Ao longo do desenvolvimento da soja, diversos patógenos podem incidir sobre a cultura, provocando danos e, consequentemente, resultando em perdas de produtividade.  Destacam-se entre esses patógenos, a mancha-parda (Septoria glycines) e o crestamento foliar de cercospora (Cercospora spp.), que compõem o complexo de doenças de final de ciclo (DFC). O termo atribuído, refere-se aos sintomas que se manifestam no fim do ciclo da cultura, ocasionando a desfolha precoce da lavoura (Godoy et al., 2023).

Conforme destacado por Kudlawiec & Müller (2023), ambas as espécies de patógenos encontram condições favoráveis para seu desenvolvimento em climas quentes e úmidos, caracterizados por temperaturas médias em torno de 25°C e umidade superior a 70%.  Os patógenos podem infectar a planta de soja em diferentes estádios fenológicos e partes da planta. Além disso, por se tratar de fungos necrotróficos, esses patógenos são capazes de sobreviver em restos culturais infectados durante o período de entressafra da soja.

Geralmente, os primeiros sintomas da mancha-parda se manifestam, aproximadamente, duas semana após a emergência da cultura, apresentando-se como pequenas pontuações ou manchas de contornos angulares, de coloração castanho-avermelhadas, nas folhas unifolioladas. Em condições ambientais favoráveis, a doença pode progredir e atingir os primeiros trifólios, resultando em severa desfolha.

Nas folhas afetadas, os sintomas caracterizam-se pelo surgimento de pontuações pardas, com diâmetro inferior a 1 mm. Essas pontuações evoluem, formando manchas que apresentam halos amarelados e centro de contorno angular, apresentando coloração castanha em ambas as faces, podendo atingir até 4mm de diâmetro. Em casos de infecções mais severas, a mancha-parda pode resultar em desfolha e maturação precoce (Henning et al., 2014). Rodrigues (2020) ressalta que a doença provoca a desfolha no terço inferior da planta.

Figura 1. Sintomas de mancha-parda (Septoria glycines) em soja.
Fonte: Saran (2011).

De acordo com Saran (2011), o fungo Cercospora spp. possui capacidade de atacar todas as partes da planta, podendo ser responsável por reduções significativas tanto no rendimento quanto na qualidade das sementes. Os sintomas nas folhas se caracterizam pelo surgimento de pontuações escuras, de coloração castanho-avermelhadas e bordas difusas, as quais tendem a coalescer, formando grandes manchas escuras que resultam em severo crestamento e desfolha prematura.

Nas vagens de soja, observa-se o aparecimento de pontuações vermelhas, que evoluem para manchas castanho-avermelhadas. O fungo, então se propaga para as sementes, ocasionando a formação da mancha púrpura no tegumento. Nas hastes, o fungo provoca manhas vermelhas, geralmente superficiais e restritas ao córtex. Em casos de infecção nos nós, o fungo pode penetrar na haste, provocando a necrose da medula (Henning et al., 2014).

Figura 2. Sintomas de cercosporiose (Cercospora kikuchii) em folhas de soja.
Fonte: Silva et al. (2023).

Ambas as doenças podem ocorrer de maneira isolada ou simultânea na lavoura, sendo que, os sintomas do crestamento foliar são mais comuns no final do ciclo da cultura, o que é atribuído à produção de cercosporina pelo fungo (Godoy et al., 2023). A cercosporina, como destacado pelo pesquisador Madalosso (2020), é uma toxina associada à virulência e à capacidade do patógeno em causar danos e infecções no hospedeiro.

Saran (2011) destaca que as doenças de final de ciclo apresentam potencial de ocasionar reduções superiores a 20% no rendimento da soja. Além disso, também podem comprometer a qualidade e germinação das sementes (mancha-púrpura da semente). A mancha púrpura afeta a qualidade fisiológica das sementes, resultando na redução da massa e no potencial de germinação da semente (Bernardo et al., 2021).

Figura 3. Sintoma de mancha-púrpura no grão.
Fonte: Saran (2011).

