Uma das grandes preocupações da agricultura é aumentar a produtividade dos cultivos sem que sejam necessárias maiores degradações ou uso excessivo de recursos naturais. No cultivo da soja não é diferentes, a busca pro altas produtividades é cada vez mais constante na sojicultora brasileira. Entretanto, para isso é necessário utilizar de tecnologias que permitam condições adequadas de crescimento e desenvolvimento das plantas, possibilitando com que expressem seu potencial produtivo.

Dentre as práticas de manejo recomendadas, o ajuste no arranjo espacial de plantas pode conferir ganhos de produtividade, com baixo impacto nos custos de produção e no meio ambiente, já que não pressupõe o uso de mais insumos, à exceção de sementes (Garcia et al., 2017). Garcia et al. (2017) destacam que o arranjo espacial é dependente principalmente do espaçamento entre fileiras e da densidades de plantas. Segundo os autores, com relação ao espaçamento entre fileiras, a preferência da maior parte dos sojicultores é pelo espaçamento variando entre 0,45 e 0,50m, entretanto, espaçamentos reduzidos variando de 0,20 a 0,30m, assim como a semeadura cruzada ou em fileiras duplas também podem ser utilizadas para a semeadura da soja.



Mas qual espaçamento utilizar?

Ao longo dos anos, vários trabalhos vem sendo conduzidos visando avaliar o melhor espaçamento para a semeadura da soja, entretanto, o que se percebe é que ambos os espaçamentos apresentam vantagens e desvantagens da sua utilização.

Avaliando o cultivo da soja em diferentes espaçamentos entre linhas (0,20, 0,40 e 0,60m), Solano & Yamashita (2011) observaram que para as cultivares CD 219 RR e CD 242 RR, o espaçamento de 0,60 m proporcionou menores produtividades, enquanto que os espaçamentos de 0,20m e 0,40m não diferiram significativamente. Os autores atribuem a baixa produtividade do espaçamento elevado a baixa densidade de plantas, já que essa foi inalterada, entretanto, esse espaçamento contribuiu para o aumento do diâmetro do caule das plantas e altura de plantas.

Já em um outro trabalho, avaliando diferentes distribuições de plantas, submetidas a diferentes épocas de semeadura em Rio Verde, Goiás, nas safras 20145/15 e 2015/16, Carmo et al. (2018) observaram que com exceção da cultivar cultivares BMX Potência RR® semeada 17 de novembro, ambas as cultivares avaliadas no estudo apresentaram produtividades maiores no espaçamento reduzido/adensado (0,25m) do que quando cultivadas em espaçamento convencional (0,50m).

Tabela 1. Produtividade de grãos da soja cultivares BMX Potência® e BMX Desafio® cultivadas em diferentes épocas e distribuição de plantas.

Fonte: Carmo et al. (2018).

Embora Carmo et al. (2018) tenham observado aumento da produtividade de soja com a utilização do espaçamento reduzido, Balbinot Junior et al. (2014), assim como Garcia et al. (2017) observaram que para a cultivar BMX Potência® o espaçamento entre linhas de 0,30m proporcionou menores produtividades de soja quando comparado ao espaçamento de 0,45m.

Figura 1. Produtividade de grãos de soja, cultivar BMX Potência RR, em dois espaçamentos entre fileiras e três densidades de plantas com semeadura em 04/11. Campo Mourão, PR, safra 2011/12.

Letras comparam os dois espaçamentos dentro da mesma densidade de plantas (Tukey 5%).
Fonte: Balbinot Junior et al. (2014).

Tabela 2. Produtividade de grãos de soja, cultivar BMX Potência RR, em dois espaçamentos entre fileiras, três densidades de plantas e duas épocas de semeadura. Campo Mourão, PR, safra 2011/2012.

Fonte: Garcia et al. (2017).

