Qual efeito da adubação foliar nitrogenada aplicada tardiamente na cultura da soja sobre a produtividade e os seus componentes de produção?
Autores: Flávio Araújo de Moraes1; Junior Cézar Resende Silva2; Hugo Carneiro de Resende3; Silvino Guimarães Moreira4; Júlia Rodrigues Macedo5; Thayná Pereira Azevedo Chiarini6; Fábio Henrique de Oliveira7.
A cultura da soja desempenha papel fundamental no cenário agrícola brasileiro, sendo o Brasil o maior produtor de soja no mundo. Para conseguir produtividades elevadas e aumentar a rentabilidade do negócio, é fundamental investir em tecnologias, dentre elas se destaca a adubação.
Segundo Faquin (2005), o nutriente mais exigido pela cultura é o nitrogênio (N), sendo extraído 80 kg/ha para cada tonelada de grãos produzida, desta forma, para que seja economicamente viável o cultivo de soja é preciso utilizar a FBN (fixação biológica de nitrogênio).
Segundo Hungria et al. (2006), a utilização da FBN, através das bactérias do gênero Bradyrhizobium, se caracterizou como um dos maiores avanços tecnológicos no cultivo da soja, uma vez que permite a substituição da adubação via fertilizantes pela inoculação dessas bactérias, tornado a produção mais sustentável e econômica. No entanto, mesmo com a alta eficiência da FBN, várias empresas vêm desenvolvendo produtos à base de N, principalmente foliares, para que atuem como fonte complementar deste nutriente à fase final do enchimento de grãos da cultura.
Portanto, objetivou-se avaliar o efeito da adubação foliar nitrogenada aplicada tardiamente na cultura da soja sobre a produtividade e os seus componentes de produção.
O experimento foi realizado em condições de campo sobre um Latossolo Vermelho Amarelo (LVA) (Embrapa, 2004), no município de Mogi-Mirim-SP, no período da safra 2018/2019. A precipitação média durante a condução do experimento foi de 1274 mm. Na tabela 1, são apresentados os atributos químicos do solo da área experimental antecedendo a implantação do experimento. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso contendo 7 tratamentos e 4 repetições. Cada parcela foi constituída de 6 linhas de 7 m, com espaçamento de 0,5 m, totalizando 21m2. Como área útil para avaliação da produtividade foram consideradas as 2 linhas centrais com 5 m cada.
O produto utilizado nos tratamentos foi o fertilizante foliar mineral misto MULTINITRO 30®, da fabricante Multitécnica, sendo sua composição a base de água e uma solução de sulfato de amônia, sendo 30% de N e 3% de S. Na tabela 2 estão descritos as doses e estágios de aplicação de cada tratamento.
A cultivar de soja utilizada foi a DM66i68 IPRO, sendo semeada em 13 de outubro de 2018 com uma densidade populacional inicial de 280 mil plantas por hectare.
Em pré-semeadura foi realizado, a aplicação de 100 kg ha-1 de cloreto de potássio (60 % de K2O). Na semeadura, foi utilizado 250 kg ha-1 do adubo NPK 07-40-00 6Ca 3S.
A colheita foi realizada no dia 16/02/2019, totalizando 126 dias de ciclo. Os caracteres avaliados foram a produtividade de grãos, os quais tiveram a umidade corrigida para 13% e estimada em kg ha-1, peso de 100 grãos, altura de plantas, número de grãos por vagem e número de vagens por planta. Para avaliar esses três últimos, foram coletadas 5 plantas ao acaso em cada parcela. Os dados foram submetidos à análise de variância e em seguida foi feita a comparação dos tratamentos pelo teste de médias de Scott-Knott a 5% de probabilidade, com auxílio do programa estatístico SISVAR (FERREIRA, 2011).
Resultados e Discussão
Não foi observado diferença significativa para peso de grãos, grãos por vagem, vagens por planta, altura de plantas e produtividade da soja em função da aplicação de N foliar a partir do estádio R2.
