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Desafios no manejo da Buva (Conyza spp.)

A buva (Conyza spp.), é uma planta daninha pertencente à família das Asteraceas, sua ocorrência é observada em todo o mundo.  Dentre as principais espécies desse gênero, destacam-se a Conyza bonariensis, Conyza canadensis e Conyza sumatrensis. Essas espécies apresentam ampla adaptação, apresentando grande diversidade genética e complexa identificação morfológica na diferenciação entre as diferentes espécies (HRAC, 2021).

Figura 1. Nomes científicos, sinonímias e nomes comuns.

Fonte: Albrecht & Albrecht (2020).

De acordo com Rizzardi, é uma planta herbácea, ereta, podendo alcançar até 2 metros de altura dependendo das condições de desenvolvimento. Apresenta caule ereto, cilíndrico e suscetível a quebra, mas nesse caso, a planta possui a capacidade de rebrotar, sua raiz principal é pivotante e bastante profunda.

A buva é uma planta anual, destacando-se como uma planta daninha muito prejudicial aos cultivos, sendo de comum ocorrência em grandes culturas como a soja e milho, sua reprodução ocorre exclusivamente através de suas sementes, e uma única planta pode produzir uma enorme quantidade de sementes, que pode ultrapassar 200 mil sementes, além de apresentar grande facilidade de dispersão, essas características a tornam uma espécie daninha muito agressiva.

Conforme destacam Albrecht & Albrecht (2021), as sementes de buva são fotoblásticas positivas, o que significa que elas germinam apenas na presença de luz, essa característica é altamente favorecida no contexto do sistema de produção agrícola. A germinação ocorre principalmente durante o outono e início da primavera, um período que coincide parcialmente com o fim da safra de milho e a entressafra, antes do plantio da soja.

Figura 2. Buva (Conyza spp.).

Fonte: HRAC – BR (2022).

A buva (Conyza bonariensis) é uma espécie nativa da América do Sul, encontrada em países como Argentina, Uruguai, Paraguai e Brasil. No Rio Grande do Sul, é uma planta daninha de destaque, infestando culturas de trigo, soja e milho, onde sua presença pode ter um impacto significativo nas culturas (Vargas et al., 2007).

A presença de plantas daninhas exerce impacto significativo na redução da produtividade e qualidade das culturas, de acordo com Almeida & Ferrão (2022), cerca de 34% das perdas de produtividade nas principais culturas cultivadas no mundo são atribuídas à interferência de plantas invasoras. Um exemplo claro dessa interferência pode ser observado na cultura da soja (Glycine max), onde a presença da buva (Conyza spp.) pode resultar em uma redução na produtividade que varia entre 12% e 14,6%.

O primeiro caso de resistência de Conyza bonariensis no Brasil, foi registrado em 2005 nas culturas do milho, frutas, soja e trigo. Os casos foram registrados nos estados do Rio Grande do Sul e em São Paulo, com resistência ao glifosato, do mecanismo de ação Inibidores da Enolpiruvil Shiquimato Sintase (EPSP’s’). Em 2005, também foi registrado o primeiro caso de resistência no Brasil da espécie Conyza canadensis ao glifosato, em frutas, pomares e na cultura da soja.



Ao longo dos anos, foram surgindo novos casos de resistência. Em 2011, foi registrado o primeiro caso de resistência múltipla aos herbicidas, a dois mecanismos de ação. Esse caso ocorreu na espécie Conyza sumatrensis, nas culturas do milho e soja, aos ingredientes ativos clorimuron-etil e glifosato, dos mecanismos de ação dos Inibidores da Acetatolactato Sintase (ALS) e ao Inibidor da Enolpiruvil Shiquimato Sintase (EPSP’s).

Já em 2017, foram registrados dois novos casos de resistência múltipla, novamente em Conyza sumatrensis, ambos na cultura da soja. Um desses casos de resistência, foi a resistência múltipla a três mecanismos de ação, aos ingredientes ativos clorimuron-etil, glifosato e paraquat, dos mecanismos de ação: inibidores da ALS, EPSP’s e ao Inibidor do Fotossistema I (PSI), respectivamente.

O outro caso de resistência múltipla, foi registrado com resistência a cinco mecanismos de ação, aos ingredientes ativos 2,4 D, diuron, glifosato, paraquat e saflufenacil, dos mecanismos de ação: Mimetizadores de auxinas, Inibidores do Fotossistema II (PSII), EPSPs, PSI e Inibidores da Protoporfirinogênio Oxidase (Protox), respectivamente (Heap, 2023).

Figura 4. Casos de resistência de buva (Conyza spp.) registrados no Brasil.

Fonte: Albrecht & Albrecht (2021).

