O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito de diferentes doses de óxido de cálcio e magnésio na produtividade em lavoura de soja e suas implicações químicas no perfil de solo.
Autores: Adriano Bressiani Machado¹; Felipe Batel²; Patricia Atanasio³
Introdução
A utilização de calcário para correção de solo é prática comum em lavouras brasileiras, uma vez que a maioria dos solos cultivados estão em solos ácidos (EMBRAPA, 2018), necessitando, portanto deste ajuste. Especialmente em lavouras de soja, o aumento de pH, resulta em aumento de produtividade (RAIJ et al., 1983). O efeito do calcário é satisfatório, porém por possuir baixa solubilidade, inicia sua resposta de correção com tempo mínimo de carência, em torno de 3 a 6 meses, com descida no perfil do solo bastante lenta, sendo dependente da adição de gesso, para efeito de melhora na condição de solo, mas sem efeito significativo no aumento de produtividade na cultura da soja (CAIRES et al., 2003).
Os óxidos de cálcio têm sua solubilidade imediata com mobilidade mais eficiente no solo, podendo trazer resposta de produtividade, além do aumento de pH (VELOSO et al., 1992). Resposta com aumento de pH e V% são bastante evidentes em trabalhos com silicato de cálcio (SILVA et al., 2014), mas ainda um tanto incipiente em se tratando de óxidos. Diante disso, o objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito de diferentes doses de óxido de cálcio e magnésio na produtividade em lavoura de soja e suas implicações químicas no perfil de solo.
Material e Métodos
Este experimento foi conduzido em área experimental na cidade de Dois Vizinhos/PR, coordenadas 25°46’15″S 53°02’52″S, de altitude 550 m, Latossolo Vermelho Distrófico de textura argilosa, mantida com cultura de trigo no inverno e milho na safra anterior. As análises de solo foram estratificadas em 0 a 10, 10 a 20 e 20 a 40 cm. O delineamento utilizado foi o de blocos ao acaso com parcelas de 20 m², com área útil utilizada de 12 m².
A cultivar utilizada foi TMG7262 RR, semeada em 27/11/16. A adubação de cobertura, comum em todos os tratamentos, foi de 350 kg.ha-1 da fórmula 02-28-20 (N-P2O5-K2O).
A análise de solo inicial apresentou as seguintes características:5,5 pH em CaCl2 0,01 mol L-1; 0 cmolc dm-3 de Al3+; 6,6 cmolc dm-3 de Ca2+; 3,71 cmolc dm-3 de Mg2+; 0,75 cmolc dm-3 de K+ e 69 % de saturação por bases e teores de argila, silte e areia, respectivamente, de 637, 175 e 187 g kg-1. As aplicações dos tratamentos ocorreram no dia 25/11/16, sendo efetuado a lanço, manualmente.
Os tratamentos utilizados foram testemunha, calcário dolomítico 2000 kg ha-1, óxido de cálcio e magnésio nas doses 800kg.ha-1 (Oxidos 1) e 1000kg.ha-1 (Oxidos 1) produto comercial óxido de cálcio e magnésio Fertimacro® foi disponibilizado pela empresa Caltec. Todos os tratamentos foram deixados em superfície sem nenhuma incorporação, apenas sob manejo do plantio. A condição climática durante o ciclo da cultura foi satisfatória, tendo distribuição hídrica de 761 mm, período do plantio à colheita. Na maturação fisiológica, a soja foi colhida e trilhada, sendo a umidade corrigida para 13%.
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Houve avaliações morfológicas nos 15 e 30 dias após emergência (DAE), sendo elas: altura de plantas, comprimento de raízes e stand de plantas. Em componentes de produtividade houve as seguintes avaliações: produtividade (kg/ha), peso de mil sementes (PMS), número de grãos por vagem e número de vagens por planta. Todas as variáveis foram analisadas pelo programa estatístico Assistat 7.7 e as médias comparadas pelo teste Tukey a 5%.