Os resultados mostram a eficiência da FBN no fornecimento de N para a cultura da soja, não sendo necessária a complementação deste nutriente durante o estádio reprodutivo. É importante ressaltar, que o solo onde foi conduzido o experimento apresentava fertilidade construída, sendo cultivado a mais de 5 anos sob sistema de semeadura direta, apresentando valores bons de matéria orgânica, a qual pode fornecer N para a cultura.
Os resultados obtidos no presente trabalho também foram observados por outros autores. Na safra 2012/13, Nogueira et al. (2016) trabalharam com aplicação de N mineral em soja inoculada, utilizando diferentes doses de N, com duas fontes: ureia liquida, dissolvida em água com as respectivas doses 0, 5, 10, 15 kg ha-1 e a ureia sólida utilizando 0, 50, 100 e 200 kg ha-1, no estádio reprodutivo (R5.3). Não houve diferença estatística para produtividade em nenhum dos tratamentos com aplicação suplementar de N. Resultado semelhante foi observado por Fontoura & Barth (2013), onde testaram aplicação de N, via solo e via folha, em diferentes doses e diferentes estádios de desenvolvimento. Neste caso, também não foi observada diferença significativa de produtividade.
Conclusão
A aplicação de nitrogênio líquido suplementar não teve efeito positivo sobre a produtividade e os componentes de rendimento da soja; A FBN supriu toda a demanda de N ao longo do desenvolvimento da cultura.
Referências
EMBRAPA. Manual de análises químicas de solos, plantas e fertilizantes. Brasília, 370p. 2004.
FERREIRA, D. F. Sisvar: a computer statistical analysis system. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v. 35, p. 1039- 1042, 2011.
FAQUIN, V. Nutrição mineral de plantas. 2005.
FOUNTOURA, S.M.V.; BARTH, G.; Adubação Nitrogenada e inoculação na soja. In: REUNIÃO
DE PESQUISA SOJA, 33., 2013.
HUNGRIA, M.; FRANCHINI, J.C.; CAMPO, R.J.; CRISPINO, C.C.; MORAES, J.Z.; SIBALDELLI, R.N.R.; MENDES, I.C.; ARIHARA, J.; Nitrogen nutrition of soybean in Brazil: contributions of biological N2 fixation and of N fertilizer to grain yield. Canadian Journal of Plant Science, v.86, p.927-939, 2006.
NOGUEIRA M. A., MENDES I. C., JUNIOR F. B. dos R., HUNGRIA M. Anais da XVII RELARE: Reunião da Rede de Laboratórios para Recomendação, Padronização e Difusão de Tecnologia de Inoculantes Microbianos de Interesse Agrícola, Londrina, PR, 6 a 7 de junho de 2016. – [recurso eletrônico] – Londrina: Embrapa Soja, 2016.
Informações sobre os autores:
1Doutorando do curso de Agronomia/Fitotecnia, Universidade Federal de Lavras (UFLA), Lavras/MG. E-mail: flavioaraujodemoraes@gmail.com
2Mestrando do curso de Agronomia/Fitotecnia, Universidade Federal de Lavras (UFLA), Lavras/MG. E-mail: junior.silva2@estudante.ufla.br
3 Mestrando do curso de Agronomia/Fitotecnia, Universidade Federal de Lavras (UFLA), Lavras/MG. E-mail: hugoderesende@outlook.com
4 Professor titular do Departamento de Agricultura, Universidade Federal de Lavras (UFLA), Lavras/MG. E-mail: silvino.moreiraufla@gmail.com
5 Doutoranda do curso de Agronomia/Fitotecnia, Universidade Federal de Lavras (UFLA), Lavras/MG. E-mail: juliarodriguesmacedo@gmail.com
6 Graduanda do curso de Agronomia, Universidade Federal de Lavras (UFLA), Lavras/MG. Email: thayna.chiarini@gmail.com
7 Graduando do curso de Agronomia, Universidade Federal de Lavras (UFLA), Lavras/MG. Email: fholiveira03@gmail.com