Foto de capa Fonte: SARAN, A.P., 2011.
A soja (Glycine max) é uma das culturas mais importantes cultivadas no Brasil e no mundo, um do fatores que limitam a produtividade da cultura é a ocorrência de pragas, plantas invasoras e doenças durante o ciclo de desenvolvimento da cultura. Grigolli & Grigolli (2019), afirmam que existem aproximadamente 40 doenças causadas por fungos, bactérias, nematoides e vírus já identificadas no Brasil que acometem a cultura da soja, essas doenças representam um desafio para a obtenção de níveis elevados de produtividade. Dentre essas doenças, algumas se destacam como doenças de final de ciclo,
Conforme Seixas et al. (2020), durante a fase de enchimento de grãos, podem surgir duas doenças causadas por fungos, características por sintomas muito semelhantes, dificultando sua distinção, devido a essa semelhança sintomática, essas doenças são consideradas como complexo de doenças de final de ciclo.
De acordo com Godoy et al. (2023), a mancha-parda (Septoria glycines) e o crestamento foliar de Cercospora (Cercospora spp.) são conhecidas no Brasil como complexo de doenças de final de ciclo (DFC) na cultura da soja. As DFC são favorecidas por condições chuvosas ou de alta umidade e temperaturas altas (23 °C a 27 °C para C. kikuchii e 15 °C a 30 °C para S. glycines). Esses fungos sobrevivem em restos de cultura (Seixas et al. 2020).
Henning et al. (2014), afirmam que os primeiros sintomas de mancha parda aparecem como pequenas pontuações ou manchas com contornos angulares de coloração castanho-avermelhada nas folhas unifolioladas. Quando as condições são favoráveis para o desenvolvimento da doença, podem atingir os primeiros trifólios e causar severa desfolha na soja, pode provocar também a maturação precoce.
Figura 1. Sintomas de mancha-parda causada por Septoria glycines.
Sobre o crestamento foliar, Henning et al. (2014) destacam, que fungo ataca todas as partes da planta, nas folhas os sintomas característicos são pontuações escuras de coloração castanho-avermelhada, com bordas difusas, as quais se unem e formam grandes manchas escuras, resultando em severo crestamento e desfolha prematura da soja. Além disso, através da vagem o fungo atinge a semente causando a mancha púrpura no tegumento.
Figura 2. Sintomas de crestamento foliar causada por Cercospora.
De acordo com Godoy et al. (2023), ambas as doenças podem ocorrer de forma isolada ou simultânea, o principal dano ocasionado pela ocorrência das doenças é a desfolha antecipada, a qual é menos severa que a causada pela ferrugem-asiática. Quando a ferrugem se manifesta, a competição pelo tecido foliar geralmente inibe o desenvolvimento das DFC, uma vez que a ferrugem leva à desfolha prematura da planta antes mesmo da incidência dessas doenças.
Uma contribuição importante foi elaborada por Martins et al. (2004), os quais desenvolveram uma escala diagramática para quantificar a severidade dessas doenças, estruturada em cinco níveis de severidade distintos, essa escala é uma ferramenta importante para avaliar a severidade das doenças foliares de final de ciclo na cultura da soja.
Figura 1. Escala diagramática das doenças de final de ciclo da soja (Glycine max) causadas por Septoria glycines e Cercospora kikuchii. Painel superior: Sintomas agregados. Painel inferior: Sintomas aleatoriamente distribuídos.
Diante da importância de controlar essas doenças para garantir que a cultura termine seu ciclo sem a interferência de doenças que podem comprometer seu rendimento, conhecer os principais fungicidas utilizados para o manejo dessas doenças é fundamental. Os Ensaios Cooperativos de Eficiência de Fungicidas para o Controle das Doenças de Final de Ciclo da Soja, na safra 2022/2023, apresentam os resultados obtidos nos experimentos onde foi avaliado a eficiência dos principais fungicidas que temos disponíveis no mercado, trazendo informações importantes sobre o manejo das doenças de final de ciclo da soja.
De acordo com Godoy et al. (2023), foram instalados 15 experimentos em 14 instituições de pesquisa no país, foi estabelecido que a primeira aplicação ocorresse aos 45 dias após a semeadura e repetidas a cada 14-18 dias, sendo a última aplicação fixada em R5.3 – R5.4 (Fehr; Caviness, 1977), para maior residual dos produtos até o final do ciclo.
A semeadura dos experimentos foi realizada no início da época recomendada, com intuito de reduzir a probabilidade de incidência de ferrugem-asiática, foram realizadas avaliações de severidade das doenças de final de ciclo utilizando a escala diagramática de Martins et al. (2004).
Tabela 1. Ingrediente ativo (i.a.), produto comercial (p.c.) e dose dos fungicidas nos tratamentos para controle das doenças de final de ciclo. Safra 2022/2023.
