Autores: Erlei Melo Reis, Andrea Camargo Reis e Mateus Zanatta

A senescência natural e a baixa intensidade luminosa na parte inferior do dossel da soja resulta no amarelecimento e queda dos pecíolos basais (Fig. 1). Embora comum, esse quadro sintomatológico ocorrente em lavouras de soja, não tem sido alvo de estudos e de divulgação.

Figura 1. Pecíolos sadios de coloração verde e amarelecidos por senescência natural ou baixa intensidade
luminosa.

No entanto, em monocultura da soja, plantio direto e clima com chuvas frequentes, os pecíolos ainda verdes apresentam lesões que se expandem determinando sua morte e queda. Essa é a primeira causa da desfolha em lavouras de soja antes da queda de pecíolos devido a ferrugem.

Além desses sintomas, no mesmo quadro sintomatológico, observa-se, também, a morte de ramos basais novos (Fig. 2).

Figura 2. Morte apical de ramos basais com frutificações de Colletotrichum truncata.

A diagnose direta da doença em foco é feita com base na presença de frutificações sobre as lesões dos pecíolos.

I – Acérvulos do gênero Colletotrichum

Em tecidos senescentes observam-se frutificações do tipo acérvulos do gênero Colletotrichum cuja principal espécie é C. truncata Andrus & Moore agente causal da antracnose de soja. Os acérvulos estão dispostos irregularmente (Fig. 3) sem formação linear, apresentando ornamentação do gênero com um conjunto de setas, micélio septado, escuro e pontiagudo e no seu interior a frutificação abundante.

Figura 3. Acérvulos de Colletotrichum truncata distribuídos ao acaso e sem ordem sobre pecíolos (esquerda) e sintoma tipo ‘cajado de pastor’(direita, imagem Carregal,L.H.P.S.).

Quando os pecíolos são incubados por 24 – 72 h, a 25oC, em câmara úmida, ocorre a formação abundante de acérvulo e da esporulação observados ao microscópio estereoscópio (Fig. 4).

Figura 4. Acérvulos de Colletotrichum truncata com setas e abundante esporulação.

Em preparações microscópicas das frutificações são visualizadas as setas e os conídios de C. truncata (Fig. 5).

Figura 5. Acérvulos de Colletotrichum truncata com setas e detalhe dos conídios.

Os conídios (Fig. 5) mediram 2,45 x 26,37 µm de comprimento.

II – Peritécios de Glomerella sp.

Nos tecidos senescentes é observada um segundo tipo de frutificação: peritécios do gênero
Glomerella, distribuídos também ao acaso (Fig. 6).

Figura 6. Alta densidade de peritécios de Glomerella sp. em pecíolos senescidos seguindo também distribuição ao acaso.

Mantidos em câmara úmida, observa-se ao microscópio estereoscópio, a liberação de ascas e de ascosporos através dos opérculos dos peritécios formando um pequeno depósito de coloração creme (Fig. 7).

Figura 7. Cirros de esporos formados pela liberação de ascosporos através dos opérculos dos peritécios de Glomerella sp.

Em preparações para exame ao microscópio ótico são visualizados o ‘centrum’ do peritécio e ascas com ascosporos. Os ascosporos são hialinos, asseptados, oblongos medindo 15.7 – 6.7 micra (Fig. 8).

Figura 8. Centrum do peritécio de Glomerella sp., ascas com ascosporos e detalhe da asca e de um ascosporo

Dentro do gênero Glomerella a literatura cita duas espécies ocorrendo em soja: Glomerella glycines e G. truncata. Como a espécie predominante é Colletotrichum truncata, é possível que a espécie ocorrente no Rio Grande do Sul seja Glomerella truncata, forma perfeita, teleomórfica ou sexual de C. truncata.

Considerações finais

Na safra 20/21, a morte precoce e queda de pecíolos atingiram até o quinto nó da haste da soja. Trata-se de mais uma causa de desfolha diferente da causada pela ferrugem asiática da soja.

Apesar da antracnose ser uma doença comum em soja não se encontrou na literatura consultada informações sobre essa fase da doença.

Como primeira atividade de pesquisa sugerida para esse quadro sintomatológico é a quantificação de seus danos.

Literatura consultada

Armstrong-Cho, C.L.; Banniza, S.. Glomerella truncata sp. nov., the teleomorph of Colletotrichum truncatum. doi: 10.1016/j. Mycological research.2006.06.002. Epub 2006 Aug8. 2006 Aug;110 (Pt 8):951-6, 2006.

Dias, M.D.; Dias-Neto, J.J.; Santos, M.D.M.; Formento, A.N.; Bizerra, L.V.A.S.; Fonseca, M.E.N.; Boiteux, L.S.; Café-Filho, A.C. Current Status of Soybean Anthracnose Associated with Colletotrichum truncatum in Brazil and Argentina.

Menat,J.; Cabral, A.L.; Vijayan, P.; Wei, Y.; Banniza, S. Glomerella truncata: another Glomerella species with an atypical mating system. Mycologia. 2012 May-Jun;104(3):641-9. doi: 10.3852/10-265. Epub 2012 Jan 5.PMID: 22223174. Plants (Basel). 2019 Oct 29;8(11):459. doi:10.3390/plants8110459.PMID: 31671821.

Yang, H.C.; Hartmann, G.L. Antthracnose. IN: Compendium of soybean diseases and pests. Ed. Hartmann et al. The American Phytopathological Society, St. Paul, p. 31-34, 2015.

“Esta é mais uma contribuição científica do Instituto Agris em prol da sojicultura gaúcha”

Fonte: Instituto Agris, Pesquisa e Consultoria Agrícola Ltda.

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