O trigo (Triticum aestivum) destaca-se como uma das principais culturas de inverno da Região Sul do País. Em alguns casos, é possível que ocorra uma sobreposição no tempo de cultivo entre as culturas de inverno e as culturas de verão, uma vez que o final do ciclo das culturas de inverno e o início do ciclo das culturas de verão se sobrepõem no mesmo período do ano.

Nesse sentido, a prática da dessecação do trigo é amplamente adotada por muitos produtores na Região Sul, para antecipar a colheita. Com a semeadura da soja em sucessão ao trigo cada vez mais cedo, a prática da dessecação pode antecipar a colheita do trigo em até seis dias devido ao efeito do herbicida, que efetivamente encerra o ciclo da planta após esta ter alcançado o estágio de maturação fisiológica das sementes (Embrapa Trigo, 2020).

De acordo com a Fundação ABC (2022), a época ideal para realizar a dessecação pré-colheita do trigo é quando o grão está com massa pastosa dura (estádio GS 87) e a colheita pode ser realizada 7 dias após a aplicação

Figura 1. Trigo em estádio de maturidade fisiológica.

Fonte: Fundação ABC (2022).

Além da consistência do grão, outra característica que auxilia na identificação da maturação fisiológica na cultura do trigo é a coloração dos nós, enquanto as folhas e o colmo já amarelaram, somente os nós ainda apresentam a coloração verde, sendo indicativo importante dessa fase de maturação.

Figura 2. Característica do colmo de trigo na maturação fisiológica (GS 87), com colmos maduros e nós ainda apresentando cor verde.

Fonte: Fundação ABC (2022).

Conforme destaca Antunes (2019), a antecipação da colheita do trigo é motivada pelo fato de que, em algumas regiões, a semeadura da soja costuma render melhores resultados quando realizada na primeira quinzena de outubro. Dentre os principais benefícios da dessecação do trigo estão a uniformização da lavoura e a antecipação da semeadura da soja. De acordo com Rizzardi (2021), uma vantagem adicional dessa prática é que ela pode contribuir para o controle das plantas daninhas que se encontram nos estádios iniciais de desenvolvimento e que ficam rente ao solo, sobre as plantas da cultura.

Contudo, definir o momento adequado para a dessecação do trigo é fundamental para minimizar perdas tanto em quantidade quanto em qualidade dos grãos ou sementes produzidos e decisivo para antecipar a colheita. Portanto, é fundamental dedicar atenção especial a essa prática de manejo, garantindo o uso de produtos herbicidas devidamente registrados para a cultura, aplicados nas doses recomendadas. Rizzardi (2021), afirma que o uso de herbicida não registrado pelo Ministério da Agricultura para tal finalidade pode acarretar apreensão e proibição nos grãos colhidos.




A Embrapa Trigo (2020), destaca que dessecações realizadas antes das culturas atingirem a maturidade fisiológica podem interferir negativamente no enchimento dos grãos, no vigor e na germinação de sementes. Além disso, Cunha & Caierão (2023), alertam sobre os riscos da dessecação em pré-colheita de trigo, o uso de herbicidas sistêmicos pode aumentar o risco de contaminação dos grãos.  Esses herbicidas distribuem-se por toda planta, e na fase de enchimento de grãos, eles direcionam-se e concentram-se nas regiões de acúmulo de reservas, ou seja, nos grãos.

Os autores destacam ainda, que principalmente com o uso do glifosato, aumenta-se o risco, pois as moléculas desse herbicida são metabolizadas, possivelmente gerando compostos mais tóxicos que o próprio herbicida. Com relação aos herbicidas de contato, como diquate e amônio-glufosinato, o risco maior relaciona-se com o período de carência e com a contaminação direta dos grãos.

O glufosinato de amônio é o único herbicida registrado para ser utilizado durante a fase de maturação/dessecação do trigo, sendo assim, o uso de herbicidas não autorizados para essa finalidade pode resultar na presença de resíduos indesejados nos grãos colhidos (Rizzardi, 2021).


Veja mais: Ferrugem em Trigo



Referências:

ANTUNES, J. M. CUIDADOS NA DESSECAÇÃO DO TRIGO. Embrapa, 2019. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/busca-de-noticias/-/noticia/47124555/cuidados-na-dessecacao-do-trigo#:~:text=opera%C3%A7%C3%A3o%20de%20pulveriza%C3%A7%C3%A3o.-,Segundo%20o%20pesquisador%20da%20Embrapa%20Trigo%2C%20Leandro%20Vargas%2C%20o%20%C3%BAnico,bruscamente%20o%20enchimento%20de%20gr%C3%A3os. >, acesso em: 08/09/2023.

CUNHA, G. R.; CAIERÃO, E. INFORMAÇÕES TÉCNICAS PARA TRIGO E TRITICALE SAFRA 2023. Embrapa, Brasília – DF, 2023. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1153536/1/InformacoesTecnicasTrigoTriticale-Safra2023.pdf , acesso em: 08/09/2023.

EMBRAPA TRIGO, DESSECAÇÃO PRÉ-COLHEITA DE TRIGO. Embrapa Trigo, 2020. Disponível em: < https://www.embrapa.br/documents/1355291/56391049/Desseca%C3%A7%C3%A3o+pr%C3%A9-colheita+de+trigo/581dc5d1-22e3-12da-de44-fb238a7eea1e >, acesso em: 08/09/2023.

FUNDAÇÃO ABC. PONTO DE DESSECAÇÃO PRÉ-COLHEITA EM TRIGO E CEVADA. Fundação ABC, 2022. Disponível em: < https://fundacaoabc.org/2022/11/25/ponto-de-dessecacao-pre-colheita-em-trigo-e-cevada/ >, acesso em; 08/09/2023.

 

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