Em 2013, a ONU declarou o dia 5 de dezembro como o “Dia Mundial do Solo”, por reconhecer que o solo desempenha papel-chave no crescimento econômico, manutenção da biodiversidade, segurança alimentar, manutenção da disponibilidade de água potável, redução dos gases de efeito estufa, e também por entender que a manutenção da capacidade produtiva dos solos agrícolas está sempre sendo colocada em risco frente a diversos processos de degradação, principalmente em países em desenvolvimento como o Brasil.

Nesse sentido a Organização das Nações Unidas para Alimentação e a Agricultura (FAO), em sua campanha para o ano de 2019, está focando em um antigo problema – porém ainda muito atual e bastante conhecido pelos agricultores gaúchos: a erosão do solo. A campanha, de alcance mundial, conta com o slogan: “Pare a erosão do solo, salve nosso futuro”. O motivo para esse alerta é o fato de que, conforme a FAO, a erosão do solo é a maior ameaça para a manutenção da capacidade produtiva dos solos na América do Sul, entre outras regiões do planeta. E, trazendo a questão para o Rio Grande do Sul, com certeza existem razões para que o Dia Mundial do Solo seja um momento de reflexão.

Erosão é um processo de perda de solo causado pelo efeito físico das chuvas e do vento, podendo ser muito agravado em solos agrícolas mal manejados.  Toda vez que uma determinada quantidade de solo é erodida devido à ação de uma chuva intensa, essa perda é permanente, pois o solo é um recurso natural não renovável. A taxa de formação do solo é extremamente lenta; de maneira geral, para que seja formada apenas uma fina camada dois centímetros de solo, são necessários que se passem pelo menos mil anos.

Técnico avalia solo
Campanha da FAO este ano conta com o slogan: “Pare a erosão do solo, salve nosso futuro” – Foto: Fernando Dias

Atualmente no mundo, de acordo com dados da FAO, o equivalente a um campo de futebol é erodido a cada cinco segundos. Este ritmo nos levará à degradação de mais de 1,5 milhões de quilômetros quadrados até 2050. E, infelizmente, os problemas causados pela erosão vão além da perda da capacidade produtiva dos solos. O solo é o principal reservatório de carbono orgânico do planeta, e, portanto, desempenha fundamental papel no processo de mitigação das mudanças climáticas. Entretanto, uma das partes mais vulneráveis do solo ao processo de erosão é justamente a matéria orgânica, de maneira que toda perda de carbono por erosão do solo representa o retorno para a atmosfera de toneladas de gases do efeito estufa, como gás carbônico (CO2) e metano (CH4), gerando um ciclo vicioso de aumento de eventos extremos (chuvas e ventos) e intensificação do processo de erosão.

Por outro lado, técnicas e tecnologias para controle a erosão do solo vêm sendo desenvolvidas já há décadas e, portanto, diferentemente de outros gargalos, em que há limitação tecnológica, a perda de solo em áreas agrícolas é plenamente evitável a partir da adoção de boas práticas de manejo, como o emprego pleno do Sistema Plantio Direto (SPD), cultivo em nível, utilização de terraceamento quando necessário, manutenção permanente do solo cultivado, realização de rotação de culturas, visando à diversificação dos resíduos adicionados à superfície do solo.

Nesse sentido, o estado do Rio Grande do Sul foi pioneiro em programas de conservação do solo, sendo o SPD um símbolo deste processo. No entanto, nos últimos anos, práticas conservacionistas, inerentes ao SPD, passaram a ser adotadas com menor intensidade, causando o ressurgimento da erosão do solo e o consequente assoreamento de cursos d’água. Tendo consciência desta situação, a Secretaria da Agricultura e Pecuária e Desenvolvimento Rural (SEAPDR), por meio seu Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária (DDPA), desenvolve pesquisas visando o desenvolvimento e validação de tecnologias, adaptadas às condições do Estado, voltadas à qualificação do manejo de solo e água, recuperação e áreas degradadas.

Desde 2013 o DDPA/SEAPDR conduz o projeto Mais Água, que tem como foco avaliar, em áreas demonstrativas e experimentais, práticas adequadas de manejo de solo que contribuam para a redução da perda de solo e o aumento da qualidade da água que sai destes sistemas. Estas áreas estão localizadas nos centros de pesquisa do DDPA em Júlio de Castilhos e Vacaria, gerando dados quanto à eficiência de diferentes sistemas de preparo de solo e de culturas e permitindo a transferência de conhecimento e troca de experiência entre produtores, extensionistas e pesquisadores.

A conservação do solo também passa pela diversificação de culturas, e a utilização de leguminosas nos sistemas agrícolas causa grande impacto no manejo da sustentabilidade do solo, tendo em vista que as plantas desta família – feijão, soja, tremoço, ervilha, trevo, cornichão –, em associação com bactérias do grupo dos rizóbios, são capazes de fixar nitrogênio atmosférico, o que reduz o emprego de fertilizantes nitrogenados como a ureia, reduzindo tanto o custo de produção quanto a contaminação ambiental. Porém, para que a fixação biológica de nitrogênio ocorra de forma eficiente, deve-se realizar a inoculação das sementes com rizóbios selecionados para cada cultura.

Esta é uma tecnologia consolidada e provavelmente o caso de maior sucesso foi a seleção de rizóbios para a cultura da soja, para a qual, em função do emprego de inoculante, não há a necessidade de aplicação de fertilizante mineral para o suprimento da demanda por nitrogênio. Milhões de reais e de toneladas de fertilizantes são economizados no Brasil a cada ano em função da adoção desta tecnologia, o que produz importantes impactos econômicos e ambientais.  Nesse sentido, o Laboratório de Microbiologia agrícola do DDPA vem trabalhando desde a década de 1950 com a seleção de estirpes de rizóbios mais eficientes na fixação biológica do nitrogênio para as mais diversas culturas leguminosas, mantendo uma coleção de isolados de rizóbios que serve como base para a produção de inoculantes comerciais para todo o país.

Fonte: SEAPI RS

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