O milho é uma das principais culturas inseridas no sistema de produção de grãos, desempenhando função econômica e papel fundamental na sustentabilidade do sistema plantio direto em rotação de culturas. Entretanto, para produção de uma tonelada de grãos, são necessários em média 23,4 kg de Nitrogênio (Martins, 2019).
Tendo em vista que o milho é uma cultura responsiva a adubação nitrogenada, e que o Nitrogênio é o nutriente mais requerido pela cultura, o adequado aporte do nutriente é essencial para a obtenção de altas produtividades de milho. Contudo, como grande parte do nitrogênio precisa ser fornecido via fertilizantes, a adubação nitrogenada pode representar uma significativa participação nos custos de produção.
Visando aumentar a rentabilidade da cultura, é preciso aumentar a produtividade ou reduzir os custos de produção sem prejudicar a produtividade final, e como o milho necessita de nitrogênio para altas produtividades, uma das alternativas para redução dos custos de produção é o cultivo de plantas de cobertura que contribuam para o aumento da produtividade do milho, sendo a ervilhaca (Vicia sativa) uma das principais espécies.
Conforme observado por Giacomini et al. (2003), em comparação a outras plantas de cobertura, a ervilhaca é uma das espécies com maior potencial em acumular Nitrogênio em sua parte aérea (figura 1). Esse nitrogênio por sua vez, será disponibilizado para a cultura sucessora, após a decomposição dos resíduos vegetais da ervilhaca e mineralização do N.
Figura 1. Acúmulo de nitrogênio na matéria seca da parte aérea de plantas de cobertura, em cultivo isolado e consorciado, em 1998.

Fonte: Adaptado Giacomini et al. (2003)
Avaliando a produtividade de milho cultivado após diferentes plantas de cobertura, Zanata et al. (2015) observaram que o maior rendimento do milho foi obtido após o cultivo da ervilhaca, destacando a importante contribuição dessa espécie para o aumento da produtividade do milho em sucessão. Conforme resultados obtidos pelos autores, o milho cultivado após a ervilhaca produziu 7.217 kg.ha-1, enquanto o milho cultivado após culturas como azevém e cevada apresentou produtividade média de aproximadamente 4140 kg.ha-1, ou seja, em comparação ao milho cultivado em sucessão a essas culturas, a ervilhaca proporcionou ganho de produtividade de mais de 3 t.ha-1.
Figura 2. Produtividade de grãos de milho cultivado sob diferentes plantas de cobertura de solo, Curitibanos-SC, 2015.

Esse ganho de produtividade se deve principalmente ao nitrogênio disponibilizado pela ervilhaca ao sistema de produção. Isso é possível em virtude da capacidade das leguminosas em fixar nitrogênio atmosférico, em função de um processo simbiótico entre plantas e bactérias fixadoras de nitrogênio. Esse Nitrogênio por sua vez compõe a matéria das plantas e será disponibilizado ao sistema de produção após decomposição dos resíduos e mineralização do Nitrogênio para formas assimiláveis pelas plantas.
Dessa forma, a ervilhaca exerce o papel de “adubo verde” no sistema de produção, contribuindo para o aumento da produtividade de culturas responsivas ao N como o milho. Esse fato também pode ser observado com o cultivo de outras espécies de leguminosas como plantas de cobertura antecedendo a cultura do milho, a exemplo do crotalária, conforme observado por Albuquerque et al. (2013).
Entretanto, se tratando do sistema plantio direto onde é essencial que se tenha cobertura do solo, trabalhar apenas com leguminosas (Fabaceas) como plantas de cobertura pode implicar em baixa duração da cobertura do solo em virtude da rápida decomposição dos resíduos culturais. Isso se deve pela baixa relação C/N presente nas leguminosas, por isso, é preciso avaliar o objetivo do cultivo, sendo uma alternativa interessante, consorciar leguminosas (Fabaceas) com espécies de gramíneas (Poaceas) que apresentam maior relação C/N.
Contudo, de maneira geral é possível afirmar que a ervilhaca é uma planta de cobertura com potencial uso na agricultura, e que pode contribuir de forma significativa para o aumento da produtividade do milho cultivado em sucessão.
Veja também: Relação C/N, entenda o que é, e como pode influenciar no sistema plantio direto
Referências:
ALBUQUERQUE, A. W. et al. PLANTAS DE COBERTURA E ADUBAÇÃO NITROGENADA NA PRODUÇÃO DE MILHO EM SISTEMA DE PLANTIO DIRETO. R. Bras. Eng. Agríc. Ambiental, v.17, n.7, p.721–726, 2013. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/rbeaa/a/jLVVbjmZSrmywzC6W5gv9kv/?lang=pt >, acesso em: 08/07/2021.
GIACOMINI. S. J. MATÉRIA SECA, RELAÇÃO C/N E ACÚMULO DE NITROGÊNIO, FÓSFORO E POTÁSSIO EM MISTURAS DE PLANTAS DE COBERTURA DE SOLO. R. Bras. Ci. Solo, 27:325-334, 2003. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/rbcs/a/3FdpLJMjpH9HR7J5gzwWCmt/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 08/07/2021.
MARTINS, G. TABELA DE EXTRAÇÃO E EXPORTAÇÃO DOS NUTRIENTES NA CULTURA DO MILHO. Nutrição de Safras, 2019. Disponível em: < https://www.nutricaodesafras.com.br/tabela-de-extracao-e-exportacao-dos-nutrientes-na-cultura-do-milho/ >, acesso em: 08/07/2021.
ZANATA, L. F. et al. RENDIMENTO DE MILHO CULTIVADO SOB DIFERENTES PLANTAS DE COBERTURA NO PLANALTO CATARINENSE. XXXV. Congresso Brasileiro de Ciência do Solo, 2015. Disponível em: < https://www.eventossolos.org.br/cbcs2015/arearestrita/arquivos/1374.pdf >, acesso em: 08/07/2021.