O cultivo do trigo (Triticum aestivum) é de extrema importância, uma vez que o trigo é um dos cereais mais consumidos em todo o mundo. Entretanto, esse cultivo enfrenta desafios, especialmente quando se trata do manejo de doenças que acometem a cultura. Uma das doenças que causa grandes efeitos é a Giberela zeae, também conhecida como giberela do trigo.

A Giberela zeae, de acordo com Casa et al. (2004), é uma doença de infecção floral e ocorre frequentemente em regiões onde há períodos prolongados de chuva (superiores a 48 horas) e temperaturas médias elevadas (acima de 20°C) após o início da floração do trigo. Essas condições ambientais mantidas ao desenvolvimento do patógeno podem levar a surtos severos da doença e resultar em danos prolongados às plantações.

Santana et al. (2023) destacam que a giberela é a principal doença de espiga do trigo, devido ao seu elevado potencial de perdas e de danos significativos a produção. Durante o desenvolvimento da espiga, uma infecção pode resultar na formação de grãos chochos, esbranquiçados e/ou malformados, causando perdas quantitativas na produção. Além dos danos diretos e visíveis, a presença do patógeno também leva à produção de micotoxinas, o que pode comprometer significativamente a qualidade dos grãos afetados, representando danos indiretos.

De acordo com Del Ponte et al. (2004), a giberela é uma doença monocíclica e o fungo sobrevive entre as estações de cultivo em resíduos vegetais. Nos resíduos, o fungo produz esporos assexuais, conhecidos como macronídeos, que são liberados e dispersos pelo vento e pela chuva. Em condições de molhamento, formam-se os peritécios, liberando os ascoporos, que são os esporos sexuais do fungo. Tanto os macronídeos quanto os ascoporos têm a capacidade de infectar os tecidos das espigas, ocorrendo desde o período de extrusão das anteras (considerado o sítio primário da infecção) até estádios de grão em massa. Após a ocorrência da infecção, o fungo se propaga através do ráquis da espiga, e os sintomas se tornam visíveis após alguns dias, caracterizados pela senescência prematura das espiguetas infectadas, podendo se expandir por toda a espiga. Sob condições de umidade contínua e prolongada, é possível observar uma massa rosada de esporos.

Figura 1. Sintomas de Giberela em trigo.

Foto: Douglas Lau (2013).

Com o objetivo de oferecer suporte na seleção dos fungicidas mais eficazes no controle da doença, a Rede de Ensaios Cooperativos, em parceria com diversas instituições de pesquisa e empresas produtoras de fungicidas, conduziram avaliações de eficácia dos produtos no controle da giberela no trigo. Esses ensaios foram realizados sob condições de infecção natural em importantes regiões produtoras de trigo durante a safra de 2021. A iniciativa visa fornecer informações fundamentais para uma abordagem embasada e efetiva no manejo da giberela, contribuindo para aprimorar a produção e a proteção das lavouras de trigo.

Tabela 1. Comparações de médias para incidência (I), severidade (S), índice de doença, peso do hectolitro (PH) e rendimento de grãos de trigo, obtidas na análise conjunta de oito experimentos para controle de giberela, com aplicação de fungicidas.

Fonte: Santana et al. (2023).

Nos ensaios, foi observada grande variação na incidência e na severidade, em geral, todos os fungicidas analisados reduziram a incidência, severidade e índice de doença. Sendo que a testemunha que não recebeu tratamento de fungicida, apresentou incidência de 65,2%, severidade de 25,2% e índice de incidência de 16,8%. Além disso, a ação dos fungicidas resultou em valores mais altos de peso do hectolitro e de rendimento de grãos em relação a plantas sem tratamento.



Durante os testes, quatro fungicidas se destacaram significativamente, demonstrando uma redução de quase 50% na incidência da doença. Esses tratamentos foram o 13 (Tebuconazol + carbendazim), 15 (Trifoxistrobina + protioconazol + bixafen + carbendazim), 14 (Metconazol + carbendazim) e o tratamento 7 (Metominostrobina + tebuconazol + tiofanato metílico(4)).

Os tratamentos que se destacaram com os maiores rendimentos de grãos foram o tratamento 15 (Trifoxistrobina + protioconazol + bixafen + carbendazim), o tratamento 14 (Metconazol + carbendazim), o tratamento 6 (Trifoxistrobina + protioconazol + bixafen) e o tratamento 17 (Mancozebe + protioconazol), com rendimentos respectivamente de 4.995,5 Kg ha-1, 4.839,3 Kg ha-1, 4.758,4 Kg ha-1 e 4.734,9 Kg ha-1. Considerando a média geral dos ensaios, foi observado que o efeito dos fungicidas mantiveram o rendimento de grãos  acima do tratamento sem fungicida, cujo rendimento de grãos foi de 4000,6 Kg ha-1. Uma informação importante destacada sobre o ensaio é que o ingrediente ativo Carbendazim, utilizado como tratamento passou a ser proibido em produtos agrotóxicos no país, não podendo mais ser utilizado no Brasil por determinação da Anvisa, desde agosto de 2022.

O controle químico com uso de fungicidas é uma opção altamente eficiente, com vários produtos comerciais registrados para a cultura do trigo, incluindo formulações associadas. Contudo, conforme informações da Embrapa (2023), a aplicação de fungicida deve ser realizada somente durante o período de predisposição à infecção, que se estende do início da floração (presença de anteras soltas e presas) até estádio de grão leitoso (presença de anteras presas), ambiente favorável a infecção. Sendo assim, é recomendado realizar a aplicação antes da ocorrência de chuvas previstas no período de predisposição, garantindo que as espigas estejam protegidas quando as chuvas ocorrerem. Além do controle químico, outras ferramentas importantes no manejo da doença incluem a rotação de culturas e o uso de cultivares resistentes, a fim de garantir a máxima eficácia das medidas de controle.

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Veja mais: Uso de Redutor de Crescimento no Trigo



Referências:

CASA, R.T., REIS, E.M., BLUM, M.M.C., BOGO, A., SCHEER, O.; ZANATA, T. DANOS CAUSADOS PELA INFECÇÃO DE Gibberella zeae EM TRIGO. Fitopatologia Brasileira, p. 289-293, 2004. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/fb/a/fvdDxkvwxYj98G8X9dvZWPv/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 19/07/2023.

DEL PONTE, E.M., FERNANDES, J.M.C., PIEROBOM, C.R.; BERGSTROM, G.C. GIBERELA DO TRIGO – ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS E MODELOS DE PREVISÃO. Fitopatologia Brasileira, p. 587-605, 2004. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/fb/a/WHmhpn6NbZJDn49RvBqjQ7D/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 19/07/2023.

EMBRAPA. INFORMAÇÕES TÉCNICAS PARA TRIGO E TRITICALE SAFRA 2023. Brasília – DF, 2023. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1153536/1/InformacoesTecnicasTrigoTriticale-Safra2023.pdf >, acesso em: 19/07/2023.

SANTANA, F. M. et al. EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS PARA O CONTROLE DE GIBERELA DO TRIGO. Resultados dos Ensaios Cooperativos, Safra 2021. Circular técnica 79, Embrapa, Passo Fundo – RS,2023. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1154617/1/CirTec-79.pdf >, acesso em: 19/07/2023.

Redação: Vívian Oliveira Costa, Eng. Agrônoma pela Universidade Federal de Santa Maria.

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