponível (negociações entre empresas) esteve em R$ 1.190,19/tonelada (R$ 71,41/saco), enquanto no Rio Grande do Sul o preço médio ficou em R$ 1.125,60/tonelada (R$ 67,54/saco). A nível de produtor, a média gaúcha fechou a corrente semana em R$ 60,26/saco, enquanto no Paraná o produto oscilou entre R$ 67,00 e R$ 68,00/saco. Em Santa Catarina, negócios de lotes no CIF moinhos oscilaram entre R$ 73,80 e R$ 78,60/saco nesta semana.
Neste momento, a comercialização no Paraná ainda é lenta, diante de um Real muito desvalorizado, o que encarece o preço do produto importado, e diante de um clima seco que está prejudicando a qualidade do grão. Esta situação climática igualmente é bastante séria no Rio Grande do Sul, após as quebras provocadas pelas geadas de fins de agosto e as chuvas de granizo de setembro. No Estado gaúcho, algumas regiões iniciaram a colher, porém, ainda a área é mínima. Como era de se esperar, o produto já colhido apresenta PH abaixo de 78, sendo considerado de baixa qualidade.
A produtividade média ficou em apenas 32,4 sacos/hectare, sem considerar ainda a baixa qualidade. Aliás, é considerável o número de produtores gaúchos solicitando Proagro para o trigo. A quase totalidade das lavouras gaúchas, no início de outubro, estavam com 20% em floração, 55% em enchimento de grãos e 22% em maturação, segundo a Emater/RS.
E o quadro climático tende a piorar já que as chuvas esperadas para esta corrente semana praticamente não ocorreram nas regiões produtoras gaúchas, não havendo projeções de chuvas significativas nos próximos sete dias pelo menos.
Em termos de colheita, o Paraná já teria atingido a 2,5 milhões de toneladas (73% da área semeada). Somando isso as 258.700 toneladas colhidas em São Paulo e as 214.500 toneladas em Minas Gerais, o país já teria uma disponibilidade de trigo novo ao redor de 3 milhões de toneladas, porém, a comercialização é lenta já que os preços estão subindo e os produtores esperam para vender. Ao mesmo tempo, os compradores de farinhas estão aumentando a demanda para melhorarem seus estoques antes de uma alta ainda mais significativa dos preços do cereal.
Vale alertar que, se todos os produtores começarem a segurar sua safra, apesar de um bom percentual já estar vendido antecipadamente, o que poderá ocorrer, entre janeiro e março, momento em que a safra argentina também estará no mercado, é um recuo acentuado dos preços do cereal, repetindo o que aconteceu na safra 2017/18.
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Fonte: Informativo CEEMA UNJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1) e de Jaciele Moreira (2).
1 – Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
2- Analista do Laboratório de Economia da UNIJUI, bacharel em economia pela UNIJUÍ, Tecnóloga em Processos Gerenciais – UNIJUÍ e aluna do MBA – Finanças e Mercados de Capitais – UNIJUÍ e ADM – Administração UNIJUÍ