Autores: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum e Jaciele Moreira.
As cotações do trigo em Chicago subiram bem nesta semana, chegando a bater em US$ 5,80/bushel no dia 25/03. Entretanto, na quinta-feira (26) houve expressivo recuo, com o fechamento ficando em US$ 5,69/bushel. Mesmo assim, bem acima dos US$ 5,35 do fechamento da semana anterior e, sobretudo, do ponto mínimo atingido durante o mês que foi de US$ 4,98/bushel no dia 16/03.
A elevação nas cotações se deve a ajustes técnicos e a uma melhora no consumo do produto estadunidense, especialmente no mercado interno local. Neste último caso, a tendência de aumento no consumo de alimentos durante a pandemia, mas também depois que a situação voltar ao normal e a população puder retornar ao pleno consumo, pode manter as cotações elevadas em Chicago.
Já as exportações não estão positivas, com as vendas líquidas, na semana encerrada em 12/03, ficando em apenas 338.300 toneladas, ou seja, 21% abaixo da média das quatro semanas anteriores. As inspeções de exportação, por sua vez, bateram em 349.369 toneladas na semana encerrada em 19/03, ficando abaixo do previsto pelo mercado.
Todavia, este aspecto acabou sendo absorvido pelo anúncio de medidas econômicas nos EUA, com o governo local liberando US$ 2 trilhões para fazer frente aos efeitos econômicos do coronavírus.
Ao mesmo tempo, o mercado espera igualmente os relatórios do USDA previstos para o dia 31/03.
Na Argentina, com os portos fechados, o preço FOB oficial chegou a US$ 245,00/tonelada para entrega em março. Ao câmbio atual, a tonelada chegaria aos moinhos paulistas a R$ 1.350,00 e em Curitiba a R$ 1.260,00. Portanto, continua existindo espaço para o trigo nacional subir ainda mais de preço. Para novembro, a tonelada FOB na Argentina está prevista em US$ 211,00.
Ainda no Mercosul, nos outros países membros, a tonelada FOB de trigo está entre US$ 215,00 e US$ 220,00 na venda.
E no Brasil, os preços do trigo de qualidade superior se mantêm firmes. O balcão gaúcho fechou a semana na média de R$ 44,90/saco, enquanto os lotes subiram para R$ 57,00. No Paraná, o balcão girou entre R$ 52,00 e R$ 55,00/saco, enquanto os lotes subiram para valores entre R$ 66,00 e R$ 69,00/saco. Já em Santa Catarina, o balcão ficou entre R$ 47,00 e R$ 48,00/saco, enquanto os lotes atingiram, na região de Campos Novos, o valor de R$ 58,80/saco.
A tendência na Argentina é de recuo nos preços locais do trigo, enquanto durar o fechamento dos portos, porém, a forte desvalorização do Real, hoje ainda acima dos R$ 5,00 por dólar, continua mantendo muito caro o produto importado.
Vale ainda destacar que a disponibilidade de trigo, tanto no Brasil quanto na Argentina, é pequena na atualidade, fato que colocará os moinhos brasileiros, que começam a retornar às compras neste final de março, em dificuldades. Com isso, os preços internos do trigo podem subir um pouco mais nas próximas semanas. Deve-se contar para isso, igualmente, com o aumento na demanda interna pela farinha e derivados diante da quarentena do coronavírus.
Em síntese, o viés continua sendo de alta para os preços do trigo no Brasil, fato que deve estimular o plantio da nova safra, desde que os efeitos do coronavírus o permitam. Isso fica ainda mais evidente se o câmbio continuar nestes níveis estratosféricos destes últimos dias, o que não parece ser a tendência quando a situação voltar ao normal. No geral, os moinhos estão preocupados com as dificuldades na aquisição de trigo no momento, além dos problemas logísticos decorrentes da entrada da safra de verão e do coronavírus.
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Fonte: Informativo CEEMA UNJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1) e de Jaciele Moreira (2).
1 – Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
2- Analista do Laboratório de Economia da UNIJUI, bacharel em economia pela UNIJUÍ, Tecnóloga em Processos Gerenciais – UNIJUÍ e aluna do MBA – Finanças e Mercados de Capitais – UNIJUÍ e ADM – Administração UNIJUÍ.