Autor: Dr. Argemiro Luís Brum
As cotações do trigo, em Chicago, registraram novamente fortes oscilações durante esta semana. De um dia para outro tais oscilações chegaram a quase um dólar por bushel em alguns momentos. Mas, de forma geral, o mercado cedeu em relação às máximas obtidas após o início da guerra entre Rússia e Ucrânia.
Assim, o bushel do cereal fechou esta quinta-feira (17) em US$ 10,98, contra US$ 10,73 uma semana antes, após ter atingido a US$ 11,54 no dia 15/03 e o recorde histórico de US$ 14,25 no dia 07/03.
Dito isso, as exportações de trigo por parte dos EUA, na semana encerrada em 10/03, somaram apenas 145.900 toneladas, ficando 53% abaixo da média das quatro semanas anteriores. Em todo o atual ano comercial, os EUA exportaram 14,8 milhões de toneladas, contra 18,8 milhões em igual período do ano anterior. O país espera exportar, neste ano, um total de 21,8 milhões de toneladas.
Neste momento, há grande preocupação com o clima seco nas planícies produtoras do sul dos EUA, o qual ameaça o trigo de inverno, exatamente em um momento de dificuldades de oferta devido ao conflito no Leste Europeu. Alguns agricultores do sudoeste do Kansas, o principal estado produtor de trigo dos EUA, não recebem muita chuva ou neve desde outubro. O trigo de inverno é plantado no outono, fica adormecido no inverno e começa a brotar na primavera. A umidade adequada do solo é fundamental nesta fase para que a safra seja boa. Mais da metade do Kansas foi classificada sob seca severa ou em estado pior, em 8 de março. Seriam as condições mais secas desde 2018, de acordo com o Centro Nacional de Mitigação da Seca. A seca severa também está afetando três quartos de Oklahoma e mais de dois terços do Texas, ambos grandes produtores de trigo. O trigo de inverno vermelho duro dos EUA representa quase metade da produção total de trigo do país e é moído principalmente para farinha de pão. Uma safra reduzida pode aumentar ainda mais a inflação de alimentos que a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) disse ter sido a mais alta de todos os tempos em fevereiro. Este é mais um motivo para as altas históricas no preço do trigo em Chicago. (cf. Notícias Agrícolas)
Em paralelo, a atual safra de trigo na China, o maior produtor mundial do cereal, está entre as piores de todos os tempos, pois o plantio foi feito com atraso devido as fortes chuvas.
Já aqui no Brasil os preços continuam firmes. A média gaúcha fechou a semana em R$ 99,29/saco, sendo que nas principais praças de negócios do Rio Grande do Sul o valor bate em R$ 100,00/saco. No Paraná, o valor do produto oscilou entre R$ 100,00 e R$ 105,00/saco. Há muita preocupação quanto a disponibilidade de trigo no mercado brasileiro, pois além de alguns problemas de produção e qualidade nos últimos anos, as importações estão muito caras e as exportações brasileiras têm crescido neste ano. Com isso, o preço dos derivados, a começar pela farinha, estão subindo fortemente.
Neste sentido, as exportações brasileiras do cereal somaram 62.000 toneladas por dia até a segunda semana de março, contra a média diária de apenas 1.900 toneladas registrada em março do ano passado. Desta forma, o país já exportou 496.250 toneladas em março, contra apenas 45.370 toneladas em todo o março do ano passado. (cf. Secex) A boa produção da última safra e o câmbio favorável, além dos altos preços internacionais a partir do conflito da Rússia com a Ucrânia, estão estimulando as exportações brasileiras do cereal. Assim, desde dezembro, até meados de março do corrente ano, o Brasil já exportou 2,5 milhões de toneladas de trigo. Um volume recorde. Espera-se que a abertura do mercado internacional, ao trigo nacional, eleve a produção do cereal no inverno brasileiro. Se isso vier a ocorrer, o trigo seguirá o mesmo caminho do milho no país. Na última década, até 2020, a exportação de milho do Brasil aumentou mais de três vezes, para cerca de 35 milhões de toneladas, enquanto a produção quase dobrou no mesmo período, para mais de 100 milhões de toneladas.
No caso do trigo, um produto que o Brasil importa mais de 50% de seu consumo, a maior parte da Argentina, haveria espaço para o país mais que dobrar a área plantada, ante os atuais 2,7 milhões de hectares. Em havendo liquidez e preço adequado a tendência é de o produtor brasileiro efetivamente aumentar o plantio do cereal. Mesmo porque as alternativas de plantio, no inverno do Centro-Sul nacional, são escassas em termos de geração de renda. Alguns analistas chegam a projetar um aumento de 30% na área semeada com trigo, em 2022, aqui no Rio Grande do Sul, diante da nova realidade do mercado e haja vista que já foram antecipadas vendas de quase 600.000 toneladas do cereal da futura colheita. A questão que preocupa é o contínuo aumento dos custos de produção.
Enfim, importante destacar ainda que a Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (ABIMAPI), está projetando um forte aumento nos preços de seus produtos ao consumidor final brasileiro nas próximas semanas. Com o forte aumento das cotações internacionais do trigo não há como evitar este aumento. Segundo a Associação, nas massas, em média, 70% do custo é de farinha. Nos biscoitos, o peso é de 30%, e nos pães e bolos industrializados, de 60%. Projeta-se um repasse gradual, pois não há espaço para elevar os preços de uma vez só para o consumidor final.
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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).