O momento ideal de controle da buva é quando ela apresenta de 6 a 8 folhas (Albrecht & Albrecht, 2020).  Devido à extrema agressividade e adaptabilidade dessas espécies, bem como os casos registrados de resistência, o manejo para o controle dessa planta daninha torna-se um desafio.  Nesse contexto, é essencial a implementação do Manejo Integrado de Plantas Daninhas (MIPD), que envolve ações como a rotação de culturas, o estabelecimento de consórcios que promovem a cobertura do solo com palha, a adoção de práticas sustentáveis ​​no uso de plantas transgênicas, a aplicação criteriosa de herbicidas, e a limpeza adequada das colhedoras, entre outras medidas (Albrecht & Albrecht, 2018).

É importante priorizar as boas práticas agrícolas para o manejo de resistência, conforme destacam Albrecht & Albrecht (2021), deve-se seguir o manejo de resistência de plantas daninhas, quando necessário controle químico, priorizando o uso de pré-emergentes, sempre respeitando as orientações contidas na bula de doses, culturas registradas e momento de uso. Sempre que possível, preconizar a rotação de mecanismos de ação para evitar a seleção de biotipos resistentes.


Veja mais: Capim-amargoso: características, casos de resistência, danos e estratégias de manejo dessa planta daninha


Referências:

ALBRECHT, A. J. P.; ALBRECHT, L. P. BUVA (Conyza sumatrensis) COM RESISTÊNCIA À HERBICIDAS NA REGIÃO OESTE DO ESTADO DO PARANÁ. Informativo Supra Pesquisa, ano I, n. 1. Universidade Federal do Paraná (UFPR), 2018. Disponível em: < https://b73f4c7b-d632-4353-826f-b62eca2c370a.filesusr.com/ugd/48f515_823263dc77244a839d004ee27046e77a.pdf >, acesso em: 06/09/2023.

ALBRECHT, A. J. P.; ALBRECHT, L. P. MAPEAMENTO DA BUVA (Conyza spp.) COM RESISTÊNCIA A HERBICIDAS. Informe técnico, v. 2, n. 6. Comitê de Ação a Resistência aos Herbicidas – HRAC – BR, 2021. Disponível em: < https://drive.google.com/file/d/1z8bw67vkeWifv-QhU1aIUqSu-sQe0O7T/view?usp=sharing >, acesso em: 06/09/2023.

ALBRECHT, L. P; ALBRECHT, A. J. P.  MANEJO DE BUVA (Conyza spp.). Comitê de Ação a Resistência aos Herbicidas, 2020. Disponível em: < https://drive.google.com/file/d/152RgIqQ95R-3QweVrh_lJVMjmjIdElxc/view >, acesso em: 06/09/2023.

ALMEIDA, E. I. B.; FERRÃO; G. E.  FUNDAMENTOS EM BIOLOGIA E MANEJO DE PLANTAS DANINHAS. EDUFMA, São Luís – MA, 2022. Disponível em: < https://www.edufma.ufma.br/wp-content/uploads/woocommerce_uploads/2022/11/Livro-completo.pdf >, acesso em: 06/09/2023.

HEAP, I. BANCO DE DADOS INTERNACIONAL DE ERVAS DANINHAS RESISTENTES A HERBICIDAS. Online, 2023. Disponível em: < http://www.weedscience.org/Pages/Species.aspx >, acesso em: 06/09/2023.

HRAC – BR. Conyza spp. (BUVA): CONHEÇA AS CARACTERÍSTICAS DA PLANTA DANINHA. Comitê de Ação a Resistência aos Herbicidas, 2021. Disponível em: < https://www.hrac-br.org/post/conyza-spp-buva-conhe%C3%A7a-as-caracter%C3%ADsticas-da-planta-daninha >, acesso em: 06/09/2023.

HRAC – BR. SAIBA MAIS SOBRE A BUVA. Comitê de Ação a Resistência aos Herbicidas, 2022. Disponível em: < https://www.hrac-br.org/post/saiba-mais-sobre-a-buva >, acesso em: 06/09/2023.

RIZZARDI, M. PLANTAS DANINHAS: BUVA. Up Herb, Academia das Plantas Daninhas. Disponível em: < https://upherb.com.br/int/buva >, acesso em: 06/09/2023.

VARGAS, L.; BIANCHI, M. A.; RIZZARDI, M. A.; AGOSTINETTO, D.; DAL MAGRO, T. BUVA (Conyza bonariensis) RESISTENTE AO GLYPHOSATE NA REGIÃO SUL DO BRASIL. Planta Daninha, v.25, n.3, p.573-578, Viçosa – MG, 2007. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/pd/a/hGWJxhMh6R8FprV8L7W3pcR/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 06/09/2023.

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Equipe Mais Soja
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