Para a análise conjunta dos resultados obtidos, foram consideradas todas as avaliações como DFC, sem distinção entre as doenças Septoria glycines e Cercospora spp. Conforme destacam Godoy et al. (2023), todos os tratamentos apresentaram severidade inferior à testemunha que não recebeu tratamento com fungicida. As menores severidades e maiores porcentagens de controle foram observadas para os tratamentos 8 com mancozebe + picoxistrobina + proticonazol, tratamento 7 com mancozebe + azoxistrobina + proticonazol e para o tratamento 9 que utilizou o programa com rotação de fungicidas, todos apresentaram controle maior ou igual a 71% em relação à testemunha. Os autores destacam que o fungicida Previnil (T2 – clorotalonil) apresentou controle superior a 61% em relação ao observado nas safras 2019/2020 (54%) e 2020/2021 (27%).
Para variável produtividade, todos os tratamentos apresentaram produtividade superior a testemunha. Destacam-se com as maiores produtividades observadas os tratamentos 8 com mancozebe + picoxistrobina + tebuconazol com 4.641 Kg ha-1, o tratamento 9 no programa de rotação de fungicidas com 4.616 Kg ha-1, tratamento 6 mancozebe + azoxistrobina + tebuconazol (Tridium) com 4.567 Kg ha-1, tratamento 7 com mancozebe + azoxistrobina + proticonazol (Evolution) com 4.560 Kg ha-1, e tratamento 5 com mancozebe + difenoconazol com 4.460 Kg ha-1. A redução de produtividade da testemunha sem fungicida em relação ao tratamento 8 mancozebe + picoxistrobina + tebuconazol foi de 17,2%.
Além do uso de fungicidas para o controle das doenças de final de ciclo da cultura da soja, Henning et al (2014), destacam que em razão da sobrevivência dos fungos nos restos de culturas, é importante introduzir a rotação de culturas para se obter um manejo mais eficiente. No manejo da mancha-parda, destacam a importância de melhorar as condições físico-química do solo, e realizar a adubação potássica corretamente. Além disso, para o controle do crestamento foliar afirmam que é essencial utilizar sementes livre do patógeno, tratamento de sementes, além do controle químico.
Godoy et al. (2023), enfatizam que mesmo que as DFC sejam de comum ocorrência na soja nas semeaduras iniciais, onde há menor incidência da ferrugem-asiática, é importante observar o histórico da área cultivada e a incidência de doenças, conhecer a reação das cultivares, manter uma boa cobertura do solo com palha para reduzir o impacto da gota da chuva e a dispersão de inoculo para as folhas primarias, a adoção dessas práticas é importante para garantir o bom crescimento e desenvolvimento da soja, e consequentemente alcançar os níveis produtividades.
Confira o trabalho completo sobre Eficiência de fungicidas para o controle das doenças de final de ciclo da soja, na safra 2022/2023 clicando aqui!
Veja mais: Ferrugem-asiática da soja
Referências:
GODOY, C. V. et al. EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS PARA O CONTROLE DAS DOENÇAS DE FINAL DE CICLO DA SOJA, NA SAFRA 2022/2023: RESULTADOS SUMARIZADOS DOS ENSAIOS COOPERATIVOS. Circular Técnica, 193. Embrapa, Londrina – PR, 2023. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1154333/1/Cir-Tec-193.pdf >, acesso em: 15/08/2023.
GRIGOLLI, J. F. J.; GRIGOLLI, M. M. K. MANEJO DE DOENÇAS NA CULTURA DA SOJA. Tecnologia e Produção: Safra 2018/2019, cap. 6. Fundação MS, Maracaju – MS, 2019. Disponível em: < https://www.fundacaoms.org.br/wp-content/uploads/2021/02/Tecnologia-e-Producao-Soja-Safra-20182019.pdf >, acesso em: 15/08/2023.
HENNING, A. A. et al. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE DOENÇAS DE SOJA. Documentos 256, ed. 5. Embrapa Soja, Londrina -PR, 2014. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/105942/1/Doc256-OL.pdf >, acesso em: 15/08/2023.
MARTINS, M. C. et al. ESCALA DIAGRAMÁTICA PARA A QUANTIFICAÇÃO DO COMPLEXO DE DOENÇAS FOLIARES DE FINAL DE CICLO EM SOJA. Fitopatologia Brasileira 29:179-184. 2004. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/fb/a/3p7phY7rWkKJRcFPkcMwmTq/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 15/08/2023.
SEIXAS, C. D. S. et al. MANEJO DE DOENÇAS. Tecnologias de Produção de Soja, Sistemas de Produção 17, cap. 10. Embrapa Soja, Londrina – PR, 2020. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/223209/1/SP-17-2020-online-1.pdf >, acesso em: 15/08/2023.
Foto Capa: SARAN, A.P., 2011.
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Redação: Vívian Oliveira Costa, Eng. Agrônoma pela Universidade Federal de Santa Maria.