O Fósforo (P), é um dos nutrientes mais requeridos pela soja, sendo necessários, cerca de 15 kg de P2O5 por tonelada de grãos produzidos (Embrapa, 2008). Embora o Fósforo seja naturalmente encontrado nos solos, na matéria orgânica e resíduos cultura, as plantas não absorvem o P na forma orgânica, ou seja, o P presente na matéria orgânica do solo não se torna disponível para as plantas, até que os microrganismos convertam os compostos orgânicos em fosfatos inorgânicos (IPNI).
Segundo Vilar & Vilar (2013), a capacidade do solo em adsorver fósforo é em média 1.000 vezes superior que a adubação fosfatada geralmente aplicada em culturas agrícolas, o que resulta normalmente em uma tendência a deficiência de fósforo. Isso explica por que ano após ano, em determinados solos, é necessário realizar a reposição de fósforo, mesmo que as doses utilizadas na adubação sejam superiores a exportação do nutriente pela cultura.
Embora seja um dos nutrientes mais trabalhados na adubação de culturas anuais, o Fósforo apresenta uma complexa dinâmica no solo, sendo, portanto, um dos nutrientes mais difíceis de se trabalhar. Segundo Pereira et al. (2009), o Fósforo é considerado um nutriente de baixa mobilidade no solo, em outras palavras, é praticamente imóvel no solo.
Em função das características químicas da molécula, nem sempre o fósforo encontra-se prontamente disponível para as plantas, mesmo em elevadas quantidades no solo. Fatores como tipo de solo, textura, teor de argila, e pH podem interferir diretamente na disponibilidade do Fósforo para as plantas.
As interações e dinâmica do Fósforo no solo foram demonstradas por Stewart & Sharpley (1987) associando-as com as frações estimadas pelo fracionamento de Hedley et al. (1982). Técnica, em que são adicionados sequencialmente, extratores de menor à maior força de extração, os quais removem fósforo inorgânico (Pi) e Fósforo orgânico (Po) das formas mais disponíveis às mais estáveis (Gatiboni, 2003).
Figura 1. O ciclo do Fósforo no solo: Seus componentes e correspondência com as frações estimadas pelo fracionamento de Hedley et al. (1982) (Gatiboni, 2003).

A complexa dinâmica do Fósforo no solo, atrelado a capacidade de adsorção do nutriente por alguns tipos de solo, faz com que apenas cerca de 20 a 30% do Fósforo aplicado via fertilizante seja aproveitado pelas plantas (Pereira, 2009). Além do baixo aproveitamento do Fósforo aplicado, a demanda do nutriente, seja pela extração ou exportação, tornam necessários que o Fósforo seja aportado ao sistema de produção safra após safra, mediante a adubação do solo. Sobretudo, as formas de adubação fosfatada dividem opiniões quando ao método de aplicação, sendo fonte que questionamentos e polêmicas.
No geral, por se tratar de um nutriente imóvel no solo, não é recomendada a adubação com Fósforo em superfície. Sob níveis muito baixos, médios ou adequados de disponibilidade do Fósforo no solo, sua adubação deve ocorrer obrigatoriamente via sulco, sendo vedada a adubação de cobertura (em superfície).
Entretanto, sabe-se que há certas dificuldades operacionais em se realizar a adubação fosfatada via sulco, especialmente se tratando de elevadas doses do fertilizante. Visando contornar esse problema, uma alternativa atrativa operacionalmente é a adubação via lanço (em superfície), que possibilita maior rendimento operacional em comparação a adubação via sulco.
Sobretudo, agronomicamente a adubação via lanço de Fósforo não é recomendada, entretanto, dependendo das condições de clima e solo, essa prática pode ser utilizada como alternativa em casos extremos. Conforme destacado por Semler et al., se tratando de solos leves, caso a área em questão apresente todos os critérios necessários, a adubação fosfatada pode ser realizada sem maiores prejuízos, contudo, é necessário a interpretação correta, caso a caso, analisando minuciosamente se essa é a única alternativa.
Semler et al. Destacam a adubação fosfatada em cobertura, só se aplica a áreas corrigidas quimicamente com níveis altos ou muito altos, vindos de um bom sistema convencional no passado, e com bom sistema de plantio direto atualmente, também devem ser considerados outros fatores, tais como: regularidade climática, cobertura vegetal permanente e ausência atual ou de qualquer possibilidade a longo prazo de escorrimentos superficiais que possam ocasionar erosões.
