As pragas podem ocorrer desde a emergência até a colheita dos grãos. Esses insetos podem ser caracterizados pelo local de ataque, como pragas que causam danos nas raízes, nos nódulos, nas plântulas, nas folhas, nas hastes, nas vagens e nos grãos. Assim, pode-se perceber que a soja está vulnerável a ataques durante todo seu ciclo.

As lagartas e os percevejos são pragas primárias, ou seja, apresentam maior ocorrência e potencial de dano que mosca-branca, ácaros e tripes, que são consideradas pragas secundárias.

Figura 1. Ocorrência das principais pragas da soja durante todo seu ciclo.

Fonte: Adaptado de Aegro.

LAGARTA-FALSA-MEDIDEIRA

A lagarta-falsa-medideira é considerada uma praga polífaga de grande ocorrência no Brasil.  Apesar de possuir diversos hospedeiros, como a cultura da soja, algodão, feijão, tomate, girassol e fumo, a lagarta possui preferência e melhor adaptação pela cultura da soja, ocasionando danos econômicos desde o plantio até a colheita.

As lagartas possuem como característica a forma de locomoção, pois devido à presença de apenas dois pares de pernas abdominais, mais o par de pernas caudal, se locomovem como se estivessem “medindo palmos” (o que remete ao nome comum).

Figura 2. Características e danos de Chrysodeixis includens.

Fonte: PROMIP, 2019.

CICLO DE DESENVOLVIMENTO

O ciclo de desenvolvimento do inseto (ovo-adulto) dura em torno de 27-34 dias. Dessa forma, são desenvolvidas 12 gerações por ano. As fêmeas ovipositam de forma isolada e preferem a parte abaxial das folhas.

Figura 3. Ciclo de desenvolvimento de C. includens.

Fonte: PROMIP, 2019.

Os adultos podem ser caracterizados por possuírem asas dianteiras de cor marrom e detalhes prateados. Ainda, possuem longevidade de no máximo duas semanas.

Figura 4. Adulto de C. includens

Fonte: PROMIP, 2019.

A praga era considerada como um problema secundário nas lavouras por ser controlada naturalmente por parasitoides e fungos entomopatogênicos. No entanto, por conta de condições climáticas favoráveis, desequilíbrio ecológico decorrente do uso indiscriminado de inseticidas, uso de fungicidas que acarretaram em morte dos inimigos naturais e repetição dos mesmos mecanismos de ação, a partir da safra de 2003 a praga ganhou atenção e, hoje, causa grandes prejuízos nas lavouras de soja (CARVALHO et al. 2012).

MONITORAMENTO

Os lepidópteros em geral (com exceção da Helicoverpa armigera) apresentam nível de ação quando houver 30% de desfolha na fase vegetativa e 15% na fase reprodutiva. O monitoramento deve ser realizado semanalmente através do pano de batida. No momento de aplicação se deve levar em consideração os princípios ativos e também seu custo, além de conciliar ferramentas do MIP.

De acordo com SOUZA et al. (2018), o controle mais rentável pode ser observado até o 3º instar devido a maior susceptibilidade desses indivíduos, quando mais novos, em absorver inseticidas e também por precisarem de uma baixa concentração do princípio ativo para um controle eficiente.

DANOS

Os danos quando as lagartas são jovens (1º e 2º instar), não são considerados nocivos, pois as lagartas apenas raspam as folhas. No entanto, a partir do 3º instar, a raspagem das folhas é mais profunda e com maior intensidade, reduzindo a área fotossintética.

O dano característico pode ser percebido através da alimentação da praga, em que esta deixa apenas as nervuras do folíolo, atacando apenas o limbo foliar. Assim, as folhas apresentam um aspecto rendilhado (PROMIP, 2019).

Figura 5. Danos de C. includens

Fonte: Mol Insect Lab/UFSM.

CONTROLE BIOLÓGICO

As lagartas podem ser controladas através de parasitoides de ovos do gênero Trichogramma e uso de micro-organismos entomopatogênicos (Beauveria bassiana, Bacillus thuringiensis).

Existem diversas vantagens do uso dessa tecnologia, como:

  • eficiência de controle;
  • facilidade de multiplicação;
  • dispersão;
  • produção em laboratório e aplicação a campo (EMBRAPA, 2013).

A utilização de fungicidas, principalmente para controle de ferrugem, reduziu a ocorrência natural de fungos entomopatogênicos, estes que eram os responsáveis pela mortalidade natural da praga (IRAC, 2016). O controle biológico deve ser realizado de forma integrada, já que possui menor eficiência e controle mais lento (PROMIP, 2019).

Figura 6. Lagarta-falsa-medideira parasitada

Fonte: PROMIP, 2019.

TECNOLOGIA Bt

A tecnologia com a proteína Cry1Ac pode ser usada no controle de C. includens. Estudos relatam que a lagarta falsa-medideira apresenta elevada sensibilidade e baixa frequência do alelo de resistência à proteína Cry1Ac (IRAC, 2016). Durante os anos de teste (2009-2015), foram estabelecidas 2 dietas com concentrações de proteína Cry1Ac. As dietas com concentração de 5,6 μg Cry1Ac mL – 1, causaram mortalidade de 88,2 a 99,89%. A segunda, com concentração de 18 μg de Cry1Ac mL – 1, causaram mortalidade quase completa dos insetos testados. As duas concentrações foram utilizadas desde o lançamento comercial da soja Bt no Brasil (safra 2013/14).

Trabalhos realizados por YANO, et al. (2016), em seis safras agrícolas, mostram a eficiência de controle e a suscetibilidade da lagarta-falsa-medideira à tecnologia Bt, em diferentes regiões do Brasil. Podemos perceber que qualquer mudança na susceptibilidade pode ser indicativa da evolução inicial da resistência (YANO, et al. 2016).


