As cotações do trigo em Chicago despencaram nesta semana, com o primeiro mês cotado fechando a quinta-feira (27) em US$ 5,29/bushel, contra US$ 5,60 uma semana antes. O atual valor não era visto desde o final de novembro passado.
Em Chicago, a pressão veio da realização de lucros por parte dos especuladores, os quais decidiram vender posições a partir da alta anterior das cotações. Um tradicional ajuste técnico. Mas igualmente pesou o avanço do coronavirus mundo afora, o que tem feito muita gente sair das bolsas e buscar refúgio no dólar. Ninguém sabe como tudo isso irá terminar e, principalmente, quanto tempo irá durar. Assim, a economia mundial começa a travar ainda mais. O aumento do valor do dólar também acaba reduzindo a competitividade do trigo estadunidense.
Por sua vez, nos EUA, o Fórum Outlook do USDA indicou que a nova área de trigo será de 18,2 milhões de hectares naquele país, ficando praticamente igual a do ano anterior e um pouco acima do esperado pelo mercado.
Somou-se a isso, para a baixa da cotação na semana, a fraca demanda pelo trigo dos EUA. As vendas líquidas do cereal, no ano comercial 2019/20, iniciado em 1º de junho, atingiram a 346.300 toneladas na semana encerrada em 13/02. Isso representa um recuo de 40% sobre a média das últimas quatro semanas.
Em paralelo, na Argentina o preço FOB do trigo para entrega em fevereiro esteve em US$ 240,00/toneladas. Ao câmbio atual no Brasil o produto do vizinho país chega nos moinhos paulistas ao redor de R$ 1.250,00/tonelada e em Curitiba em torno de R$ 1.160,00/tonelada. Com a nova desvalorização do Real durante a corrente semana esta paridade de importação aumentou, deixando ainda maior espaço para um aumento de preços junto ao trigo brasileiro de qualidade superior. Para junho, o trigo argentino está sendo indicado a US$ 258,00/tonelada, ou seja, 7,5% acima do preço atual.
Nas demais regiões do Mercosul o preço FOB do trigo fechou a semana entre US$ 215,00 e US$ 225,00/tonelada, enquanto a safra nova argentina, para o final do ano, está em US$ 185,00 em termos apenas nominais.
Aqui no Brasil, o saco de trigo fechou a semana valendo R$ 44,36 no balcão gaúcho. Enquanto isso, os lotes se mantiveram em R$ 51,00/saco. No Paraná, o balcão se manteve em R$ 50,00, enquanto os lotes ficaram entre R$ 60,00 e R$ 63,00/saco. E em Santa Catarina, o balcão conservou valores em R$ 46,00/saco, enquanto os lotes, na região de Campos Novos (SC), ficaram em R$ 54,00.
Além do coronavirus, o câmbio tem sido no Brasil, o elemento de atenção do mercado. Nestes níveis, a importação fica cada vez mais cara, podendo puxar para cima os preços internos do produto de qualidade. Isso só não acontece de forma significativa, ainda, porque os moinhos brasileiros estão bastante abastecidos no momento.
A questão é verificar como se movimentará o mercado a partir deste mês de março, pois tais moinhos ou importam ou pagam mais pelo produto nacional, lembrando que tivemos mais uma vez uma safra frustrada, especialmente em qualidade, na última colheita. Neste sentido, ganha força as expectativas em relação a volatilidade do dólar. Em síntese, continua o viés de alta para os preços do trigo nacional, muito ligado ao comportamento cambial diante da necessidade natural de importações nos próximos meses.
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Fonte: Informativo CEEMA UNJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1) e de Jaciele Moreira (2).
1 – Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
2- Analista do Laboratório de Economia da UNIJUI, bacharel em economia pela UNIJUÍ, Tecnóloga em Processos Gerenciais – UNIJUÍ e aluna do MBA – Finanças e Mercados de Capitais – UNIJUÍ e ADM – Administração UNIJUÍ.