A cultura do milho (Zea mays) possui alto potencial produtivo, porém, a produtividade pode ser limitada por um conjunto de fatores, como: estresse hídrico, disponibilidade de nutrientes, competição com plantas daninhas e o ataque a pragas e doenças.
Nesta safra (2023/24), em algumas áreas tem se observado um ataque severo de percevejo barriga verde (Dichelops melacanthus) na cultura do milho, se colocando este como uma das principais pragas que causa danos na fase inicial de desenvolvimento da cultura, fase esta, em que o milho define seu potencial produtivo. Podendo esta praga causar perdas de até 60% da produção e em casos mais severos, é necessário fazer o replantio da área (SYNGENTA BRASIL, 2022).
Percevejo barriga verde
O Percevejo barriga verde pertencente ao gênero Diceraeus spp. Ganhou maior notoriedade com o cultivo da segunda safra de milho, em que houve um acréscimo de áreas cultivadas. Este por sua vez é comum na região sul do Brasil por possuir um clima quente, sendo que sua identificação pode ser descrita da seguinte maneira: os ovos possuem uma coloração inicial esverdeada logo após a postura, e a medida que vão amadurecendo adquirem uma cor mais escura, as ninfas desse percevejo apresentam-se na cor castanho-escuro e quando nos seus últimos instares possuem tecas alares esverdeadas e com a estrutura corporal castanho-esverdeada.
A característica marcante do percevejo adulto é a face dorsal ser completamente marrom e a face ventral verde, e na cabeça a presença do pronoto estendido, em que os espinhos são mais escuros que seu corpo e com formato pontiagudo, sendo que na fase adulta pode medir de 9 a 12 mm de comprimento (Figura 1).
Figura 1: Adulto do percevejo
Fonte: Syngenta, 2021.Dichelops melacanthus.
As fêmeas desse inseto fazem a deposição dos ovos sobre as folhas de plantas hospedeiras, como também, podem estar presente em restos culturais de cultivos antecessores. Essa praga necessita de 27 dias para que o seu ciclo ocorra, ou seja, do ovo até a fase adulta passando por 5 instares conforme ilustrado na figura 2.
Figura 2: Ciclo de desenvolvimento do Dichelops melacanthus.
Fonte: Pereira, et al. 2007 apud Geneze Sementes, 2021.
Danos causados
Os danos causados pelo percevejo barriga verde são expressivos quando analisados na cultura do milho, em vista que as ninfas e adultos se alimentam principalmente nas horas de clima mais ameno na base das plântulas. Esse inseto injeta toxinas que provoca alterações fisiológicas nos tecidos das plantas e em casos extremos pode ocasionar a morte da mesma.
Na cultura do milho, esse percevejo é considerado uma praga inicial, reduzindo o vigor, estimulando o perfilhamento e o surgimento de plantas dominadas. O sintoma do seu ataque pode ser observado na figura 3. Essas plantas quando atacadas pelo percevejo barriga verde, tornam-se improdutivas ou quando conseguem se desenvolver produziram espigas pequenas, pois crescem mais lentamente não conseguindo as mesmas condições que as plantas sadias.
Figura 3: Sintomas de folhas atacadas pelo Percevejo barriga-verde.
Fonte: Natiel Celer apud Elevagro, 2022.
Condições favoráveis para seu desenvolvimento
O percevejo barriga verde passou a causar sérios danos à cultura do milho em virtude da conhecida “Ponte Verde”, que é a presença constante de plantas que estão em estádios vegetativos e reprodutivos e que possuem a capacidade de fornecer alimento, garantindo a sobrevivência dessa praga. Essas plantas hospedeiras em bordaduras de lavouras ou em áreas de cultivo, sucede o período de diapausa dessa praga, que faz menção ao intervalo de tempo pelo qual esse inseto, para não morrer, reduzirá a sua atividade metabólica, principalmente em épocas de baixas temperaturas.
Como identificar estes a campo
O monitoramento deve ser realizado preferencialmente nas primeiras horas da manhã ou nas horas mais frescas do dia, através da contagem direta em plantas. Nas horas mais quentes do dia, prestar atenção a palhada contida no solo, uma vez que, este tem o hábito de se abrigar embaixo da mesma se protegendo da radiação solar, além de plantas daninhas perenizadas, que sobraram na lavoura e que podem abrigar a praga nas horais mais quentes do dia. Também pode ser realizado o monitoramento com a utilização de iscas com material atrativo distribuídas pela área.
Deve-se dar atenção a cultura antecessora do milho seja ela comercias, cobertura de solo ou até mesmo plantas daninhas presentes na resteva, que possam abrigar essa praga servindo como uma ponte verde e possibilitando o adulto do percevejo e ninfas migrar para cultura do milho nessa fase inicial de desenvolvimento da cultura.
Até quantos dias após a emergência devemos estar atentos ao ataque de Percevejo Barriga verde?
Deve-se dar máxima atenção ao ataque de percevejo barriga verde na cultura do milho, da emergência das plântulas até em torno de 28 dias, ou seja, nas primeiras quatro semanas da emergência da cultura, uma vez que esta pode causar sérios danos na fase inicial de desenvolvimento comprometendo o stand final de plantas e consequentemente o número final de espigas, impactando negativamente na produtividade final de grãos. Em casos mais severos de ataque, há necessidade até de replantio da área.
Controle
Deve se ter grande atenção já na realização da dessecação da área que antecede a semeadura do milho. Quando da presença do percevejo barriga verde, deve-se realizar a aplicação de inseticida recomendado para este junto a dessecação, visando diminuir pressão e evitar que adulto do percevejo e ninfas estejam migrando para cultura do milho recém emergido.
O tratamento de sementes com inseticidas registrados para a cultura e recomendado para o percevejo barriga verde é uma excelente estratégia preventiva de controle, uma vez que, este ataca na fase inicial de desenvolvimento da cultura.
Durante o desenvolvimento da cultura do milho deve-se ter máxima atenção desde a germinação das plântulas até em torno de 28 dias de desenvolvimento, tendo como nível de controle na cultura do milho, a identificação de 1 percevejo vivo a cada 10 plantas amostradas em sequenciais na linha de semeadura e neste caso realizar a aplicação de inseticidas registrados no MAPA para a cultura.
Porém, geralmente trabalha-se com o manejo preventivo deste, com uma aplicação na fase de palito e após 3 dias recomenda-se realizar o monitoramento da lavoura. Sendo identificado o nível de controle, realiza-se outra aplicação e assim sucessivamente continua o monitoramento da cultura, permanecendo o número de aplicações condicionado a presença e pressão desta praga sobre a cultura.
Por: Alfredo Henrique Suptiz e Thaysla Vezaro Wiedemann, acadêmicos do curso de Agronomia da UFSM, campus Frederico Westphalen, membros do Programa de Educação Tutorial – PET Ciências Agrárias, sob acompanhamento do tutor, professor Dr. Claudir José Basso.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GENEZE SEMENTES – Percevejo Barriga-Verde (Diceraeus spp.) no milho. Disponível em: https://genezesementes.com.br/media/arquivos/edicao_3_infocampo_percevejo_barriga_verde.pdf. Acesso em: 10 out. 2023.
SYNGENTA BRASIL – Percevejo-barriga-verde: práticas de controle no cultivo de milho. Disponível em: https://portal.syngenta.com.br/noticias/percevejo-barriga-verde-praticas-de-controle-no-cultivo-de-milho/. Acesso em: 10 out. 2023.