Veja também: Tecnologia Bt – Importância e cuidados na sua utilização. 


Tabela 1. Mortalidade de C. includens com utilização de diferentes concentrações de proteína Cry1Ac, nas safras 2009/10 e 2014/15 (entre parênteses o número de insetos testados).

A tecnologia proporciona rápida parada alimentar dos insetos e reduz as perdas de desfolha.

CONTROLE QUÍMICO

No Brasil existem 15 produtos registrados para a lagarta Chrysodeixis includens na cultura da soja (AGROFIT, 2020). O uso frequente dos mesmos inseticidas como piretroides, organofosforados e carbamatos, resultou em uma redução de eficiência no controle da praga e demais lagartas. De acordo com DONG et al. (2014), o grupo dos piretroides além de ser um dos mais usados é o que possui um alto número de relatos de resistência.

Produtos com grupos químicos mais recentes, como benzoilureias, espinosinas e diamidas, também apresentam redução da eficiência de controle (PROMIP, 2019). Entre os grupos químicos registrados para a praga, estão a benzoilureia, antranilamida, espinosinas, metilcarbamato de oxima, diacilhidrazina, análogo de pirazol e avermectina (AGROFIT, 2020).

O grupo químico das avermectinas composto pelo ingrediente ativo benzoato de emamectina foi recentemente registrado para o controle de C. includens. O modo de ação ocorre nos receptores do GABA, forçando o fluxo de cloro para o interior da célula. Com isso, resulta-se em rupturas dos impulsos nervosos e paralisia da praga, levando o inseto a morte pela inatividade alimentar. A intoxicação ocorre por contato e ingestão, sendo essa última a principal forma de causa da morte. Este produto tem registro para lepdopteros na soja como C. includens, H. armigera e S. eridania. Em trabalhos realizados por NUNES et al. (2019), relataram que C. includens possuem alta suscetibilidade à benzoato de emamectina.

Segundo SOUZA et al. (2018), deve-se controlar a praga até o terceiro instar devido a maior susceptibilidade quando mais novos em absorver os inseticidas e também por precisarem de doses baixas para obter eficiência de controle.

Ainda, relataram que 9 e 12 dias após o tratamento, os ingredientes ativos Benzoato de Emamectina, Metomil + Novalurom, Indoxacarbe, Bifentrina + Carbosulfano, Lambda-Cialotrina + Clorantraniliprole, Clorfenapir, Espinetoram apresentaram estatisticamente maior eficiência de controle tanto para lagartas pequenas quanto para grandes (Tabela 2).

Tabela 2. Eficiência média de princípios ativos testados para controle de C. includens (Lepidoptera: Noctuidae) na cultura da soja.

Figura 7. Ganho de eficiência econômica dos princípios ativos para controle de lagartas < e > que 3° instar de C. includens na cultura da soja.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A lagarta-falsa-medideira é uma praga que gera custos de controle para o produtor. Dessa forma, deve-se realizar o monitoramento através de panos de batida a partir da fase vegetativa até a colheita. Para o controle químico, deve-se levar em consideração aplicações de produtos que sejam registrados para a cultura e, preferencialmente, deve-se rotacionar os mecanismos de ação a fim de evitar a resistência.

Ainda, deve-se considerar ferramentas do MIP em conjunto com o controle químico, como o uso de controle biológico, tecnologia com plantas Bt, monitoramento semanal, aplicações com fungicidas seletivos e uso racional de princípios ativos.


Confira também: As 10 principais pragas da soja Brasil


 

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REFERÊNCIAS

AGROFIT. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Disponível em: < http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons >. Acesso em: 10.03.2020

DONG, Ke et al. Molecular biology of insect sodium channels and pyrethroid resistance. Insect biochemistry and molecular biology, v. 50, p. 1-17, 2014.

EMBRAPA. Controle Biológico de Insetos-Praga na Soja. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/102097/1/cap.-8.pdf >. Acesso em: 12.03.2020

IRAC. Soja Bt: tecnologia eficaz para o manejo da lagarta falsa-medideira. Disponível em: < https://www.irac-br.org/single-post/2016/07/19/Soja-Bt-tecnologia-eficaz-para-o-manejo-da-lagarta-falsamedideira>. Acesso em: 12.03.2020

NUNES, Naiara R. et al. Linha Básica de Suscetibilidade de Chrysodeixis includens (Walker,[1858])(Lepidoptera: Noctuidae) a Benzoato de Emamectina. Embrapa Agrossilvipastoril-Nota Técnica/Nota Científica (ALICE), 2019.

MOSCARDI, F. et al. O controle biológico das pragas da soja. Disponível em: < https://www.esalq.usp.br/visaoagricola/sites/default/files/va05-fitossanidade03.pdf>. Acesso em: 12.03.2020

PROMIP. Lagarta-falsa-medideira na cultura da soja. Disponível em: < https://promip.agr.br/lagarta-falsa-medideira-cultura-soja/>. Data de acesso: 10.03.2020

SOUZA, Lara Moreira et al. EFICIÊNCIA ECONÔMICA DE INSETICIDAS SOBRE Chrysodeixis includens NA CULTURA DA SOJA. REVISTA INTERDISCIPLINAR DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO-RevInt, v. 6, n. 1, p. 332-338, 2018.

YANO, Silvia AC et al. High susceptibility and low resistance allele frequency of Chrysodeixis includens (Lepidoptera: Noctuidae) field populations to Cry1Ac in Brazil. Pest management science, v. 72, n. 8, p. 1578-1584, 2016.

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