Entretanto, para outras cultivares, assim como para outras épocas de semeadura (safrinha) e densidades populacionais, Balbinot Junior et al. (2014) observaram comportamentos diferentes frente ao espaçamento entre linhas, sendo que algumas cultivares quando cultivadas em safrinha em sistema adensado obtiveram maiores produtividade quando comparada a mesma densidade populacional em espaçamento convencional.

Isso demonstra que embora seja conhecida e a habilidade da planta de soja em compensar falhas de semeadura/emergência a densidade populacional interfere tanto quando o espaçamento na produtividade da soja e os resultados encontrados por Cruz et al. (2016) demonstram a relação direta da densidade de plantas com a produtividade da soja.

Figura 2. Produtividade de grãos de soja cultivar ANTA 82 em função da densidade de semeadura, Jataí, 2014.

Fonte: Cruz et a. (2016).

Cabe destacar que a resposta da produtividade da soja em relação ao espaçamento entre linhas e densidade populacional de plantas está condicionada a características da cultivar, sendo que ambos os espaçamentos apresentam vantagens e desvantagens.

Conforme observado por Garcia et al. (2017), diferentes espaçamentos entre linhas assim como diferentes densidades populacionais podem interferir em outras características culturais como o tempo de fechamento das entre linhas. Fato que é desejado em algumas situações, principalmente se tratando do manejo integrado de plantas daninhas, mas nem tanto em outras como no manejo fitossanitário em condições de alta incidência de doenças, umidade e temperatura elevadas.


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Figura 3. Tempo para fechamento do dossel (dias após a emergência) em dois espaçamentos entre fileiras e duas densidades de semeadura, em Londrina, PR, safra 2014/2015.

Letras comparam os dois espaçamentos dentro da mesma densidade de plantas (Tukey, 5%).
Fonte: Garcia et al. (2017).

A partir dos resultados encontrados pelos autores anteriormente citado, é possível observar que tanto o espaçamento convencional quando o espaçamento reduzido apresentam desempenho satisfatórios. Entretanto, o fato está intimamente ligado à cultivar, data de semeadura e densidade populacional.

O espaçamento reduzido proporciona um rápido fechamento das entre linhas da soja, entretanto, em alguns casos pode proporcionar condições favoráveis ao desenvolvimento de doenças. Com base nos aspectos observados, o espaçamento convencional continua sendo uma ótima opção, apresentando boas respostas à produtividade da soja, entretanto, é necessário considerar também a densidade populacional de plantas.

Tendo em vista a variação decorrente do material genético e densidade populacional, é interessante utilizar as recomendações de semeadura da empresa detentora da tecnologia (sementes), visto que vários estudos são realizados buscando a assertividade do arranjo espacial adequado para cada cultivar visando sua melhor performance.



Referências:

BALBINOT JUNIOR, A. A. et al. REDUÇÃO DO ESPAÇAMENTO ENTRE LINHAS NA CULTURA DA SOJA. Embrapa, Circular Técnica, n. 106, out., 2014.

CARMO, E. L. et al. DESEMPENHO AGRONÔMICO DA SOJA CULTIVADA EM DIFERENTES ÉPOCAS E DISTRIBUIÇÃO DE PLANTAS. Rev. Ciênc. Agrovet. Lages, 2018.

CRUZ, S. C. S. et al. CULTIVO DE SOJA SOJ DIFERENTES DENSIDADES DE SEMEADURA E ARRANJOS ESPACIAIS. Revista de Agricultura Neotropical, Cassilândia-MS, v. 3, n. 1, p. 1–6, 2016.

GARCIA, R. A. et al. PRODUÇÃO DE SOJA EM DIFERENTES ARRANJOS ESPACIAIS DE PLANTAS NO PARANÁ E EM MATO GROSSO DO SUL. Embrapa, Documento, n. 140, dez. 2017.

SOLANO, L.; YAMASHITA, O. M. CULTIVO DE SOJA EM DIFERENTES ESPAÇAMENTOS ENTRE LINHAS. VARIA SCIENTIA AGRÁRIAS, v.02, p.35-47, jul, 2011.

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