Para a obtenção de boas produtividades de soja, é fundamental que os nutrientes requeridos pelas plantas sejam fornecidos em quantidades suficientes para que a planta possa expressar seu potencial produtivo, sem limitações em função de deficiências nutricionais. Dos macronutrientes, o mais requerido pela soja é o nitrogênio (N), o qual felizmente é fornecido às plantas por meio do processo simbiótico entre plantas e bactérias fixadoras de nitrogênio, que resulta na fixação biológica da N (FBN).
A formação dos primeiros nódulos da FBN pode ser visualizada a partir de cinco a oito dias após a emergência da soja. Após o período inicial da formação dos nódulos, a nodulação e a fixação do N2 se intensificam até o período da formação dos legumes.
Ao analisar a raiz de soja, é importante verificar também o tamanho dos nódulos, sendo desejável nódulos com tamanho igual ou superior a 2 mm. Durante o florescimento da soja, uma planta bem nodulada deve apresentar em média de 15 a 30 nódulos ou 100 a 200 mg de nódulos secos por planta (Hungria; Campo; Mendes, 2001).
Segundo Hungria; Campo; Mendes (2001), os nódulos também podem permanecer ativos durante o período de enchimento de grãos da soja, quando então inicia-se o processo de senescência, podendo ser observada a alteração da coloração da leg-hemoglobina para tons de esverdeado ou marrons.
Tendo em vista que o período de enchimento de grãos é onde ocorre o maior acúmulo e requerimento de nutrientes pela soja, a necessidade de se fornecer N para a soja durante essa fase via adubação, é frequentemente questionada em função da redução da capacidade da FBN em fornecer o nitrogênio para a soja durante esse período.
Entretanto, além dos resultados técnico, é preciso avaliar a viabilidade da aplicação de fornecimento na soja durante o período reprodutivo, seja utilizado fertilizantes nitrogenados sólidos ou líquidos. Avaliando a produtividade de soja após a complementação de N em fase reprodutiva da cultura, Kappes (2021) observou resultados positivos, mas que não demonstram expressiva contribuição da adubação da soja com N, na produtividade da cultura (Figura 1). Conforme resultados obtidos pelo autor, até a dose de 90 kg ha-1 de N, observou-se aumento da produtividade da soja, entretanto, não em valores expressivos.
Figura 1. Produtividade de soja em resposta às doses de N via ureia no estádio R5.3 em solos de textura média e muito argilosa.

Segundo Kappes (2021), considerando a necessidade de 80 kg de N para a produção de 1,0 tonelada de grãos e a baixa eficiência de uso do fertilizante nitrogenado (no máximo 50%), para uma produtividade de 3,5 t ha-1 e um preço médio de US$ 601,23 por tonelada de ureia (INDEX MUNDI, julho de 2022), tem-se que as aplicações de 90 kg ha-1 de N representariam apenas 16,0% da necessidade da cultura, a um custo de aproximadamente US$ 108,22 por hectare, sem contar o custo de transporte e a aplicação. Esses números são um bom exemplo do risco econômico que o agricultor assume ao aplicar este insumo na cultura soja.
Resultados similares foram observados por Buratto et al. (2018) avalizando a aplicação foliar de nitrogênio na soja em diferentes fases no período reprodutivo da cultura. Conforme dados obtidos pelos autores, a aplicação foliar de nitrogênio nos diferentes estádios do período reprodutivo da soja não expressou diferença significativa para as variáveis Massa de 100 grãos (M100) e Proteína Bruta nos Grãos (PB), sendo que os resultados observados não demonstram expressiva contribuição da adubação foliar no aumento da produtividade da soja.
Tabela 1. Efeito das épocas de aplicação de N na presença e ausência de inoculante sobre a massa de grãos por vaso (MG), massa de 100 grãos (M100), proteína bruta no grão (PB) e acúmulo de N na parte aérea (AN).

Dessa forma, levando em consideração a viabilidade da aplicação de nitrogênio na soja durante o período reprodutivo da cultura e os resultados proporcionados pela técnica, pode-se dizer que é mais plausível investir na boa inoculação e coinoculação da cultura do que na adubação pós-emergente da soja com nitrogênio.
Veja mais: Como a coinoculação pode aumentar a produtividade da soja?
Referências:
BURATTO, W. et al. APLICAÇÃO FOLIAR DE NITROGÊNIO NA SOJA EM DIFERENTES FASES FENOLÓGICAS E INOCULAÇÃO COM Bradyrhizobium japonicum. Nativa, Sinop, v. 6, n. 4, p. 333-337, jul./ago. 2018. Disponível em: < https://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/nativa/article/view/5227 >, acesso em: 13/10/2022.
HUNGRIA, M.; CAMPO, R. J.; MENDES, I. C. FIXAÇÃO BIOLÓGICA DE NITROGÊNIO NA CULTURA DA SOJA. Embrapa, Circular Técnica, n. 35, 2001. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CNPSO/18515/1/circTec35.pdf >, acesso em: 13/10/2022.
INDEX MUNDI. Preços das mercadorias: Ureia, 2022. Disponível em: < https://www.indexmundi.com/pt/pre%C3%A7os-de-mercado/?mercadoria=ureia&mercadoria=ureia >, acesso em: 13/10/2022.
KAPPES, C. COMPLEMENTAÇÃO DE NITROGÊNIO EM FASE REPRODUTIVA DA CULTURA DA SOJA EM LATOSSOLOS DO CERRADO. Revista Cultura Agronômica, Ilha Solteira, v.30, n.2, p.109-122, 2021. Disponível em: < https://ojs.unesp.br/index.php/rculturaagronomica/article/view/2446-8355.2021v30n2p109-122/pdf >, acesso em: 13/10/2022.