Autor: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
As cotações do trigo, em Chicago, subiram um pouco durante a semana, porém, apresentando grandes oscilações. O mercado chegou a bater em US$ 7,59/bushel no dia 22/07, subindo para US$ 8,03 no dia 26, e fechando a quinta-feira (28) em US$ 8,17, contra US$ 8,06/bushel uma semana antes.
A situação na Ucrânia, com a possibilidade de escoamento de seus grãos após o acordo com a Rússia, justamente da sexta-feira 22/07, acabou pesando sobre o mercado, pois os russos, ao bombardearem o porto de Odessa, um dia após o acordo, deram a entender que o mesmo não seria cumprido.
Em paralelo, a colheita do trigo de inverno, nos EUA, atingia 77% da área, até o dia 24/07, contra 80% na média histórica. Por outro lado, as condições das lavouras do trigo de primavera, na mesma data, indicavam 68% entre boas a excelentes, 24% regulares e 8% entre ruins a muito ruins.
Ao mesmo tempo, na semana encerrada em 21/07, os EUA embarcaram um total de 475.426 toneladas de trigo, ficando o volume dentro das projeções do mercado. Com isso, o total embarcado no atual ano comercial 2022/23, iniciado em 1º de junho, atinge a 2,6 milhões de toneladas, ou seja, 24% menos do que o registrado em igual período do ano passado.
E no mercado brasileiro os preços do cereal continuaram recuando. A possibilidade de compras externas mais baratas, pela forte queda em Chicago, e a nova valorização do Real, deixam o mercado menos pressionado. Além disso, a projeção de uma safra nacional histórica, acima de 10 milhões de toneladas neste ano, coloca o mercado em outro patamar. De fato, se tal safra se confirmar, a tendência dos preços do trigo é de forte recuo a partir de setembro, como já vínhamos alertando, podendo o movimento ainda aumentar no final do ano. Neste momento, o clima definirá o real volume que o país terá. No geral, de forma mais realista, seria importante contar, por enquanto, com uma safra entre 8 e 9 milhões de toneladas. Especialmente porque, no Rio Grande do Sul, as lavouras já enfrentam dificuldades climáticas, com um forte calor seco que dura quase todo o mês de julho.
Pelo sim ou pelo não, o fato é que os negócios internos com trigo são apenas pontuais, com o mercado esperando a entrada da nova safra em setembro.
Dito isso, no mais longo prazo, o país espera, efetivamente, se tornar autossuficiente em trigo. A meta é chegar a este estágio nos próximos 10 anos, apoiada pelas pesquisas desenvolvidas pela Embrapa. Neste caso, além do trigo transgênico, em testes no Cerrado brasileiro, espera-se poder realizar duas safras de trigo no inverno gaúcho, além da expansão do bioma Cerrado. Lembrando que a demanda brasileira de trigo, anualmente, fica entre 12 e 13 milhões de toneladas na atualidade.
Enfim, vale destacar que, se o acordo entre Rússia e Ucrânia vingar, o mesmo permitirá escoar os grãos ucranianos pelo Mar Negro, mesmo a guerra continuando. Isso deverá provocar um quadro ainda maior de recuo nos preços internacionais do trigo e do milho. A Ucrânia teria 20 milhões de toneladas de grãos estocados, além do que vem sendo colhido no momento, embora as dificuldades da guerra. Assim, se o corredor de exportações pelo Mar Negro for realmente seguro para dar vazão às cargas estocadas, a tendência é que as cotações do trigo caiam ainda mais. Uma notícia que deve servir de alerta aos produtores de trigo do Brasil e da Argentina, pois isso tende a coincidir com a entrada da nova safra local, que, no Brasil, promete ser recorde. Não haverá preço que resista a uma tal realidade, diante de uma demanda brasileira com dificuldades de renda. O recuo dos preços do trigo no país, iniciado neste mês de julho, parece ser o início de um movimento irreversível, dentro do atual contexto externo e interno. (cf. Globo Rural)
O alerta está dado, sem ignorar que existe a clara possibilidade de ainda o Brasil aumentar suas exportações de trigo em 2022/23. Mas, obviamente, é preciso esperar para ver se realmente o acordo entre russos e ucranianos irá vingar na prática, além de aguardarmos o comportamento climático no Brasil para se verificar o real tamanho da safra tritícola que teremos. Sem falar ainda na questão da qualidade do grão que será colhido, fator preponderante no mercado do trigo.
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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).