Com o objetivo de elaborar uma ferramenta para auxiliar a avaliação e quantificação da severidade das doenças foliares de final de ciclo em soja, Martins et al. (2024), desenvolveram a escala diagramática. A escala foi desenvolvida com o propósito de estabelecer um padrão na estimativa da severidade das doenças, visando proporcionar maior precisão na avaliação das DFC’s.



Figura 4. Escala diagramática das doenças de final de ciclo da soja (Glycine max) causadas por Septoria glycines e Cercospora kikuchii. Painel superior: Sintomas agregados. Painel inferior: Sintomas aleatoriamente distribuídos.
Fonte: Martins et al. (2004).

Em virtude da capacidade de sobrevivência dos fungos em restos culturais, Seixas et al. (2020) ressaltam a rotação de culturas como uma estratégia importante para reduzir o inóculo na área. O controle das doenças de final de ciclo na cultura da soja requer a adoção de medidas como o uso de sementes isentas de patógenos, o tratamento de sementes e a aplicação de fungicidas na parte aérea, como salientado pelos autores. Além dessas práticas, Godoy et al. (2023) destacam a importância de manter uma boa cobertura de solo com palha, visando reduzir o impacto das gotas de chuva e minimizar a dispersão do inóculo para as folhas primárias.


Veja mais: Míldio (Peronospora manshurica) em soja



Referências:

BERNARDO, A. P. G. et al. GERMINAÇÃO E VIGOR DE SEMENTES DE SOJA COM NÍVEIS DE MANCHA PÚRPURA. Revista Agronomia Brasileira, v. 5, 2021. Disponível em: < https://www.fcav.unesp.br/Home/ensino/departamentos/cienciasdaproducaoagricola/laboratoriodematologia-labmato/revistaagronomiabrasileira/rab202122.pdf >, acesso em: 01/02/2024.

GODOY, C. V. et al. EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS PARA O CONTROLE DAS DOENÇAS DE FINAL DE CICLO DA SOJA, NA SAFRA 2022/2023: RESULTADOS SUMARIZADOS DOS ENSAIOS COOPERATIVOS. Embrapa, circular técnica, 193. Londrina – PR, 2023. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1154333/1/Cir-Tec-193.pdf >, acesso em: 01/02/2024.

HENNING, A. A. et al. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE DOENÇAS DE SOJA. Embrapa Soja, documentos, 256. Londrina – PR, 2014. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/105942/1/Doc256-OL.pdf >, acesso em: 01/02/2024.

KUDLAWIEC, P. A. K.; MÜLLER, M. PRINCIPAIS DOENÇAS NA CULTURA DA SOJA, SAFRA 2021/2022, NAS REGIÕES DO CERRADO. Revista Cultivar, 2023. Disponível em: < https://revistacultivar.com.br/artigos/manejo-de-doencas-iniciais-da-soja >, acesso em: 01/02/2024.

MADALOSSO, M. G. DIAGNOSE DE CERCOSPORIOSE EM SOJA? DEVERIA CONHECER A CERCOSPORINA! Madalosso Pesquisas, 2020. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=9RiyfGw16jI >, acesso em: 01/02/2024.

MARTINS, M. C. et al. ESCALA DIAGRAMÁTICA PARA A QUANTIFICAÇÃO DO COMPLEXO DE DOENÇAS FOLIARES DE FINAL DE CICLO EM SOJA. Fitopatologia Brasileira, 2004. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/fb/a/3p7phY7rWkKJRcFPkcMwmTq/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 01/02/2024.

RODRIGUES, L. K. DOENÇAS DE FINAL DE CICLO NA SOJA. Promip, 2020. Disponível em:  < https://promip.agr.br/doencas-de-final-de-ciclo-na-soja/ >, acesso em: 01/02/2024.

SARAN, P. E. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DAS DOENÇAS DA SOJA. Coletânea FMC, 2011. Disponível em: < https://www.fmcagricola.com.br/Home/BaixarMaterial/16 >, acesso em: 01/02/2024.

SEIXAS, C. D. et al. MANEJO DE DOENÇAS. Tecnologias de Produção de Soja, sistemas de produção, 17, cap. 10. Embrapa Soja, Londrina – PR, 2020. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/223209/1/SP-17-2020-online-1.pdf >, acesso em: 01/02/2024.

Fonte foto de capa: SARAN, A.P., 2011.

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