Figura 2. Produtividade de soja por quatro safras (2016/17 a 2019/20). Centro de Aprendizagem e Difusão- CAD Parecis.

A possibilidade de se realizar a adubação fosfatada via cobertura do solo, em solos leves, pode ser atribuída a elevada fertilidade do solo e altos níveis nutricionais, não sendo comprometida, portanto, a disponibilidade dos nutrientes para as plantas, onde a adubação fosfatada entra somente como adubação de reposição.
Contudo, em lavouras com níveis de fertilidade muito baixo, baixo ou médio, a adubação fosfatada via cobertura não é uma opção eficiente, independente do tipo de solo, teor de argila ou condições climáticas, sendo, portanto, recomendada apenas a adubação via sulco, nessas circunstâncias.
Como alternativas para aumentar a eficiência operacional no momento da semeadura, pode-se realizar o parcelamento da adubação fosfatada, adotando a adubação de sistema que consiste em fornecer parte dos nutrientes requeridos pela soja na cultura anterior e o restante no cultivo da soja. Outra alternativa utilizada principalmente e lavouras de larga escala, é realizar a adubação em momentos anteriores a semeadura, nesse caso, deve-se atentar para os nutrientes fornecidos no momento da semeadura, visando reduzir as perdas por escoamento superficial e lixiviação no caso do Potássio (K), ao utilizar fertilizantes N-P-K como fonte de fósforo para a adubação.
É importante salientar que o Fósforo mantém sua dinâmica de baixa mobilidade no solo, portanto a estratificação do perfil ocorrerá, sendo possível observar o acúmulo de Fósforo na camada superficial do solo, principalmente nos primeiros 10 cm no sistema plantio direto.
Levando em consideração que a maior parte das raízes da planta se concentram nas camadas de 10 a 40 cm, é essencial fornecer condição para que o Fosforo “Desça” no solo, concentrando nas camadas mais exploradas pelo sistema radicular das plantas, o que não é possível por meio da adubação fosfatada em cobertura no solo.
Veja mais: Adubação de Correção, Manutenção e Reposição
Referências:
EMBRAPA SOJA. TECNOLOGIAS DE PRODUÇÃO DE SOJA – REGIÃO CENTRAL DO BRASIL 2009 E 2010. Embrapa Soja, Sistemas de Produção, 13, 2008. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/471536/1/Tecnol2009.pdf >, acesso em: 30/05/2023.
GATIBONI, L. C. DISPONIBILDIADE DE FORMAS DE FÓSFORO DO SOLO ÀS PLANTAS. Tese de Doutorado, Universidade Federal de Santa Maria, 2003. Disponível em: < https://repositorio.ufsm.br/bitstream/handle/1/3154/LUCIANO%20GATIBONI.pdf?sequence=1&isAllowed=y >, acesso em: 30/05/2023.
IPNI. NUTRI-FATOS: INFORMAÇÃO AGRONÔMICA SOBRE NUTRIENTES PARA AS PLANTAS: FÓSFORO. IPNI. Disponível em: < https://www.npct.com.br/publication/nutrifacts-brasil.nsf/book/NUTRIFACTS-BRASIL-2/$FILE/NutriFacts-BRASIL-2.pdf >, acesso em: 30/05/2023.
PEREIRA, H. S. FÓSFORO E POTÁSSIO EXIGEM MANEJOS DIFERENCIADOS. Visão Agrícola, n. 9, 2009. Disponível em: < https://www.esalq.usp.br/visaoagricola/sites/default/files/VA9-Fertilidade04.pdf >, acesso em: 30/05/2023.
SEMLER, et al. MANEJO DA ADUBAÇÃO FOSFATADA (FÓSFORO) EM SOLOS LEVES RESULTADOS CAD PARECIS. Fundação MT, Aprosoja MT. Disponível em: < https://www.aprosoja.com.br/download/bJFjbzXxq3 >, acesso em: 30/05/2023.
VILAR, C. C.; VILAR, F. M. COMPORTAMENTO DO FÓSFORO EM SOLO E PLANTA. Revista Campo Digital, v. 8, n. 2, dezembro, 2013. Disponível em: < https://www.researchgate.net/publication/267209917_Artigo_de_Revisao_-_COMPORTAMENTO_DO_FOSFORO_EM_SOLO_E_PLANTA_-_PHOSPHORUS_BEHAVIOR_IN_SOIL_AND_PLANT >, acesso em: 30/05/2023.