Autor: Dr. Argemiro Luís Brum
As cotações do trigo se consolidaram acima de US$ 8,00/bushel na corrente semana, chegando a atingir US$ 8,26 no dia 15/11. Este valor não era visto em Chicago, para o trigo, considerando o primeiro mês cotado, desde dezembro de 2012, ou seja, a quase nove anos. O fechamento da quinta-feira (18) acabou ficando em US$ 8,20/bushel, contra US$ 8,12 uma semana antes.
Em paralelo, o plantio do trigo de inverno nos EUA, até o dia 14/11, atingia a 94% da área esperada, ficando dentro da média histórica. Deste total, 81% já havia emergido, enquanto 46% das lavouras apresentavam condições entre boas a excelentes, outras 34% estavam regulares, e 20% entre ruins a muito ruins.
Quanto às exportações estadunidenses, na semana encerrada em 11/11 as mesmas atingiram a 389.000 toneladas de trigo, superando as expectativas do mercado. Com esse volume, o total embarcado do cereal chega a 10,3 milhões de toneladas no atual ano comercial.
Aqui no Brasil, os preços do trigo se mantiveram estáveis, com a média gaúcha fechando a semana em R$ 81,80/saco, enquanto no Paraná os preços ficaram em R$ 88,00.
Dito isso, com o Rio Grande do Sul atingindo cerca de 80% da área já colhida, graças ao clima seco que impera em boa parte da região produtora local, a colheita do cereal se aproxima do fim no país. Todavia, as estimativas de produção estão sendo constantemente reduzidas devido aos problemas climáticos enfrentados durante a safra. A Conab, por exemplo, passou a produtividade média para 2.832 quilos/hectare (47,2 sacos/hectare), com recuo de 6,4% sobre o relatório anterior, embora ainda 6% acima do ano 2020, o qual foi relativamente frustrado. Em termos totais, o órgão oficial estima, agora, uma safra de 7,7 milhões de toneladas, com 3,16 milhões no Paraná e 3,5 milhões de toneladas no Rio Grande do Sul. Santa Catarina alcançaria 332.700 toneladas. No entanto, a maioria dos analistas privados nacionais não acredita que o Brasil chegará a esse volume de produção, confirmando nossos alertas anteriores. A quebra de safra tende a ser maior devido as diferentes intempéries ocorridas durante o desenvolvimento da planta no sul do país. Um número mais próximo de 7 milhões de toneladas (e mesmo um pouco menos) parece ser bem mais plausível, sem considerar ainda as perdas na qualidade do grão em diferentes regiões.
Neste contexto, os estoques de passagem tendem a ser bastante reduzidos, dependendo do volume importado. Com isso, os preços não devem baixar muito em relação ao que se tem no momento, pois daqui em diante não haverá mais pressão de colheita. Ao mesmo tempo, é possível que ainda ocorram revisões para baixo na safra final brasileira do cereal, podendo até mesmo surpreender o mercado. Assim, na virada do ano é provável que os preços voltem a subir junto aos produtores nacionais de trigo, especialmente agora que as cotações internacionais estão batendo recordes de alta.
Esta realidade indica que a farinha de trigo tende a subir de preço no país nos próximos meses. Afinal, os moinhos estariam trabalhando com margens apertadas já que o preço do produto subiu, em média, 25% neste ano, enquanto os moinhos conseguiram repassar somente metade deste aumento aos consumidores finais. Segundo representantes gaúchos do setor, a defasagem de preço, hoje, estaria entre 20% a 25%. No Paraná, fala-se de uma defasagem entre 10% a 15%. Neste Estado os moinhos compravam trigo a R$ 950,00/tonelada no início de 2020 e, atualmente, estão pagando R$ 1.700,00. Devido a quebra da safra atual, em volume e qualidade, o Paraná terá que importar trigo do Rio Grande do Sul, Paraguai e Argentina, já que o Estado processa entre 3,6 a 3,7 milhões de toneladas por ano. (cf. Globo Rural)
Enfim, a empresa de biotecnologia Bioceres afirmou que o seu trigo transgênico “ainda não entrará na fase comercial” no Brasil, apesar da liberação recebida essa semana. De fato, na quinta-feira (11/11), a CTNBio (Comissão Nacional de Biossegurança) aprovou a utilização da farinha do trigo transgênico HB4 – que chega ao Brasil pela TMG (Tropical Melhoramento Genético). Entretanto, “independentemente da aprovação do Brasil, a Bioceres continuará gerenciando a produção de sementes e grãos de trigo HB4 dentro do programa de identidade preservada que foi utilizado nas duas últimas campanhas na Argentina. Tanto a semente quanto o grão produzido são 100% propriedade da Bioceres”. Antes da comercialização, explica a empresa, é preciso atender a outros requisitos, tais como o de obter aprovação nos principais destinos de exportação que representam mais de 5% do total das exportações em média nos últimos seis anos. Além disso, os fabricantes querem disponibilizar um método de detecção de baixo custo com uma sensibilidade de + 1%. A Bioceres garante que está sendo desenvolvido um sistema de captura de valor e canal de identidade preservado, bem como o estabelecimento de um sistema de extensão e educação. Eles ressaltam que continuarão trabalhando no aspecto regulatório. O maior temor das operadoras de mercado, hoje, é que haja contaminação dos embarques de grãos com material transgênico, causando sanções comerciais. A Bioceres assegura que continuará a “implementar os protocolos de manejo e biossegurança, auditando os processos de semeadura, colheita, armazenamento e transporte”. (cf. Agrolink) Vamos ver na prática o que realmente irá acontecer em relação a tudo isso, e como o mercado global irá se posicionar a respeito.
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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).