Por muito tempo os ácaros foram considerados pragas secundárias em soja. No entanto, surtos populacionais têm sido relatados com frequência em diferentes regiões produtoras, especialmente em períodos de estiagem. Desse modo, o monitoramento constante da lavoura apresenta importância primordial, bem como o emprego de medidas de controle de acordo com a intensidade de ataque dos ácaros à cultura.

A maior parte dos ácaros fitófagos que atacam a cultura da soja pertencem à família Tetranychidae, diferenciando-se dos demais pela capacidade de produzirem teia, semelhantemente às aranhas. Dentre estes, o ácaro-rajado (Tetranychus urticae) destaca-se pelo seu potencial biótico e capacidade de dano à cultura. Espécie invasiva no Brasil, essa praga apresenta elevada capacidade reprodutiva e adaptativa, ocorrendo em diversas plantas hospedeiras ao longo de todo o ano. As densidades populacionais de T. urticae elevam-se em períodos mais quentes, coincidindo com o cultivo da soja no Sul do Brasil (GUEDES et al., 2008).

O aumento da ocorrência de ácaro-rajado na soja tem sido atribuído a vários fatores, tais como: mudanças no sistema de cultivo; introdução de variedades tolerantes ao glifosato, que contém em sua formulação surfactantes prejudiciais aos ácaros-predadores; ocorrência de ferrugem na soja e aumento do uso de fungicidas, reduzindo a ação de fungos entomopatogênicos (agentes de controle natural do ácaro-rajado); e, por fim, uso intensivo de inseticidas não seletivos, reduzindo as populações de inimigos naturais (GUEDES et al., 2007).

O ácaro-rajado possui um aparelho bucal picador/sugador dotado de estiletes. Inicialmente, seu dano é caracterizado por pequenas pontuações brancas ou amareladas que evoluem rapidamente para manchas acinzentadas na face inferior da folha, enquanto que na face superior ocorrem manchas amareladas (Figura 1).

Figura 1. Pontuações brancas no início do ataque de ácaros em soja (imagem à esquerda) e injúrias avançadas de ácaros em folíolo de soja (imagem à direita).

Fonte: Grupo de Manejo e Genética de Pragas. Confira a imagem original clicando aqui

Em sua fase adulta, os ácaros se alimentam sugando o conteúdo celular das folhas e, consequentemente, afetando o número de cloroplastos das células. Como conseqüência, forma-se uma massa branca morta em uma das extremidades das células e uma lesão circular nas células ao seu redor, exteriorizando-se como mancha clorótica na folha (GONÇALVES, 1996).

De acordo com Arnemann et al. (2018), em estudos realizados em áreas com e sem controle de ácaros tetraniquídeos, na safra 2011/12 em São Sepé e Santa Maria-RS, as perdas ocasionadas por estas pragas chegaram a 20 sc.ha-1, dependendo da cultivar de soja utilizada. Segundo Padilha et al. (2020), a densidade populacional de um ácaro-rajado por cm2 de área foliar causou a redução de uma vagem por planta de soja, dois grãos por planta, 0,7 g da massa de 1.000 grãos e 0,35 g da produtividade de grãos por planta, ou 42 kg.ha-1 de grãos.

Portanto, a injúria no tecido foliar ocasionada por T. urticae e por outras espécies de ácaros fitófagos reduz a taxa fotossintética das plantas de soja, refletindo-se em perdas de produtividade. Além disso, visto que as populações de ácaros na soja têm aumentado ao longo das safras, é importante que o seu manejo seja realizado de forma integrada, buscando preservar os inimigos naturais e reduzir os riscos de surtos populacionais da praga na cultura, dando especial relevância ao monitoramento na lavoura.



Elaboração:

Revisão: Henrique Pozebon, Mestrando PPGAgro  e Prof. Jonas Arnemann, PhD. e Coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM

 REFERÊNCIAS:

ARNEMANN, J.A.; FIORIN, R.A.; GUEDES, J.V.C.; POZEBON, H.; MARQUES, R.P.; PERINI, C.R.; STORCK, L. Assessment of damage caused by the spider mite Mononychellus planki (McGregor) on soybean cultivars in South America. Australian Journal of Crop Science. 12 de Dezembro de 2018. Disponível em https://www.cropj.com/arnemann_12_12_2018_1989_1996.pdf

Gonçalves, M. I. F.. Variação do teor de 2-tridecanona em folíolos de tomateiro e sua relação com a resistência a duas espécies de ácaros do gênero Tetranychus. Lavras: UFLA. Dissertação de Mestrado. 8 de Agosto de 1996. Disponível em http://repositorio.ufla.br/bitstream/1/34001/3/DISSERTA%c3%87%c3%83O_Varia%c3%a7%c3%a3o%20no%20teor%20de%202-Tridecanona%20em%20fol%c3%adolos%20de%20tomateiro%20e%20sua%20rela%c3%a7%c3%a3o%20com%20a%20resist%c3%aancia%20a%20duas%20esp%c3%a9cies%20de%20%c3%a1caros%20do%20g%c3%aanero%20Tetranychus.pdf

GUEDES, J.V.C.; NAVIA, D.; LOFEGO, A.C.; DEQUECH, S.T.B. Ácaros associados à cultura da soja no Rio Grande do Sul, Brasil. Neotropical Entomology. Abril de 2007.  Disponível em https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1519-566X2007000200017&script=sci_arttext#:~:text=No%20Brasil%2C%20as%20esp%C3%A9cies%20de,%3A%20o%20%C3%A1caro%20rajado%2C%20T.&text=Distintamente%2C%20nas%20safras%20agr%C3%ADcolas%20de,de%20acaricidas%20para%20seu%20controle.

GUEDES, J.V.C et al. Ácaros em soja: ocorrência, reconhecimento e manejo. Revista Plantio Direto, Passo Fundo. Setembro/Outubro de 2008. Disponível em Revista Plantio Direto ed.107, p. 32-37.

PADILHA, G. et al. Damage assessment and economic injury level of the two-spotted
spider mite Tetranychus urticae in soybean. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.55, e01836, 2020. DOI: https://doi.org/10.1590/S1678-3921.pab2020.v55.01836

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