Resultados e Discussão
Nas avaliações de comprimento de raízes, não foi encontrada diferença significativa entre os tratamentos, embora tenha ocorrido aumento no comprimento de raízes no tratamento óxido de cálcio e magnésio 1000kg.ha-1 (Óxidos 2). Esta diferença é evidenciada apenas nos primeiros 15 dias após emergência. Tal resultado sugere que diferenças morfológicas visuais não são características da utilização do óxido em substituição ao calcário dolomítico. Para os componentes de produtividade foram encontradas diferenças estatísticas entre os tratamentos, sendo que o tratamento Óxidos 2 obteve aumento na produtividade em 10%, observados tanto no item rendimento quanto peso de mil sementes, conforme tabela 1.
Tabela 1. Rendimento de grãos, peso de mil sementes (PMS), número de grãos por vagem e número de vagens por planta, cultivar TMG-7262 RR, com diferentes programas de aplicações dos com diferentes doses e produtos – safra 2016/2017.
As análises de solo posteriores a colheita, demonstram grande diferença de fertilidade sob o tratamento Óxidos 2. Em diversos elementos houve aumento nos teores na faixa 0 – 10 cm, porém os resultados mais expressivos são encontrados na faixa de 10 – 20 cm deste mesmo tratamento (Figura 1).
Figura 1. Efeito dos diferentes tratamentos no pH, V%, Magnésio e Cálcio, em profundidade do solo.
O resultado no aumento de produtividade é explicado devido a melhora na condição química do solo, especialmente na camada subsuperficial, onde as raízes de soja estão mais concentradas. O tratamento Óxidos 2 conseguiu elevar o pH acima de 5 pontos, até mesmo na camada 20 a 40 cm e tendo saturação aumentada para 45% nesta faixa de solo. Tais resultados demonstram que a utilização do óxido contribui no aumento de produtividade da soja devido ao melhor deslocamento no perfil de solo, contudo que neste estudo, o período de avaliação do solo foi de aproximadamente 6 meses, um período curto quando comparado a utilização de calcários comuns.
Especial atenção deve ser dada a dosagem utilizada, pois contou com apenas a metade da dose de calcário, demonstrando assim a eficiência deste produto. Estes resultados corroboram com os encontrados por Caires et al. (2003) na utilização de calcário dolomítico em superfície sem obtenção de aumento na produtividade. Veloso et al. (1992) também verificaram que produtos à base de óxido são mais eficientes no aumento do pH, bem como na melhora química do solo.
Conclusões
Óxido de cálcio e magnésio contribui no aumento de produtividade em lavoura de soja. Correção de solo e melhora na fertilidade são mais evidenciados com a utilização de produtos à base de Óxido de cálcio e magnésio, especialmente na camada de 10 a 20 cm.
Referências
Raij, B. van & Quaggio, J.A. Métodos de análise de solo para fins de fertilidade. Campinas, Instituto Agronômico, 1983. 31p. (Boletim 81).
Caires, E.F.; Blum, J.; Barth, G.; Garbuio, F.J. & Kusman, M.T. Alterações químicas do solo e
resposta da soja ao calcário e gesso aplicados na implantação do sistema plantio direto. R. Bras. Ci. Solo, 27:275–286, 2003
EMBRAPA, Agência Embrapa de Informação Tecnológica, disponível em http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cana deacucar/arvore/CONTAG01_34_711200516717.html, acessado em 09/01/2017.
Silva, W. B.; Barcelos, F. P.; Sinocki, D.; Silva, G. M. C.; Uso do silicato de cálcio na correção da acidez do solo e no desenvolvimento da brachiaria ruziziensis l. Persp. online: exatas. & eng, Campos dos Goytacazes, 10 (4), 01-11, 2014
Veloso C.A.C. ; Borges A.L.; Muniz A.S.; I.A. de J.M. Veigas. Efeito de diferentes materiais no pH do solo. Sci. agric. (Piracicaba, Braz.) vol.49 Piracicaba, 1992
Informações dos autores
¹MSc. Eng. Agronomo, CEP-AGRO – Centro de Desenvolvimento de Pesquisas Agropecuárias Rua Campos Salles, 883 – Centro. Renascença – PR – 85610-000, (cedepagro@gmail.com);
²Eng. Agronomo, etc); , CEP-AGRO – Centro de Desenvolvimento de Pesquisas Agropecuárias;
³MSc. Eng. Agrônoma, Pesquisadora, Caltec Quimica Industrial
